Muitos especialistas colocaram o caixa eletrônico como um equipamento a caminho da extinção, assim como o telefone fixo. Afinal, com o PIX e a digitalização da economia, o dinheiro em espécie iria cair em desuso.
O PIX não para de crescer, é verdade. Mas o dinheiro em espécie segue também avançando. No fim de 2019, circulavam R$ 289 bilhões em cédulas e moedas. Em novembro do ano passado, eram R$ 327 bilhões.
Se não ruma para a extinção, o caixa eletrônico está se transformando. E a Saque e Pague, uma das rivais do Banco24Horas, está investindo R$ 200 milhões nos próximos três anos para que seu equipamento vire um “banco” e uma “loja”.
A empresa acaba de lançar sua conta digital e avança na criação de um marketplace que pretende dar novas funções ao equipamento, além de sacar e depositar dinheiro.
“O meu sonho é vender geladeira em farmácias e em postos de gasolina”, diz ao NeoFeed Givanildo Luz, CEO do Pague e Saque, empresa que tem como sócios o empresário gaúcho Ernesto Correa da Silva Filho, dono do banco Topázio, e a Stefanini.
A estratégia é baseada em um novo equipamento, que tem a metade do tamanho de um caixa eletrônico tradicional, mas precisa de um terço dos investimentos. “O potencial dessas máquinas nunca foi explorado”, diz Luz. “O nosso conceito é uma pouco diferente, tanto que o chamamos de Automated Seller Machine”.
A referência de Luz é com o nome que os caixas eletrônicos são conhecidos no jargão do setor: ATM (Automated Teller Machine), que pode ser traduzido como “máquina de caixa automático”. Em resumo: a função principal é realizar depósitos e saques em dinheiro.
Hoje, a Saque e Pague conta com 2,6 mil máquinas instaladas em 600 cidades brasileiras (a empresa também está presente no México e Colômbia com 500 máquinas). “A previsão é a de que tenhamos 400 pontos de venda com esse slims ATMs em 2024 com projeção de chegarmos a 5 mil nos próximos anos”, afirma Luz.
O alvo é levar essas máquinas para pequenos comércios, com faturamento mensal entre R$ 100 mil e R$ 300 mil. São desde postos de gasolinas, farmácias e lojas de conveniência, locais em que boa parte dos pagamentos são realizados com dinheiro em espécie.
E se, neste momento, esses dois novos negócios são incipientes, Luz acredita que eles vão ajudar a mexer os ponteiros da Saque e Pague em pouco tempo. Com a conta digital, que foi batizada de Aletha (que significa confiança em grego), o marketplace e os slims ATMs, a Saque e Pague planeja dobrar de tamanho nos próximos três anos.
Em 2023, a operação atingiu R$ 300 milhões de faturamento. Por seus caixas eletrônicos foram realizados mais de 60 milhões de transações e movimentado mais de R$ 40 bilhões (entre depósitos e saques de dinheiro).
Novos serviços financeiros
O racional da conta digital e do marketplace é criar novas linhas de receita. Hoje, a Saque a Pague ganha dinheiro de três formas. A primeira delas é um valor pago pelo varejo onde é instalado o caixa eletrônico (um dos argumentos é que esses equipamentos aumentam o fluxo de clientes na loja).
A outra fonte de receita são as tarifas cobradas dos bancos em cada operação. E, por fim, o cliente também paga pela conveniência em algumas transações, como é o caso do PIX.
Com a conta digital, que neste momento usa a infraestrutura do banco Topázio, a Saque e Pague quer “vender” serviços financeiros. A ideia não é atuar em mar aberto, mas focar nos varejistas que tenham o caixa eletrônico na loja. “A expectativa que é gere outras receitas financeiras, como empréstimo e antecipação de recebíveis”, diz Luz.
O Sudeste, Nordeste e Norte, regiões onde os parceiros financeiros da Saque e Pague não tem penetração, são os alvos preferenciais da Saque e Pague. Dessa forma, a empresa não compete diretamente com alguns de seus parceiros, que também têm conta digital.
No ano passado, a Saque e Pague testou sua conta digital em 50 negócios. Neste ano, quer chegar a mil contas digitais. E depois ir escalando aos poucos, sempre focando em pequenos varejistas.
Além dos serviços tradicionais de uma conta digital, a ideia é contar com ofertas de parceiros aos lojistas. Um exemplo de um serviço já oferecido o de microseguros, em parceria com a insurtech IZA.
A lógica é a mesma para o marketplace, que está começando a ser testado. A ideia é utilizar as milhões de pessoas que usam os caixas eletrônicos da Saque e Pague para fazer uma oferta de compra de um produto ou serviço.
Nesse momento, a Saque e Pague faz um teste com a Sicredi, em que a oferta de produtos tem uma jornada que é finalizada no marketplace da parceira. Vários modelos estão sendo estudados, que sempre incluem uma comissão por transação.
De acordo com Luz, as pessoas que usam os ATMs podem receber um QR code para realizar uma compra com desconto no marketplace do parceiro. Ou até mesmo realizar a compra na “boca” do caixa eletrônico. “Como estamos em um projeto-piloto há diversas possibilidades que podemos explorar”, diz o CEO da Saque e Pague.
Não são poucos os desafios da Saque e Pague para fazer essa estratégia decolar. A mais visível é a competição direta com o Banco24Horas, que está em 1.000 cidades e conta com mais de 24 mil caixas eletrônicos.
Mas, ao entrar em novas áreas, a Saque e Pague passa a ter outros competidores. Com a conta digital, passa a disputar terreno com as fintechs. Mesmo que o alvo não seja as pessoas físicas, não faltam “bancos digitais” voltados às PJs. Em especial, os pequenos negócios.
E, na esfera do marketplace, o segredo vai ser atrair parceiros e tornar a experiência de compra, em uma tela pequena do caixa eletrônico, fácil de ser realizada.
Sobre essas questões, Luz gosta de dizer que o cliente da Saque e Pague são as pessoas das classes C, D e E. E que esse público não tem acesso a internet de forma fácil, o que pode transformar os caixas eletrônicos em uma tela de conexão.
“Existem diversos Brasis”, afirma o CEO da Saque e Pague. “Quando você vai para o interior, o acesso ainda é precário. E existem pessoas, em cidades do Maranhão, que viajam até 50 quilômetros para ter acesso a dinheiro em espécie.”
É esse Brasil profundo que Luz acredita que pode ajudar a Saque e Pague a dobrar de tamanho.