Um ponto no balanço do primeiro trimestre da Kepler Weber pode ter passado despercebido para quem buscou apenas informações financeiras no resultado da companhia.

A líder em equipamentos para armazenagem de grãos na América Latina anunciou um acordo estratégico com a XP para o compartilhamento de dados sobre estoques e movimentação de grãos no País. Essa parceria marca a entrada da empresa gaúcha no mercado de monetização de informações do agronegócio.

"Fechamos recentemente um contrato para acessar clientes da XP, oferecendo soluções importantes como hedge, câmbio e soluções agrícolas como um todo", diz Renato Arroyo, CFO da Kepler Weber, no programa Números Falam, do NeoFeed. "E pretendemos acessar outros elos do ecossistema, como seguradores e tradings."

O acordo com a XP é o primeiro passo de uma estratégia que pode transformar o modelo de negócios da Kepler Weber. Com a aquisição da Procer em 2022, empresa especializada em automação e controle de silos, a companhia passou a ter acesso a um volume significativo de dados sobre armazenagem de grãos no Brasil.

"Em um raio de 80 quilômetros de Rondonópolis, quanto há de grãos armazenados? O que é milho? O que é soja? Quanto entrou e quanto saiu? É uma conta corrente", diz Arroyo. "Não podemos passar o dado agrupado de um cliente específico, mas posso passar um dado de uma região. Isso tem muito valor para o mercado financeiro."

O movimento da Kepler Weber ocorre em um momento de crescimento do mercado de armazenagem no Brasil, impulsionado pelo déficit estrutural de silos. Com uma safra estimada em 328,3 milhões de toneladas para 2025, um recorde histórico segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o déficit de armazenagem deve atingir 37%.

"Se a gente for olhar e comparar, por exemplo, a Argentina tem 40% de capacidade instalada dentro das fazendas, os Estados Unidos têm algo como 70%, e o Brasil tem 17%”, afirma o executivo.

Esse déficit resulta em perdas significativas para o setor. "Um estudo do ano passado estimou em R$ 42 bilhões as perdas geradas pela falta de armazenagem", complementa Arroyo.

Com um retorno sobre o capital investido (ROIC) de 29% no primeiro trimestre deste ano - acima do custo de capital no Brasil -, a Kepler Weber reportou um caixa de R$ 54,6 milhões no período, uma redução frente aos R$ 114,4 milhões do mesmo período do ano anterior.

Arroyo, no entanto, destaca que a companhia fechou o trimestre com R$ 360 milhões em caixa bruto e R$ 155 milhões em caixa líquido. "No momento em que as empresas estão preocupadas pelo incremento da despesa financeira, a gente tem mais receita financeira do que despesa financeira", diz o CFO.

Para 2025, a empresa projeta crescer em volume de vendas, apesar das margens pressionadas no primeiro semestre. Nos primeiros três meses do ano, a margem Ebitda caiu 9 pontos percentuais na comparação com o mesmo período de 2024, de 23,8% para 14,8%.

"Vemos para o segundo semestre um crescimento bastante relevante do ponto de vista de receita. Com isso, ocorrem as diluições de custos. E esperamos crescer um pouco mais também na margem de rentabilidade da companhia", diz Arroyo.

No ano, a ação KEPL3, da Kepler Weber, está em queda de 18%. O valor de mercado da companhia é de R$ 1,4 bilhão.