Fazer gestão de recursos no Brasil é a arte de lidar com algumas peculiaridades da legislação ou, na falta dela, encontrar formas de mitigar as inseguranças jurídicas. São as chamadas "jabuticabas" brasileiras.
No mercado de private equity e venture capital, por exemplo, não se faz transações sem uma conta escrow, um instrumento de garantia prevista em contratos de compra e venda. A prática não é obrigatória, mas uma "exigência" do mercado.
Nela, são depositados valores para cobrir eventuais passivos não identificados ou ainda não mensurados na data da aquisição de uma empresa, como indenizações judiciais, pagamento de impostos e de acordos societários.
E é exatamente em cima dessa "jabuticaba" que a Pebay Investimentos está lançando um fundo de special situations de R$ 100 milhões, para investir em contas escrow de fundos de private equity, um mercado estimado de cerca de R$ 2,5 bilhões por ano.
“Acompanhamos esse mercado e estávamos vendo alguns gestores de private equity sofrendo com esse passivo, ao mesmo tempo em que vemos o mercado de special situations crescendo”, diz Leonardo Ribeiro, CEO da Pebay, em entrevista ao NeoFeed.
A estratégia consiste em comprar esses créditos com desconto dos fundos e gerenciar esse passivo até o seu fim. O objetivo é dar um retorno de aproximadamente 20% ao ano. O fundo possui um gestor âncora e está atraindo pessoas físicas por meio de multi family offices. Os ativos já estão encarteirados ou em negociação.
Para Ribeiro, o desenvolvimento desse tipo de investimento irá ajudar o ecossistema de private equity a ser mais eficiente. “É importante cada gestor focar no que sabe fazer. E um gestor de private equity não sabe gerir crédito", afirma Ribeiro.
Outra vantagem de vender contas escrow para um fundo de special situations, segundo Ribeiro, é que os gestores conseguem reaver os recursos mais rápido, podendo retornar o valor aos cotistas quando necessário ou usá-lo para outro investimento.
Explica-se: os recursos ficam das contas escrow ficam investidos em fundos de renda fixa ou CDBs e vão sendo liberados conforme os riscos contingentes deixam de existir, o que diminui os recursos para reinvestimentos.
E podem se tornar uma dor de cabeça para gestores de private equity quando não são liberados até o fim do mandato do fundo. Quando isso acontece, o fundo não pode ser encerrado, o que leva ao descumprimento do tempo de investimento compactuado com os investidores.
Esse é o segundo fundo da Pebay. O primeiro, o Pebay Opportunies I investe em companhias, fundos e direitos ligados à compra e venda de empresas, tanto dentro, como fora de bolsa de valores.
O negócio pricinpal da Pebay, no entanto, é sua plataforma de dados do mercado de private equity, que monitora mais de 1.400 fundos de aproximadamente 530 gestores, que tem uma capitalização total de quase R$ 500 bilhões.