A notícia sobre a saída do CEO da Renault pegou os investidores de surpresas e resultou numa forte queda das ações nesta segunda-feira, 16 de junho, diante dos questionamentos a respeito do futuro da montadora francesa, que passou os últimos anos em reestruturação.
Por volta das 9h28, as ações da Renault caíam 7,08% na Bolsa de Paris, a € 40,05, após a companhia anunciar, no domingo, 15 de junho, que Luca De Meo deixará o comando da empresa no próximo mês, após cinco anos no comando.
Segundo fontes ouvidas pela Bloomberg, De Meo, 58 anos, está trocando a montadora francesa pelo grupo de artigos de luxo Kering, dono da marca Gucci. A notícia fez as ações da Kering subirem 10,7%, a € 190,60.
Antes dele, a Renault perdeu seu então CFO. Em março, Thierry Piéton trocou a montadora pela fabricante de produtos médicos Medtronic, para onde foi trabalhar como diretor financeiro.
A saída de De Meo representa um duro golpe para a Renault, que vinha demonstrando sinais de recuperação, mesmo diante dos enormes desafios enfrentados pela indústria automotiva global, oriundos desde o ritmo incerto da transição para carros elétricos, em que novas marcas da China estão à frente, até a escalada da guerra comercial no mundo.
De Meo assumiu o comando da Renault em meados de 2020, num momento de crise da montadora, tendo anotado um prejuízo recorde no primeiro semestre e com planos de demitir quase 15 mil funcionários.
O executivo colocou em prática um plano de reestruturação batizado de “Renaulution”, que, em linhas gerais, envolve mudar a estratégia de volume para valor. O plano foi dividido em três fases. Uma das delas, chamada de “ressurreição”, prevista para se estender até 2023, tinha como foco recuperar a geração de caixa e margens.
A segunda fase, prevista para ser concluída até o fim deste ano, envolvia a renovação da linha de produtos. E a terceira, que começou neste ano, prevê focar o modelo de negócios em mobilidade, tecnologia e energia, “posicionando o Grupo Renault em um lugar de destaque na cadeia de valor das novas mobilidades”, segundo a companhia.
Em meio a essa reestruturação, De Meo também teve de lidar com a tensão na aliança que a Renault tem com a Nissan desde 1999, abalada entre outros fatores pelos problemas que Carlos Ghosn teve com a montadora japonesa.
Em relatório citado por reportagem da Bloomberg, o analista da Jefferies, Philippe Houchois, diz que a Renault fica “sem líder num momento em que o grupo está para divulgar um novo plano estratégico e reduzir ainda mais sua aliança com a Nissan”.
No fim de março, a Renault e a Nissan modificaram os termos do acordo da aliança, reduzindo a participação cruzada mínima de 15% para 10%, de modo a dar mais flexibilidade às partes.