O Goldman Sachs espera receber em breve um novo funcionário com potencial para modificar toda a operação de tecnologia do banco. Trata-se de Devin, um engenheiro de software movido à inteligência artificial.

Diferente de modelos como o Copilot e outras ferramentas de apoio, Devin faz o trabalho completo de um especialista em programação, capaz de criar aplicativos do zero, construir bancos de dados e realizar correções e testes automáticos em todo o código da empresa — tudo isso sem precisar de intervenção humana.

Inicialmente, serão contratados centenas de Devins, mas esse número pode chegar a milhares, dependendo dos casos de uso, disse o CTO do Goldman, Marco Argenti, em entrevista à CNBC.

“Vamos começar a aumentar nossa força de trabalho com o Devin, que vai ser como um novo funcionário, assumindo tarefas em nome dos nossos desenvolvedores”, afirmou ele. O Goldman foi o primeiro entre os maiores bancos americanos a adotar a tecnologia.

O Devin foi desenvolvido pela Cognition, startup fundada em 2023 por três gênios do Vale do Silício, campeões de competições internacionais de programação.

Scott Wu, ex-prodígio do MIT e campeão das Olimpíadas Internacionais de Informática (IOI) pelos EUA, é o CEO. Os outros fundadores são o CTO Steven Hao, também campeão da IOI, e Walden Yan. Todos têm menos de 30 anos.

Apesar da pouca idade dos fundadores, o potencial tecnológico da Cognition já atraiu alguns dos investidores mais relevantes do mercado. Na última rodada, liderada pela 8VC em março, a companhia foi avaliada em US$ 4 bilhões.

A Cognition já fez três rodadas de captação — todas com participação do Founders Fund, fundo de venture capital de San Francisco que investiu em nomes como OpenAI, Airbnb, Nubank, Neuralink e SpaceX.

O fenômeno Cognition integra o grupo de companhias baseadas em IA que têm alcançado valuations de unicórnio em pouquíssimo tempo. O motor de busca Perplexity e as geradoras de voz Eleven Labs e Mistral AI, especializada em modelos open source, são algumas das empresas com menos de três anos que já valem mais de US$ 1 bilhão.

Um dos casos de maior sucesso nesse segmento é o da Anthropic, criadora de modelos de linguagem. Fundada em 2021 pelos ex-membros sêniores da OpenAI, Daniela Amodei e Dario Amodei, a empresa atingiu um valuation de US$ 61,5 bilhões em sua última rodada, em março, quando levantou US$ 3,5 bilhões.

Essas captações bilionárias se explicam pela necessidade da Anthropic treinar seus próprios modelos e disputar espaço com gigantes como Meta e OpenAI.

O desenvolvimento desses large language models exige poder computacional massivo e equipes altamente especializadas, o que restringe o jogo a quem tem caixa robusto e investidores dispostos a bancar a conta. Na mesma toada, a OpenAI captou US$ 40 bilhões, também em março, atingindo um valuation de US$ 300 bilhões — atrás apenas de SpaceX e ByteDance entre as companhias de capital fechado.

Apesar do glamour em torno dessas rodadas, esse é só um recorte minúsculo do universo de empresas que trabalham com IA. A maioria, como a Cognition, não cria modelos do zero — aproveita arquiteturas existentes e constrói soluções sobre elas.

Esse caminho é muito mais barato e rápido, pois permite focar em produtos específicos para o usuário final, sem ter que gastar recursos treinando sistemas do porte de um GPT ou Claude. É como empresas que desenvolvem softwares usando computadores, mas não fabricam os próprios computadores.

Mercado aquecido

Embora envolva cifras menores, a necessidade de capital limitado e o alto potencial de receita têm chamado atenção dos maiores venture capitals do mundo.

Segundo dados do Crunchbase, foram feitas 5.142 rodadas de investimento em startups de IA no ano passado, movimentando cerca de um terço dos US$ 304 bilhões investidos por fundos de venture capital. O volume foi 82% maior que o destinado à IA em 2023. Desde 2021, esses fundos já colocaram US$ 294 bilhões em startups do setor.

Com esse fluxo bilionário, muitas das tecnologias que vão moldar o futuro já estão em desenvolvimento. A tendência é que surjam cada vez mais Devins nas empresas — e não só na área de tecnologia.