Paris — Pouco antes do início dos desfiles da badalada Paris Fashion Week, na semana passada, um evento agitou a capital francesa, atraindo celebridades internacionais, como a atriz Catherine Deneuve: a inauguração da RH Gallery. Localizada na avenida Champs-Elysées, a loja de decoração de luxo com livraria, restaurantes e bar já se tornou uma atração na cidade.
A empresa da Califórnia vem ampliando suas atividades na Europa e segue a mesma estratégia adotada para a expansão de seus negócios nos Estados Unidos: edifícios com arquitetura imponente em endereços prestigiosos, com diferentes espaços de lifestyle com curadoria exclusiva. O visitante percorre o local com curiosidade e a sensação de que não está em uma loja de móveis propriamente dita. Obras de arte decoram vários ambientes.
A entrada no espaço parisiense já é, por si só, uma experiência. Após passar por grandes portões dourados na fachada da Champs-Elysées, é preciso atravessar uma alameda de sebes talhadas com precisão que leva a um jardim nos fundos com sofás e mesas. Só então se vê a porta escultural com medalhões esculpidos que se abre para a loja.
A primeira coisa que o visitante descobre ao entrar é uma reprodução do desenho Homem de Vitrúvio de Leonardo da Vinci. Em seguida, há a livraria de arquitetura e design, com obras antigas e contemporâneas. Em exposição, uma edição de 1521 do De Architectura, o tratado de arquitetura da Antiguidade Clássica de Marcus Vitruvius, que inspirou o desenho de Da Vinci e também os princípios orientadores da empresa de decoração: harmonia, simetria e proporção perfeita.
No local, funcionava antes uma boutique da marca de moda americana Abercrombie & Fitch. O prédio, concebido nos anos 1980 pela família Dassault (da indústria aeronáutica, fabricante dos caças Rafale) já possuía originalmente um átrio que atravessa o centro do edifício e uma impressionante escadaria com muito dourado — dos corrimões aos medalhões de latão que a decoram, e degraus de ônix branco. No total, são 3,9 mil metros quadrados e sete andares.
“Não guardamos nada da Abercrombie porque eles não deixavam entrar nenhuma luz. Mantivemos o átrio e abrimos todas as janelas”, contou Gary Friedman, CEO da RH, Gary Friedman, à imprensa na apresentação da loja. Para ele, a butique parisiense é a “Mona Lisa” do grupo — “o melhor trabalho feito até hoje”.
Quando Friedman assumiu em 2001 a RH (antes conhecida como Restoration Hardware), a empresa beirava a falência. O faturamento no ano passado foi de US$ 3,2 bilhões. As vendas no segundo trimestre deste ano, encerrado em agosto, de quase US$ 900 milhões, cresceram quase 12% na comparação com igual período do ano anterior.
Self-made man de origem humilde, Friedman trabalhou como vendedor da Gap até se tornar gerente regional da marca. Ele também comandou empresas do setor de decoração antes de transformar a RH em uma referência de luxo nesse segmento.
Vista espetacular
Além de móveis e objetos de decoração, sem preços expostos, é possível na RH, tanto para particulares quanto para profissionais, realizar projetos de A a Z. No jardim da loja parisiense, um espaço todo de vidro reúne a equipe de designers e arquitetos de interiores da marca.
As coleções vendidas na RH reúnem peças de grandes nomes do design e também criadas por artesãos selecionados a dedo. Mesmo os móveis já prontos podem mudar de tamanho, cores, tecidos ou estrutura. Há a possibilidade de se tornar membro, o que garante descontos nos valores.
A estratégia é não ser apenas uma loja. A hospitalidade é uma parte central da estratégia da empresa, embora nem todas as unidades tenham restaurantes. A ideia é que qualquer um possa entrar em seus espaços, admirar a arquitetura do prédio, as obras de arte e os objetos de design à venda ou ainda ter uma experiência gastronômica.
Na unidade parisiense, são três restaurantes. No Jardim RH, é possível almoçar ou jantar sob uma cúpula de vidro inspirada no museu do Grand Palais. O cardápio é eclético e vai de sanduíches (a partir de € 30) a frutos do mar, incluindo até frango no espeto.
No menu do Le Petit RH há especialidades de caviar, saladas e pequenos pratos. Os coquetéis são elaborados por um ex-barman do hotel Ritz.
O restaurante do rooftop tem uma vista espetacular para a Torre Eiffel. “Ninguém achava que poderíamos usar o terraço, até então inutilizado, porque não tinha elevador”, contou Friedman.
Além de ter de cavar um poço, a estrutura para abrigar o elevador bloquearia a vista do monumento. Foi criado então um elevador de latão e vidro que surge de uma escotilha no chão e depois desaparece novamente.
A RH iniciou sua expansão na Europa em 2023, com a abertura de uma loja na Inglaterra, em um castelo do século 17 na sofisticada área de Cotswolds, no sudoeste do país, próxima a Oxford.
O processo se intensificou com as inaugurações, no ano passado, em Bruxelas, Madri, além do lançamento da RH Dusseldorf e RH Munique, na Alemanha. No total, são 86 unidades. No próximo ano, será a vez de Londres, no bairro de Mayfair, e Milão.
A marca ainda se diversificou, abrindo, em 2022, um pequeno hotel em Nova York com apenas seis quartos, três suítes e uma residência com diárias a partir de US$ 2 mil.
A comunicação da empresa também não segue a tendência geral. A companhia não tem contas nas redes sociais e prefere catálogos com produção sofisticada. Como diz o CEO: “A confidencialidade e a autenticidade se tornaram um luxo.”