Peça para alguém descrever uma casa pré-fabricada e, muito provavelmente, você ouvirá como resposta: construções de baixo custo, todas muito parecidas entre si, sem nenhum charme. Mas, esqueça. Não é disso que se trata. Com as inovações do ecossistema construtech, uma lufada de renovação vem demolindo antigos conceitos.
Agora chamadas de casas modulares, ganham novos contornos com projetos industrializados, com boa arquitetura, obra ágil e componíveis. Tal qual um lego, as unidades podem ser combinadas entre si e arranjadas aos gosto do cliente.
Frente a todas essas facilidades, são ideais para empreendimentos que precisam operar ou rentabilizar rapidamente.
Sob os preceitos da sustentabilidade 4.0, as casas modulares miram o mercado de luxo. Melhor, o do luxo silencioso – ou quiet luxury, como define o engenheiro João Marcello Gomes Pinto, em conversa com o NeoFeed.
A sofisticação das novas construções não está na ostentação ou no tamanho da casa, mas na rapidez da obra, no uso de materiais ecologicamente corretos, tecnologias de ponta e contato, muito contato com a natureza.
Gomes Pinto é sócio do ator Bruno Gagliasso e do publicitário Rodrigo Rivellino na Pachamama Investimentos. E o trio acaba de fazer um aporte de R$ 75 milhões na construtech Capsu.
Fundada em 2020, por Mauricio Odery e Diogo Roberte, cofundador do PicPay, a startup foca em casas modulares sustentáveis, com curadoria de design. A partir de R$ 10,5 mil o metro quadrado, as unidades são entregues 100% equipadas, com móveis, eletrodomésticos e acessórios.
“Nosso módulo tem 40 metros quadrados (m²). Dimensionamos a quantidade de módulos de acordo com os ambientes que o cliente quer. E tudo chega ao canteiro de obras já montado, transportado sobre carretas”, conta Roberte, ao NeoFeed.
É a chamada construção offsite. A casa é feita no ambiente controlado da fábrica. Nessa primeira etapa, leva-se em média 90 dias. Com a montagem, já no terreno, gasta-se mais dois. Graças ao conceito plug and play, o dono de uma casa da Capsu pode carregá-la para onde ele quiser – mais futuro do que isso é impossível.
A startup já tem duas unidades construídas - uma em Sousas, distrito bucólico de Campinas, no interior paulista, e outra em Domingos Martins, na serra capixaba.
Disponíveis para locação pelo Airbnb, ambas ainda servem para colher impressões dos hóspedes sobre itens como conforto e usabilidade dos espaços e equipamentos. Com esse retorno, os projetos, assinados por Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira, do escritório MM18 Arquitetura, estão em constante aprimoramento.
O investimento da Pachamama vai viabilizar a construção de quatro novos empreendimentos, também destinados à hospedagem. O primeiro deles, também em Campinas, deve ficar pronto ainda este ano. Os demais, na Chapada dos Veadeiros, nos Lençóis Maranhenses e na serra fluminense, estão previstos para terminar no início de 2025.
20 módulos, duas famílias
Não apenas as construtoras, mas também alguns escritórios de arquitetura vêm se dedicando às construções modulares. O paulistano UNA BV serve de paradigma para os novos tempos. Os sócios Fernanda Barbara e Fabio Valentim lançaram, em 2023, o sistema Módulo 5.5, a partir de ambientes componíveis de 25 m².
Em parceria com a CrossLam, fabricante de painéis de CLT, produzidos a partir de pinus e eucalipto de reflorestamento, o UNA BV está construindo um pavilhão para dar apoio aos usuários da pista de pouso particular de um empreendimento de luxo em Alagoas.
“Nove módulos compõem uma estrutura com lounge, varanda, banheiro, duas suítes para descanso da tripulação e escritório”, descreve Fernanda. No sistema desenvolvido por ela e Valentim, os módulos chegam desmontados, com seus componentes numerados. “Isso facilita o transporte”, explica.
Esse detalhe de concepção fez diferença em uma residência em fase de montagem no sul da Bahia. Planejada para duas famílias, a casa utiliza 20 módulos para abrigar dois núcleos completos, com três suítes, e, entre eles, um generoso bloco social compartilhado.
“Agora que pararam as chuvas e a estrada está liberada novamente, a obra deve terminar em um mês”, calcula Valentim. “É uma boa maneira de construir com agilidade em lugares remotos.”
Obra limpa e rápida
A construção civil é um dos grandes desafios rumo à economia verde. O setor responde por 38% das emissões globais de gases de efeito estufa, informam os analistas do United Nations Environment Programme, da ONU.
Além do ganho de tempo, as casas modulares reduzem os resíduos das obras e os gastos com água e energia, em comparação aos métodos tradicionais de construção.
Além disso, esses sistemas aumentam entre cinco e dez vezes a produtividade na obra, lê-se no relatório Reinventing Construction: a Route to Higher Productivity, elaborado pelo McKinsey Global Institute.
Ao adotar estruturas e painéis de fechamento de madeira engenheirada, industrializada e proveniente de espécies de reflorestamento, como a CLT, as novas casas modulares dispensam materiais poluentes, como concreto e aço.
Agora, com o planeta à beira do colapso climático, as casas pré-fabricadas voltam renovadas. Desde 2020, o mercado global de construções modulares cresce, em média, 5,75% ao ano, informa a consultoria Markets and Markets. Em 2027, deve movimentar US$ 120 bilhões.