Próxima de completar 12 meses, a Remessa Conforme, conhecida como ‘taxa das blusinhas’, teve o efeito esperado para as redes varejistas de moda brasileiras. Desde o momento em que a taxação de 20% para compras internacionais de até US$ 50 (que antes eram isentas) passou a vigorar, as plataformas asiáticas, como a Shein, perderam volume de vendas para as marcas brasileiras, como Renner, Riachuelo e C&A.
Relatório do BTG Pactual mostra que o volume de bens importados nessa faixa de preço continua abaixo dos níveis anteriores à tributação. Em junho deste ano, as remessas foram 29% inferiores na comparação com o mesmo período do ano passado, e 3% a menos em relação a maio de 2025.
“Desde que a taxação foi adotada, em agosto de 2024, os volumes caíram drasticamente, com queda de 40% no primeiro mês, o que também teve um efeito positivo para os varejistas locais. No geral, observamos vendas mais fortes para Renner, C&A e Guararapes [controladora da Riachuelo] desde o terceiro trimestre de 2024”, diz o documento assinado pelos analistas Luiz Guanais, Yan Cesquim e Pedro Lima.
Segundo dados do banco, a partir de informações obtidas com a Receita Federal, as plataformas asiáticas venderam em junho deste ano 12,7 milhões de itens a consumidores brasileiros. No mês anterior (maio), foram 13 milhões. Para ter uma ideia da queda, em julho do ano passado, um mês antes da implementação da taxa das blusinhas, foram importados 18,6 milhões de produtos, o que indica uma queda de 31,7% em 11 meses.
Em relação à receita, a queda também é significativa, ainda que um pouco melhor do que o percentual relativo ao volume. No mês passado, as asiáticas receberam R$ 1,29 bilhão pelas compras de produtos estrangeiros. O montante é 2% a menos do que o registrado em maio deste ano (R$ 1,32 bilhão).
Na comparação com julho de 2024, a queda no faturamento das empresas estrangeiras que vendem itens importados de vestuário foi de 18%. No mês anterior à ‘taxa das blusinhas, a receita foi de R$ 1,58 bilhão. No primeiro mês da Remessa Conforme, em agosto, a receita caiu 43%, para R$ 985 milhões, neste caso mais do que o volume.
As companhias estrangeiras também foram impactadas pela decisão do Comitê Nacional de Secretários de Fazenda dos Estados (Comsefaz), que em abril também aumentou a alíquota de ICMS sobre produtos importados de até US$ 50, passando de 17% para 20%.
“De acordo com nossas pesquisas, realizadas desde o início de 2024, em janeiro de 2024 a Shein Brasil operava com preços, em média, cerca de 40% mais baixos do que os varejistas nacionais (antes da implementação do Remessa Conforme e da tributação)”, diz o BTG. No entanto, o cenário mudou desde a aplicação do imposto de importação e o aumento do ICMS.
“Em nosso dado mais recente, de junho de 2025, a Shein Brasil estava operando com preços apenas 10% abaixo dos concorrentes nacionais, cenário em que perde uma parte significativa de sua vantagem competitiva.”
Ainda assim, os analistas do banco que há caminho para recuperação dessas empresas, principalmente com o avanço na entrada de sellers nacionais.
“Embora os dados mais fracos do Remessa Conforme sejam uma boa notícia para os varejistas locais, algumas plataformas, como a Shein, têm se mostrado mais ativas nos últimos meses em relação ao desenvolvimento de suas operações de marketplace local, uma tendência também observada nos últimos anos na Shopee, que aumentou a participação de vendedores locais no GMV”, afirma o BTG.
A expectativa do banco é que as principais varejistas sigam com resultados financeiros em alta no segundo trimestre, a exemplo do que foi apresentado nos primeiros três meses do ano.
A Renner, por exemplo, registrou alta de 12% na receita líquida (R$ 2,7 bilhões) no primeiro trimestre e 58,7% no lucro líquido (R$ 221 milhões) sobre o mesmo período do ano anterior. A C&A reportou alta de 10,9% na receita (R$ 1,612 bilhão) e a Guararapares cresceu 10,6% (R$ 2,2 bilhões).
Na B3, as ações da Renner registram valorização de 55,5% no acumulado de 2025. Na mesma base de comparação, C&A subiu 143,5%, e Guararapes, 42,1%.
Rener está avaliada em R$ 19,7 bilhões. O market cap da C&A é de R$ 5,6 bilhões, e da Guararapes, R$ 4 bilhões.