A gigante farmacêutica Merck anunciou a aquisição da empresa inglesa Verona Pharma, que produz biomedicamentos focados em doenças pulmonares, por US$ 10 bilhões. O objetivo do M&A é diversificar o portfólio da companhia americana, que tem enorme presença no mercado global de tratamento contra o câncer. O acordo deve ser concluído até o fim do ano.
A transação é a primeira de 2025 e a maior realizada pela farmacêutica nos últimos dois anos. Em 2023, a Merck pagou US$ 10,8 bilhões para adquirir a Prometheus Biosciences. Em quatro anos, a empresa quase triplicou seu pipeline de estágio avançado, combinando desenvolvimento com aquisições, como a compra da Acceleron por US$ 11,5 bilhões em 2021, que rendeu o medicamento para hipertensão arterial pulmonar Winrevair.
Com a chegada da Verona, a Merck passa a ter em seu portfólio o Ohtuvayre, medicamento aprovado nos Estados Unidos no ano passado pelo FDA para tratar doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). A perspectiva de analistas é que somente este produto pode atingir, até o meio da década de 2030, um pico de vendas anuais de cerca de US$ 4 bilhões. Ele está em testes para utilização no tratamento de outras doenças pulmonares.
“O valor que este mecanismo inovador, o primeiro da sua classe, traz representa uma adição importante ao arsenal de pacientes que enfrentam DPOC”, disse Rob Davis, chairman e CEO da Merck, em entrevista ao Financial Times. “A aquisição coloca a Merck em posição de um período de transformação realmente rápida.”
A diversificação dos produtos da Merck também tem relação com o fim da patente, em 2028, do remédio contra o câncer da companhia, Keytruda, medicamento mais vendido do mundo e que, sozinho, alcança uma receita anual de quase US$ 30 bilhões.
“O acordo anunciado hoje com a Merck é o ápice de anos de foco e determinação da equipe da Verona Pharma no desenvolvimento do Ohtuvayre, o primeiro mecanismo inalatório inovador para o tratamento de manutenção da DPOC em duas décadas”, disse David Zaccardelli, presidente e CEO da Verona Pharma, em comunicado divulgado pela empresa.
Ohtuvayre foi o primeiro medicamento inalatório completamente novo aprovado como tratamento de manutenção para os 8,6 milhões de pacientes americanos com DPOC, uma das principais causas de morte nas últimas duas décadas, e que destrói o tecido e a função pulmonar.
Dessa forma, a aquisição da Merck vai acelerar o lançamento internacional do produto, para mercados além dos Estados Unidos. Além disso, a farmacêutica se prepara para uma série de pelo menos 20 novos medicamentos que serão lançados nos próximos cinco anos.
Fundada em 2005 e sediada em Londres, a Verona Pharma também estudou o mesmo tratamento em pacientes com uma série de outras doenças pulmonares, incluindo bronquiectasia, asma e fibrose cística, bem como em combinação com outro medicamento para DPOC, ampliando potencialmente o alcance do medicamento nos próximos anos.
“À medida que a Merck continua a acumular resultados e a demonstrar sucesso com dados clínicos e aquisições, isso dará aos investidores a confiança de que a empresa tem um caminho muito viável para um crescimento sustentável e de longo prazo após o fim da patente da Keytruda”, afirmou Davis.
Mesmo assim, o setor farmacêutico vem enfrentando desafios a partir de mudanças regulatórios estabelecidas pelo governo do presidente Donald Trump, além de ameaças a tarifas impostas para o setor. Essas iniciativas da Casa Branca levaram a Merck a reduzir sua previsão de vendas para 2025.
A companhia também registrou desaceleração de vendas na China de sua vacina mais vendida contra o papilomavírus humano, a Gardasil. No início deste ano, a Merck fechou um acordo de licenciamento de até US$ 2,2 bilhões com a chinesa Jiangsu Hengrui Pharmaceuticals para os direitos globais de seu medicamento para doenças cardíacas.
O mercado reagiu bem ao anúncio da venda da Verona para a Merck. Na Nasdaq, as ações da empresa inglesa operam em alta de 20%. No ano, a valorização é de 125,6%. A biofarmacêutica está avaliada em US$ 8,9 bilhões.
Os papéis da Merck também estão em elevação na Bolsa dos Estados Unidos. Nesta quarta-feira, 9 de julho, as ações da gigante do setor registram crescimento de 2,3%. No acumulado de 2025, no entanto, têm queda de 16,3%. O market cap da Merck é de US$ 208,4 bilhões.
