A ação preferencial do Bradesco abriu o pregão de sexta-feira, 7 de dezembro, em queda de, aproximadamente, 4,5% como reflexo da divulgação de resultados do banco no ano passado.

Se o balanço veio em linha com o esperado pelos analistas do mercado e dentro do que a gestão do banco projetava no primeiro ano de seu amplo processo de transformação cultural e recuperação financeira , o que influencia a queda do papel na bolsa de valores?

Diante do cenário econômico mais desafiador, o banco da Cidade de Deus se viu obrigado a adotar uma postura mais “pé no chão”, de modo a não perder os ganhos que obteve nos últimos 12 meses.

A consequência, porém, é alongar o caminho para retornar a rentabilidade do período pré-pandemia, que estava na casa dos 20%. O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) vem crescendo pouco a pouco. O indicador atingiu 12,7% nos últimos três meses do ano passado, alta de 5,8 pontos percentuais em base anual e de 0,3 ponto percentual na trimestral.

O Bradesco registrou no quarto trimestre um lucro líquido recorrente de R$ 5,4 bilhões, alta de 87,7% em relação ao mesmo período de 2023. O resultado ficou um pouco acima da média das expectativas de analistas consultados pela Bloomberg, de um ganho de R$ 5,3 bilhões. No ano, obteve um lucro de R$ 19,5 bilhões, aumento de 20%.

Olhando para frente, porém, o banco se vê obrigado a ser mais conservador em suas expectativas, assim como Itaú. Isso pode ser visto na expectativa para a carteira de crédito expandida, prevista para expandir entre 4% e 8%, abaixo do avanço de 12% em 2024, para R$ 981,7 bilhões. A margem financeira líquida totalizou R$ 9,5 bilhões no quarto trimestre, alta de 70,1% em base anual, fechando o ano em R$ 34 bilhões, aumento de 32,7%.

“É um guidance pé no chão, diria que é um guidance conservador para este ano”, disse Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, na sexta-feira, 7 de fevereiro, em entrevista coletiva para falar dos resultados do quarto trimestre.

“Com essa nova taxa de juros, vamos ter um custo de capital superior a 15%, e se a gente cresce mais devagar a gente retarda um pouco o nível de retorno [ROAE] que a gente poderia ter com uma perspectiva de crescimento de carteira mais forte”, complementou o executivo.

Segundo ele, o banco vem regulando seu apetite a risco desde o quarto trimestre para considerar a piora do cenário, com o Real passando por uma forte desvalorização frente ao dólar e as mudanças nas perspectivas de juros.

Os analistas do Goldman Sachs, Tito Labarta, Tiago Binsfeld, Beatriz Abreu, e Lindsey Shema, escreveram que a “nossa estimativa é de um ROE cauteloso de 13% e R$ 22,2 bilhões de receita líquida, uma alta de 14% na comparação anual. Dessa forma, esperamos uma reação neutra”.

Diferentemente do que foi visto nos anos pós-pandemia, quando a alta da Selic bateu forte no Bradesco, Noronha vê a instituição melhor preparada para lidar com esse momento, apostando em linhas de crédito com garantias na pessoa física e na jurídica e com clientes considerados premium, além de modelos de crédito “bem azeitados”. E destacou que o banco admite trabalhar com produtos com menor margem, desde que o retorno ajustado ao risco seja bom.

“Não estou trabalhando com problema de inadimplência”, afirmou Noronha. “Estamos muito seguros com aquilo que a gente vem originando, a qualidade do que a gente originou no ano passado, foi muito boa.”

As despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) expandida caiu 29,1% em base anual no quarto trimestre, para R$ 7,4 bilhões. No ano, elas totalizaram R$ 29,6 bilhões, recuo de 25%. Já a inadimplência acima de 90 dias alcançou 4%, queda de 1,1 ponto percentual na comparação anual e de 0,2 ponto percentual na trimestral.

Noronha afirmou que as perspectivas podem melhorar se houver uma mudança significativa no cenário macroeconômico, afirmando que o Bradesco está preparado para aproveitar as oportunidades.

Dentre elas está o consignado privado, mas Noronha afirmou que o governo precisa realizar ajustes no programa para ele ser atrativo, uma das mudanças sendo no teto de juros, afirmando que ele limita o crescimento dessa linha.

Apesar do conservadorismo com o desempenho para 2025, Noronha voltou a destacar que a recuperação do Bradesco será step by step e que o cenário não vai alterar os planos de investimentos para transformar o banco. “A rentabilidade cresce com solidez e segurança e vamos tracionados run the bank e acelerando o change the bank”, afirmou.

Os resultados e o guidance não surpreenderam analistas e gestores, mas não era mensagem que todos queriam ouvir. Para um gestor ouvido pelo NeoFeed, os resultados do Bradesco no ano passado vieram fracos, mas dentro do esperado, e que a expectativa para o crédito em 2025 faz sentido, considerando as circunstâncias.

“O banco teve que frear, corretamente, dado o novo cenário macro”, afirmou o gestor, que pediu para não ser identificado. Por conta da piora das condições, mais a situação do banco, ele zerou sua posição em Bradesco no ano passado.

Os analistas da XP também tiveram uma análise parecida com a da diretoria do Bradesco. Para eles, o cenário macroeconômico apresenta dificuldades para a recuperação dos spreads. “Acreditamos que será difícil para o banco crescer acima de seu custo de capital em 2025”, diz trecho do relatório.

Em 12 meses, a ação preferencial BBDC4 do Bradesco recua 14,7%, levando o valor de mercado do banco a R$ 121,6 bilhões.