O empresário Luís Felipe Neiva está com a cabeça na Lua. Não entenda errado. Isso não quer dizer que ele passe a maior parte de seu tempo divagando sobre aleatoriedades. Fundador da 2Future, holding que concentra investimentos em venture capital e no setor de alimentação, ele é um dos investidores por trás da primeira missão lunar em mais de meio século.
Neiva é um dos principais investidores da Lonestar, empresa americana fundada por Chris Stott e que tem como plano de seu negócio a construção de um data center na Lua. No dia 23 de fevereiro, a startup desembarcou a sua primeira carga de equipamentos no satélite natural da Terra.
“O investimento que a gente fez mais do que triplicou”, afirma Neiva em entrevista exclusiva ao NeoFeed. “Mas mais importante do que o dinheiro que vamos ganhar em uma eventual saída, é saber que a gente foi pioneiro em levar essa tecnologia para a Lua.
Para conseguir pousar o seu primeiro data center na Lua, a Lonestar contou com um investimento de US$ 5 milhões recebido em setembro de 2021. Neiva diz que a 2Future é uma das principais apoiadoras da rodada. Segundo o Crunchbase, a rodada foi liderada pela Scout Ventures, gestora early stage dos Estados Unidos.
Ainda neste ano, a Lonestar pretende levantar mais uma rodada de investimento. A expectativa gira em torno de uma captação de US$ 30 milhões. Neiva diz que fará follow on no negócio. “Eu já avisei ao Stott que ele não vai se livrar de mim tão cedo”, afirma Neiva. "Eu não tenho a menor vontade de buscar um exit no curto prazo.”
Enquanto se prepara para voltar a investir na Lonestar, Neiva concentra sua atenção nas outras companhias que fazem parte do portfólio da 2Future que tem como único limited partner (LP) o próprio family office de Neiva. “Não quero e não gosto de ter chefe. Quero fazer as coisas do meu jeito”, conta.
Para financiar as operações, Neiva utiliza recursos próprios adquiridos durante sua carreira. Formado em economia, ele trabalhou em uma administradora de recursos e posteriormente passou a investir em derivativos na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Em 2011, fundou a Qriar Engenharia e começou a atuar com operações de financiamento imobiliário.
Com escritórios em São Paulo, Miami e Dubai, a 2Future já investiu em 28 empresas, mas exibe apenas 12 negócios em seu site. Entre as investidas de venture capital estão One Skin, que produz cosméticos com propriedades antienvelhecimento; Gallant, que desenvolve terapias regenerativas com biotecnologia para pets; e Oura, que monitora o sono através de um anel.
A Lonestar não é a única voltada para a exploração espacial. A SpaceX, de Elon Musk, entrou na carteira da holding brasileira no ano passado, quando seu valor de mercado estava próximo de US$ 140 bilhões. Em dezembro, a companhia planejava aumentar seu valuation para US$ 175 bilhões. "Essa vai ser uma empresa trilionária", diz Neiva.
O apetite de Neiva vai também para além do espaço ou de tecnologias do momento. A 2Future investe também em algo completamente mundano: restaurantes. Os investimentos estão em Lisboa, nos estabelecimentos Guelra e O Frade. Além disso, a holding também detém participação na vinícola francesa Arnaud Boué.
Os cheques da 2Future variam de acordo com a empresa. Neiva não revela valores, mas diz que os investimentos são menores para os empreendimentos do setor de alimentação. O maior aporte feito foi de US$ 8 milhões feito em uma startup do Vale do Silício que tinha como objetivo construir a próxima geração de satélites observacionais para coletar mais dados da Terra.
Os próximos passos do investidor estão reservados, ao menos por ora, para investimentos em inteligência artificial. Neiva diz que sua holding adquiriu um terço da participação da Indigo Hive, empresa que se descreve como uma product house para a criação de negócios com o uso de inteligência artificial.
A estrela da vez
Ainda que a SpaceX seja uma gigante com potencial de valor de mercado trilionário, é a Lonestar quem rouba os holofotes do mercado – e a atenção de Neiva neste momento. A companhia fundada em 2021 tem planos ousados para fazer com que o satélite natural da Terra seja também o maior data center do planeta – ou da galáxia.
A ideia de criar um data center na Lua veio após uma provocação que Stott recebeu de alguns clientes sobre a necessidade da construção de um novo data center. “A gente avaliou montanhas, oceanos, desertos”, afirma Chris Stott, fundador e CEO da Lonestar, ao NeoFeed. “Nada parecia bom o bastante.”
Em um primeiro momento, a companhia cogitou que os data centers fossem alocados em satélites na órbita terrestre. Além do custo proibitivo para a startup, havia uma preocupação com os riscos da guarda das informações. “A Rússia já tem armas em órbita para derrubar satélites”, diz. A solução era a Lua. O problema era como chegar lá.
A solução veio com um acordo com a Intuitive Machines, responsável pelo foguete com destino à Lua. Startup americana de exploração espacial, a empresa avaliada em US$ 176 milhões corre por fora na disputa espacial contra gigantes como Blue Origin, de Jeff Bezos; Virgin Galactic, de Richard Branson; além da própria SpaceX, de Musk
Após a alunissagem, a Lonestar desembarcou o seu primeiro data center fora da Terra. O equipamento que pesa pouco mais de 1 kg e é capaz de armazenar até 8 terabytes de dados (o equivalente a memória de 8 iPhones em sua versão mais parruda) e faz o tráfego de ida e volta dos dados em cerca de três segundos.
No curto prazo, a companhia vai avaliar o funcionamento do equipamento em solo lunar. Em 2026, a companhia pretende aumentar consideravelmente a capacidade de seus data centers. A ideia é começar a armazenar dados na escala de petabytes. Um petabyte é o equivalente a 1 mil terabytes.
“Já estamos vendendo a capacidade de armazenamento desses data centers”, diz Stott. De acordo com o empresário, a companhia está testando os equipamentos na órbita lunar. A ideia é que o aporte de US$ 30 milhões pretendido para ser captado neste ano alavanque essa estratégia.