A proposta de compra de uma fatia de 17% da Hidrovias realizada pela Ultrapar, divulgada na noite de domingo, 24 de março, não chega a ser uma surpresa no mercado.
O NeoFeed já havia publicado com exclusividade, em outubro do ano passado, que a Ultrapar tinha montado, secretamente, uma posição de mais de 4% na empresa e se preparava para aumentar a fatia na Hidrovias.
A Hidrovias era um case que estava sendo estudado pelos executivos do grupo Ultra para reforçar sua exposição ao agronegócio. E, ao mesmo tempo, poderia ser uma porta de saída para o Pátria, que tem uma participação de mais de 20% na empresa através de seus fundos (a gestora não está saindo do negócio e deve manter ainda 10% da Hidrovias).
Para o negócio, agora, ser concretizado, há um fiel da balança. E ele se chama Tarpon, gestora que tem mais de 15% da Hidrovias.
Explica-se: a oferta da Ultrapar – que está pagando R$ 3,98 por ação, um prêmio de quase 12% sobre o fechamento da ação na sexta-feira, 22 de março, e que equivale a um desembolso de R$ 500 milhões – precisa retirar da frente um obstáculo.
Esse obstáculo é a “poison pill”, que, no caso da Hidrovias, obriga qualquer acionista que atingir 20% do capital a fazer uma oferta por toda a empresa. A ideia do Ultra é chegar a 27%.
A proposta, que deve ser discutida em uma assembleia de acionistas, é abrir uma exceção da “poison pill” para a Ultrapar, abrindo caminho para que a dona dos postos Ipiranga possa chegar até 40%.
E, nesse jogo, a Tarpon será fundamental para aprovação pela sua relevância no capital social da Hidrovias. Até agora, a gestora não deu sinais de como deve atuar nessa questão.
Outros nomes relevantes nesse xadrez é o Alaska Investimentos, com pouco mais de 5%, e o Morgan Stanley, que também tem mais de 5% da Hidrovias.
Uma fonte com a qual o NeoFeed conversou, que está comprada na ação, diz que está analisando o assunto, mas avalia que "seria justo em troca da retirada da 'poison pill' que a Ultrapar oferecesse uma OPA para que todos pudessem vender junto com o Pátria."
A reação do mercado foi positiva. A ação da Hidrovias subia mais de 12% por volta das 12 horas, com a companhia avaliada em mais de R$ 3 bilhões.
O Bradesco BBI diz que a Ultrapar, com o negócio, expande sua presença em logística agroindustrial, uma das fronteiras de expansão que haviam destacado, com possibilidade de geração de sinergias.
O Citi é mais cauteloso em sua análise e diz vai esperar para ver como isso poderia potencialmente gerar valor para a empresa, uma vez que ainda não está claro como a estratégia e as oportunidades da Hidrovias do Brasil poderiam mudar.
A Hidrovias, atualmente, tem dois negócios principais. Um deles é o corredor Norte (Itaituba-Barcarena, ambas no Pará), que escoa a safra de grãos do Mato Grosso e do Pará. O outro, o corredor Sul, transporta minério de ferro por meio da hidrovia do Rio Paraná.
Além desses, a Hidrovias atua com cabotagem, realizando transporte de minérios, principalmente bauxita, originados no Pará e destinados para exportação. Em Santos, conta com uma área destinada para recebimento, armazenamento e expedição de sal e fertilizantes.