Nos últimos dias, à parte das diferenças de alguns dígitos nas projeções, as prévias de analistas sobre o balanço do Nubank no quarto trimestre e em 2023 trouxeram um consenso, resumido na expectativa de um resultado forte, em linha com o que a banco digital vem reportando nos últimos oito trimestres.

Ao divulgar os indicadores do período, o lucro líquido apurado entre outubro e dezembro, de US$ 360,9 milhões, contra US$ 58 milhões um ano antes, veio, porém, abaixo de algumas estimativas, como as do Goldman Sachs e do Itaú BBA, que projetavam, respectivamente, US$ 403 milhões e US$ 390 milhões.

Entretanto, sob uma ótica mais ampla, a do número reportado na última linha do balanço em todo o ano de 2023, longe de decepcionar, o Nubank superou uma interrogação em alta desde o seu IPO, no fim de 2021, ao registrar seu primeiro lucro anual, de US$ 1 bilhão, contra um prejuízo de US$ 9,1 milhões em 2022.

“É um marco pra gente, como prova de conceito. Até 2022, existia um ceticismo muito grande se o modelo do Nubank poderia crescer e com rentabilidade”, diz Guilherme Lago, CFO do Nubank, ao NeoFeed. “Em 2023, nós viramos a página desses questionamentos”.

A reação inicial do mercado veio, porém, na contramão dessa afirmação. Após fechar o dia na Bolsa de Nova York com seus papéis em alta de 2,68%, cotados em US$ 10,36, o Nubank viu suas ações caírem mais de 7% logo na sequência no after market.

Por volta das 17h (horário local), o recuo no after hours estava em 5,41%. No ano, as ações do Nubank acumulam, no entanto, uma valorização de 24,3%, dando à empresa um valor de mercado de US$ 49,2 bilhões.

Nesse balanço, o executivo cita outros indicadores para reforçar a visão de que o Nubank encerrou esse capítulo de incertezas sobre a consistência a sua tese e está pronto para escrever novos episódios, agora sob um olhar mais favorável dos investidores.

Um desses números é o retorno sobre o patrimônio (ROE) anualizado de 23% no período. O índice veio acima dos 21% divulgados no terceiro trimestre de 2023. Já o ROE ajustado anualizado encerrou o ano no patamar de 26%.

“Estamos entre os maiores índices do setor, mesmo levando em conta que estamos investindo no México e na Colômbia”, pontuou Lago. “Se olharmos só o Brasil, nosso retorno sobre o patrimônio está acima de 40%, reforçando essa combinação de crescimento alto com rentabilidade alta.”

No campo da receita, o crescimento no trimestre foi de 57%, o que levou a operação a um recorde de US$ 2,4 bilhões nessa linha. Já no consolidado do ano, a receita ultrapassou a casa de US$ 8 bilhões, contra US$ 1,69 bilhão em 2022.

Em mais uma medida, o Nubank adicionou 4,8 milhões de clientes entre outubro e dezembro de 2023, fechando o ano com uma base global de 93,9 milhões de clientes. Há dois anos, na época de seu IPO, esse volume era de 54 milhões.

No Brasil, o crescimento, em base anual, foi de 53%, para 87,8 milhões de clientes, com a fintech ressaltando que já alcançou 53% da população adulta do País sob “seus domínios”, consolidando a empresa como o quarto maior banco no mercado local em número de clientes.

Além de ampliar esse universo, uma outra métrica mais importante, a da receita média mensal por cliente ativo (Arpac, na sigla em inglês) mostra como o Nubank está se saindo no desafio de rentabilizar essa base e de se tornar a principal conta dos usuários.

No indicador, o banco digital registrou uma receita média mensal por cliente ativo de US$ 10,6, o que representou um crescimento de 23% sobre igual período, um ano antes. Levando em consideração os grupos mais maduros na base, a cifra ficou em US$ 27.

Quatro focos

Com esses números como ponto de partida, Lago ressalta que o Nubank já elegeu suas quatro prioridades para 2024. E observa que alguns aspectos serão o norte para perseguir a consolidação nessas vertentes.

“Estamos longe de ter hoje o crescimento e as margens que acreditamos que podemos ter no futuro”, afirma o executivo. “O fato é que ainda estamos na época do plantio e não da colheita.”

Um primeiro foco no ano será o que ele chama de “ganhar o jogo no México”, país que recebeu a segunda operação do Nubank após o lançamento no mercado brasileiro. E onde, atualmente, a empresa tem 5,2 milhões de clientes, dos quais, quase 1 milhão foram adicionados no quarto trimestre de 2024.

“Em fevereiro, já chegamos a mais de 6 milhões de clientes no país, com um fluxo de depósitos e aplicações muito forte”, diz o CFO. “Temos um bom cenário para consolidar um modelo calcado em cartão de crédito, conta digital e empréstimo e, a partir daí, criar uma plataforma maior.”

Esse primeiro pilar também abre espaço para a operação na Colômbia, onde o Nubank acaba de receber a licença para operar como banco, o que permite lançar sua conta no país já nesse ano. Como parte desse processo, a fintech já tem uma fila de espera com mais de 400 mil clientes para o produto.

Na equação das prioridades para 2024, um segundo elemento será acelerar a oferta de empréstimo pessoal com garantia no Brasil. Nesse espaço, entre outras modalidades, o Nubank lançou em 2023 opções de consignados para pensionistas do INSS e atrelados ao FGTS.

“O volume de consignados no Brasil está entre R$ 600 bilhões e R$ 700 bilhões e, nossos clientes, já representam cerca de 40% desse bolo”, afirma Lago. “Temos uma oportunidade gigantesca de avançar ao pescar nesse aquário à medida que colocamos outros produtos.”

O Nubank fechou 2023 com uma carteira de crédito de US$ 18,2 bilhões, dos quais, US$ 14,5 bilhões estão em cartões de crédito e US$ 3,7 bilhões em empréstimo pessoal. Já no que diz respeito à inadimplência, o índice entre 15 a 90 dias ficou em 4,1%, contra 4,2% no terceiro trimestre.

A inadimplência acima de 90 dias, por sua vez, foi de 6,1%, o mesmo patamar reportado entre julho e setembro do ano passado. Se, aqui, o índice ficou estável, no terceiro foco para 2024, os clientes de alta renda, o plano é avançar e ganhar participação de mercado.

Lago não revela o número atual de clientes do Nubank no segmento, que leva em conta pessoas com renda mensal acima de R$ 12 mil. Ele observa apenas que a companhia já tem hoje em sua base mais de 60% dos adultos que se encaixam nesse perfil no País.

“Considerando os clientes de alta, média e baixa renda, já temos uma divisão muito similar a dos bancos incumbentes”, afirma. “O jogo aqui é uma maratona, não um sprint. Aqui, o foco para avançar vão ser três pilares – banking, pagamentos e investimentos.”

Em 2024, um último ponto, não menos importante, será consolidar no mercado brasileiro o conceito que o Nubank batiza de Money Platform. Na prática, trata-se de ir além dos produtos financeiros e combinar, nesse caldeirão, ofertas de tecnologia, temperadas com recursos como inteligência artificial.

 

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