Bastaram apenas quatro anos para a nstech alcançar uma receita recorrente de R$ 1 bilhão. Fundada em 2020 pela Tarpon e pela Greenbridge, a empresa de tecnologia logística investiu cerca de R$ 1,8 bilhão para cumprir esse trajeto, o que, entre outros atalhos, incluiu nada mais nada menos que 35 M&As.
Para “digerir” tantos acordos, a companhia fez, porém, um pit stop em sua tese inorgânica no primeiro semestre de 2025. Agora, está reabastecendo esse tanque com a sua primeira aquisição no ano: a compra da Gasola, startup de gestão e automação da compra de combustível por transportadoras.
Antecipada com exclusividade ao NeoFeed, a aquisição envolve uma parcela em dinheiro – cujo valor não foi revelado – e troca de ações. Nesses termos, Ricardo Monosowski, fundador da Gasola, passa a ser sócio da nstech e seguirá à frente da operação, bem como o time de executivos da startup.
“Hoje, quando se decompõe o custo do transporte, 35% estão ligados a combustível”, diz Vasco Oliveira, fundador e CEO da nstech. “Já acompanhávamos a Gasola desde o início e, de todas as soluções que avaliamos, a deles era a mais alinhada com o que acreditamos para resolver esse problema.”
O primeiro contato entre as duas empresas veio em 2021, um ano após a fundação da Gasola. Na época, Monosowski foi apresentado a Oliveira. E, desde então, ele diz ter enviado “religiosamente” relatórios mensais sobre a startup para o seu agora sócio, que confirma essa persistência do empreendedor.
“Eu já conhecia a nstech, que também estava começando, e já tinha entendido o potencial da tese deles”, afirma Monosowski. “A Gasola vem crescendo bastante, mas acredito que, sem a nstech e o seu ecossistema, talvez demorássemos 10 anos mais para chegar aonde queremos.”
O destino almejado também envolve cifras bilionárias. Nas estimativas da dupla, o mercado endereçável da Gasola é de cerca de R$ 1,7 bilhão. No caso da operação como um todo da nstech, essa soma já chega a R$ 20 bilhões no Brasil e a aproximadamente R$ 50 bilhões na América Latina.
A Gasola é a mais nova peça no quebra-cabeças da nstech para ampliar sua participação nesse bolo e dar mais um passo em seu roteiro para se posicionar como uma one stop shop de tecnologia para logística.
Nesse sentido, a startup será embarcada na tese de consolidação de um hub logístico da companhia, um braço que, até então, já contava com linhas como conta digital, crédito e a gestão de pagamentos de frete e de vale-pedágio.
O modelo da Gasola se baseia na conexão dos seus clientes - majoritariamente transportadoras - com 1,8 mil postos de combustíveis distribuídos pelo País. E busca ser uma alternativa mais barata na comparação com os cartões de frota, bastante comuns no setor.
Na prática, a empresa elimina as taxas elevadas atreladas ao processo tradicional, que acabam pesando na conta repassada aos clientes. Segundo Monosowski, os usuários de cartões de frota pagam, em média, 25 centavos a mais por litro de combustível.
“Esses cartões consomem praticamente metade da margem de venda dos postos”, diz Monosowski. “E esses estabelecimentos têm um problema de fluxo de caixa, pois compram o combustível à vista, mas só recebem os valores da venda com trinta dias de prazo.”
A Gasola se propõe a resolver os problemas nas duas pontas dessa equação. A partir de um saldo depositado pelas transportadoras, a plataforma automatiza os pagamentos à vista, em postos cadastrados na sua “rede”. A transação é feita por meio do aplicativo da startup.
“Como aumentamos muito a margem do posto, ele consegue repassar esse ganho para o cliente”, afirma. “Na média, nós reduzimos 40 centavos por litro em relação ao cartão de frota.”
Entre outras funcionalidades, a ferramenta coleta automaticamente as notas fiscais de cada abastecimento. E permite que a transportadora gerencie em tempo real, o consumo e o desempenho de cada motorista em sua frota.
A Gasola já movimenta mais de R$ 1 bilhão anualmente – a receita da startup mescla um take rate desse volume de transações e as assinaturas no modelo de software as a service. Na ponta dos clientes, a companhia atende aproximadamente 300 grupos de transportadoras.
“A grande oportunidade aqui é acelerar a evolução da Gasola, que é um bebê que ainda nem fala”, afirma Oliveira. “Para se ter uma ideia desse potencial, a nstech tem hoje uma base de mais de 2,5 mil postos, por meio da e-Frete, outra aquisição nossa, e aproximadamente 60 mil transportadoras clientes.”
Com pouca sobreposição entre as carteiras da nstech e a Gasola, a exploração das vendas cruzadas nessas duas bases é um caminho natural. Assim como a perspectiva de reduzir ainda mais os preços junto aos postos de combustíveis, em função do aumento de poder de barganha inerente à aquisição.
O acordo também sinaliza que, após um hiato, a nstech voltará a acelerar em sua jornada de M&As. Financiado com caixa próprio, esse movimento acontecerá em paralelo ao crescimento e ao desenvolvimento orgânico – no momento, a empresa tem cinco novos produtos no forno.
“Nós devemos fazer de três a cinco M&As por ano”, afirma Oliveira, que expõe as teses por trás desse apetite. “Pode ser um produto novo, que amplie nosso mercado endereçável ou market share, ou um ativo que expanda a operação que temos fora do Brasil, com foco na América Latina.”