O avanço do uso da inteligência artificial trouxe diversos benefícios, mas o consumo de recursos naturais não é um deles. Isso porque, para alimentar e refrigerar os data centers, é preciso destinar uma quantidade significativa de eletricidade e água. Para tentar solucionar - ou ao menos minimizar o problema - a nova tentativa é na energia nuclear.

A opção surge em um momento crítico para os recursos naturais, que já demonstram dificuldade de suportar as redes utilizadas pela IA. E a perspectiva é de que essa situação só piore. Segundo o relatório Electricity 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda global dos data centers, IA e do setor de criptomoedas pode dobrar até 2026.

Nesse cenário, a energia gerada pelas usinas nucleares pode ser uma boa opção para o mercado de tecnologia.

Para Jonathan Hinze, presidente da UxC, empresa de análise do mercado de combustível nuclear, os data centers e IAs precisam de uma fonte de energia constante e estável, que não vá contra as metas de baixa emissão de carbono das companhias que lideram os projetos. “É por isso que a energia nuclear é uma combinação perfeita para eles", afirmou o executivo em entrevista ao Market Watch.

A Microsoft foi a primeira big tech a perceber essa possibilidade. A companhia fechou um acordo de 20 anos para comprar energia de uma usina nuclear inativa que será reativada, a Three Mile Island, localizada na Pensilvânia. A usina está “aposentada” desde 1979, quando sediou o pior acidente nuclear da história dos Estados Unidos.

No anúncio, Joe Dominguez, CEO da Constellation, parceira da Microsoft no negócio, afirmou que a energia nuclear é a única fonte disponível que é ecologicamente correta e confiável o suficiente para atender às necessidades das gigantes de tecnologia.

No comunicado, ele constatou que fontes de energia que dependem de condições climáticas, como a eólica e a solar, podem não ser adequadas para a demanda consistente exigida por gigantes do setor.

Apesar de parecer uma luz no fim do túnel, especialistas dizem que o desempenho esperado por essas empresas de tecnologia pode não ser atingido no curto prazo, já que depende dessas usinas “aposentadas”.

Além disso, as empresas devem enfrentar grandes obstáculos regulatórios, além de potenciais problemas no fornecimento de combustível. Isso sem levar em consideração a possibilidade de acidentes e problemas ambientais, que nunca estão fora do jogo.

“Ninguém fez isso antes”, afirmou Kate Fowler, líder global de energia nuclear da Marsh, corretora de seguros de energia e consultora de riscos, à Reuters. “Então vão surgir desafios ao longo do caminho”, disse Fowler.