Há uma semana, a divulgação do novo marco regulatório do ensino a distância (EAD) derrubou as ações de educação listadas na B3. Com a perspectiva de aumento de custos no setor. Os papéis de Ânima, Cogna e Yduqs recuaram, respectivamente, 8,39%, 7,79% e 5,07% no primeiro pregão após o anúncio.

O único nome a passar nesse primeiro teste do mercado de capitais foi a Ser Educacional, dona de marcas como Uninassau e Unifael, cujas ações fecharam as negociações de 20 de maio com alta de 2,44%. E a avaliação inicial de Jânyo Diniz, CEO do grupo, sobre essas mudanças é, a princípio, positiva.

“Do ponto de vista geral, o marco é favorável, pois reduz a oferta de quem não consegue ter um produto muito bom no EAD”, afirma Diniz, ao NeoFeed. “E, com isso, além da oferta, ele vai disciplinar mais o preço, o tíquete e o mercado.”

Uma das mudanças estipuladas no decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva envolve os cursos de medicina, odontologia, psicologia, enfermagem e direito, que só poderão ser ofertados unicamente no formato presencial.

Em outros pontos do novo marco, as aulas no formato EAD poderão ocupar, no máximo, 30% da carga horária do presencial. Até então, a regulamentação permitia um índice de até 40%. Já no EAD, a grade deverá reservar uma cota mínima de 20% da carga a atividades presenciais ou síncronas, com um mediador.

“Não estamos muito longe dos índices que o marco define, então, do ponto de vista de custo e de oferta, o impacto não vai ser significativo”, diz o CEO. “E fomos mais disciplinados e já tínhamos um dos EADs mais caros do mercado. Assim, também vai nos afetar muito pouco em termos de preço.”

Um relatório do BTG Pactual traduz um pouco desse cenário levando em consideração justamente as empresas listadas do setor. Segundo o banco, Cogna e Yduqs são as mais expostas ao EAD, com uma participação de mercado, respectivamente, de 17% e 12% nesse formato. Já a Ser e a Ânima detêm fatias de 3%.

Se, diante desse quadro a expectativa é de poucos impactos para a Ser, Diniz enxerga, porém, boas oportunidades em outra novidade do marco: a criação do formato semipresencial, que vai mesclar atividades presenciais obrigatórias com aulas online, em tempo real, e uma carga horária de EAD.

Essa modalidade híbrida comporta, por exemplo, outros cursos de saúde, área que tem sido o maior foco da Ser Educacional nos últimos anos, muito em função da demanda de profissionais no mercado e, principalmente, do tíquete médio mais alto.

“A regulamentação desse formato foi, de fato, um avanço, pois, de um lado, beneficia os grandes players com capacidade de abertura de polos semipresenciais”, afirma Diniz. “E, por outro, retira aquilo que muitos faziam, que era ofertar cursos com uma carga presencial menor.”

Nesse sentido, ele ressalta que a modalidade dialoga com a aposta recente da Ser Educacional em unidades menores. Com esse formato, o grupo retomou há pouco tempo o crescimento orgânico por meio de novos pontos em Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Curitiba (PR), Manaus (AM) e Bragança (PA).

“O semipresencial vai permitir que a gente preencha mais rapidamente a oferta dessas unidades”, afirma. “E, ao mesmo tempo, que o grupo avalie com cuidado outras possibilidades de novas unidades e pontos nesse modelo.”

Ele também ressalta outra vantagem desse modelo de expansão, mais focado em shopping centers. Com tamanhos iniciais entre 3 mil e 7 mil metros quadrados, essas unidades menores demandam um capex, em média, de R$ 5 milhões.

Os campi tradicionais do grupo, por sua vez, são instalados em áreas de 14 mil a 40 mil metros quadrados, com um investimento que pode variar de R$ 15 milhões a R$ 30 milhões e cujos projetos, na maioria das vezes, exigem um período mais longo para entrarem em operação.

“O shopping é um lugar que já tem um fluxo natural de pessoal, com fácil acesso e que reduz, por exemplo, os investimentos em segurança e estacionamento”, afirma Diniz. “E a nossa ideia é privilegiar os cursos de saúde que podem ser ofertados no formato semipresencial nessas unidades.”

Redução da alavancagem em curso

Esse formato mais enxuto e com menor capex também se conecta com o que, segundo Diniz, segue sendo o maior foco da Ser Educacional: a redução da sua alavancagem. Esse foi justamente o fio condutor do processo de turnaround iniciado pelo grupo há pouco mais de dois anos.

Nessa direção, além do foco em cursos de tíquete mais elevado – hoje, por exemplo, cerca 65% da sua base de alunos é de Medicina, uma frente que ganhou força foi o fechamento de parte dos prédios que integravam alguns de seus campi e a consolidação dessas operações nessas ou em outras instalações.

“Ainda temos alguma coisa a ser feita em termos de entrega de prédios”, diz Diniz. “Sempre tivemos como meta chegar a uma alavancagem de 1x a dívida líquida/Ebitda e, gradativamente, estamos caminhando para isso.”

Nos números mais recentes da operação, o grupo fechou o primeiro trimestre de 2025 com uma alavancagem de 1,35 vez, versus o índice de 1,99 vez, apurado um ano antes. No período, o lucro líquido foi de R$ 43,6 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 17,5 milhões nos primeiros três meses de 2024.

Em relatório, o Santander ressaltou o resultado sólido, os números acima do consenso e outros indicadores. Entre eles, a forte captação de alunos no período e o crescimento de 13% no tíquete médio, impulsionado principalmente pelos cursos de medicina.

“As iniciativas da Ser para melhorar a geração de caixa estão apresentando resultados, com a dívida líquida recuando 8% em relação ao trimestre anterior. Em nossa opinião, podemos estar à frente de uma potencial revisão acima do consenso”, pontuou o banco, com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 6 para a ação.

Os papéis da Ser fecharam o pregão da segunda-feira, 26 de maio, com queda de 2,10%, cotados a R$ 9,79. Em 2025, porém, as ações acumulam uma valorização superior a 117,5%, dando ao grupo um valor de mercado de R$ 1,24 bilhão.