O pacote de medidas fiscais finalmente saiu e disputará a atenção de analistas do mercado financeiro com a informação mais relevante com anúncio previsto para o início de dezembro: o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre.

O resultado, a ser divulgado pelo IBGE na terça-feira, 3 de dezembro, retrata o passado, mas poderá ter impacto relevante no futuro e a favor do governo. Nem tanto para as expectativas já contaminadas pelo decepcionante “pacote” que não acena com sustentabilidade fiscal ou estabilidade da dívida pública. E, pior, levou dólar e juro a marcas históricas que vão infernizar a vida do Banco Central.

Se confirmadas as projeções mais recentes de analistas, o PIB trimestral será favorável ao crescimento de 2025. Ao menos, por herança estatística. Boa notícia. A má notícia é que a expansão mais forte da atividade no atual cenário de pressão inflacionária contrata mais aperto monetário e desaceleração da atividade. A economia não deverá tombar, mas o freio é certo.

A ver como o governo vai encarar esse novo tempo, após observar taxas de crescimento surpreendentemente positivas nos últimos trimestres apesar do juro alto, mas com risco crescente de a inflação corroer a popularidade do presidente Lula. A isenção de IR de quem ganha até R$ 5 mil terá repercussão rápida o suficiente para conter danos?

Até poucas semanas atrás, as previsões para o PIB do terceiro trimestre oscilavam de 0,4% a 0,6% ante o segundo, quando cresceu 1,4%. Mais recentemente, porém, as previsões quase dobraram para algo entre 0,8% e 1%, sendo a projeção mais elevada idêntica à registrada pelo Monitor do PIB apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia da FGV.

O desempenho da economia de julho a setembro produzirá um efeito estatístico de 3% para o PIB de 2024, informa Rodolfo Margato, especialista em atividade da XP, que prevê expansão de 0,9% para o terceiro trimestre, ante o anterior, e de 4,1% na comparação com igual período de 2023.

Ele explica: se a economia crescer zero no quarto trimestre, o que é improvável, o avanço de 3% já está garantido neste ano. Ampliando a projeção de PIB zero a cada trimestre de 2025, desempenho novamente improvável, a economia também estará crescendo. Pelo menos, 0,9%.

“O resultado (do terceiro trimestre) será de atividade sólida, com expansão da demanda doméstica e sinais positivos em praticamente todos os setores”, avalia. Ao NeoFeed, Margato observou que, em se confirmando o prognóstico trimestral, é certo que o carregamento estatístico deste ano vai reverberar no próximo. Não à toa, portanto, a XP elevou sua estimativa de expansão do PIB deste ano de 3,1% para 3,4% e, para 2025, de 1,8% para 2%.

Levantamento baseado em relatórios divulgados por 13 instituições (Banco do Brasil, Bradesco, BTG Pactual, Febraban, Genial Investimentos, G5 Partners, Itaú Unibanco, LCA Consultores, MacroSector, MB Associados, Monte Bravo Corretora, Santander Brasil e XP) aponta alta do PIB entre 2,8% e 3,5% em 2024 e, de 1,7% a 2,5%, em 2025. A projeção mais elevada para este ano (3,5%) é bancada pelo Bradesco e Genial Investimentos. Para 2025 (2,5%) é da Genial, seguido pelo Bradesco (2,4%).

Tanto os relatórios quanto a apuração da Coluna foram feitos antes da apresentação das medidas fiscais na quarta-feira, 27 de novembro. Portanto, antes do anúncio da isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil a ser compensada pela tributação de quem recebe mais de R$ 50 mil. Informação que provocou violenta alta do dólar e das taxas de juros. E que, a perdurar nos próximos dias, justificará nova revisão de projeções desses indicadores.

Juro e câmbio, sem refresco

As estimativas para o PIB do ano que vem – atualizadas até a véspera da apresentação das medidas fiscais pelo ministro Fernando Haddad e com direito a bis em entrevista coletiva na quinta-feira – melhoraram, mas embutem um esfriamento da atividade que os economistas, sem exceção, creditam à alta acentuada da Selic, condições financeiras bem mais restritivas, menos impulso fiscal, esgotamento da capacidade ociosa e menor crescimento global.

Mais protecionista e inflacionário como esperado, o governo Trump compõe o cenário internacional que deverá estar ancorado em juros e dólar mais altos.  Também a partir dessa perspectiva, as instituições pesquisadas preveem dólar entre R$ 5,40 e R$ 5,80 em 2024; e, em 2025, entre R$ 5,40 e R$ 5,90.

Se o pacote fiscal não colar – mesmo após avaliação dos projetos que ainda serão encaminhados ao Congresso – o câmbio será consolidado em patamar para lá de ruidoso e que arrastará os juros a 14% ao ano.

Sem refresco de câmbio e juros, a pressão inflacionária persistirá. Para o grupo pesquisado, a partir de revisões de cenário que antecederam o pacote fiscal, o IPCA deste ano deverá oscilar de 4,6% a 5%; e, para 2025, de 4% a 5%. Inflação colada no teto da meta ou acima dele, 4,50%, é carta no baralho. Logo, será mais salgada a Selic necessária para levar o indicador à meta.

Para este ano, com apenas mais uma reunião do Copom na agenda (10 e 11 de dezembro), a Selic esperada varia de 11,75% a 12%; e, para 2025, de 10,50% a 13,50%.

A dispersão reflete a expectativa de cortes da taxa em momentos diferentes no próximo ano ou sua manutenção no pico de 13,50% a ser alcançado ainda no primeiro trimestre. Em breve, portanto, estará neutralizada a queda de 3,25 pontos observada de agosto de 2023 a maio deste ano, quando a taxa estabilizou e deu um gás sobretudo no crédito, até voltar a subir em setembro.

A despeito do pacote fiscal ou (agora) até por conta dele, haverá uma mudança de escala no aperto monetário que teve breve alívio nos últimos dois anos. Essa mudança na escala de ajustes da Selic, a ser provavelmente iniciada no próximo Copom e que afetará a atividade em 2025 e em 2026, dependerá do Banco Central de Gabriel Galípolo, que chega à presidência em 1º de janeiro.

O temor com essa transição – a primeira na condição do BC autônomo – preocupou severamente o mercado até poucos meses atrás, mas a tensão perdeu ibope, graças à defesa enfática do regime de metas por Galípolo.

No próximo estágio, porém, de Galípolo no comando do BC, discurso não basta. E é ingênua a ideia de que a relação do BC com o presidente Lula está pacificada. Se a restrição monetária persistir, e deve persistir até pelo cenário difuso da economia americana, a autonomia do BC estará sob permanente escrutínio. E o posicionamento de Galípolo também.