O futuro do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), indicadores-chave de atividade no Brasil e nos EUA e seis pronunciamentos de dirigentes do Federal Reserve (Fed) seriam os pontos de atenção na agenda econômica dos próximos dias de mercado financeiro em marcha lenta pelas férias escolares no País – antessala das férias de verão no Hemisfério Norte.
Entretanto, a imposição da tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os EUA, anunciada por Donald Trump na quarta-feira, 9 de julho, embora não anule o calendário de indicadores relativiza sua importância. O cenário, porém, está mais complexo. As tarifas atingem setores-chave da economia brasileira. Entre eles, a agricultura – fortemente exportadora e de relevância ímpar para o Produto Interno Bruto (PIB).
O anúncio do tarifaço contra o Brasil desorganizou instantânea, mas momentaneamente, o mercado. Chacoalhou os preços dos ativos financeiros e exacerbou o risco para os investidores. As consequências de tarifa tão agressiva estão sendo avaliadas em meio à expectativa quanto à reação do governo Lula que deverá ultrapassar a retórica e partir, de fato, para a reciprocidade na relação comercial com os EUA.
De pronto, o anúncio do tarifaço provocou uma súbita e intensa depreciação do real, ante o dólar. Trajetória que, a persistir ou se agravar, coloca em xeque o arrefecimento da inflação decorrente, sobretudo, do movimento contrário: da contínua valorização do real desde o início do ano. Contudo, na quinta-feira,10, o dólar rondava R$ 5,54, alta de 2% no mês.
Na bolsa brasileira, em queda discreta também na quinta-feira, ações de companhias com maior presença no mercado norte-americano estão expostas a volatilidade adicional. A depender da evolução dos preços nos próximos dias, essas empresas poderão rever projeções de fluxo de caixa. No campo macro, queda das exportações pelo tarifaço afetará estimativas para o PIB que já está sendo recalculado por especialistas de mercado.
Na agenda da virada para a segunda quinzena, a audiência de conciliação entre Executivo e Legislativo em torno de uma solução para o IOF, sob a guarda do STF em 15 de julho, é vital para recalibrar as relações entre os Poderes e para prognósticos de arrecadação. Precedida de um “esquenta” inconclusivo entre ministros e o comando do Congresso na terça-feira, 8 de julho, o resultado da conciliação dificilmente será neutro – poderá (ou não) engordar o caixa da União neste e no próximo ano.
A prevalecer o aumento do imposto defendido na sua integralidade pelo Executivo, a receita do governo crescerá cerca de R$ 20 bilhões este ano e R$ 41 bilhões em 2026, um reforço à expectativa do governo e de analistas de que as metas fiscais serão cumpridas nesses dois anos.
Caso prevaleça na audiência do STF a visão legislativa de que o IOF não deve ser elevado por não caracterizar instrumento arrecadatório, a equipe econômica deverá buscar outras fontes de receita para cumprir as metas de déficit zero neste ano e superávit de 0,25% do PIB em 2026.
Activity Tracker do Itaú fecha semestre em baixa
Cenário em que novo contingenciamento do Orçamento poderá ocorrer e/ou o Congresso colaborar aprovando a proposta que aumenta, a partir de janeiro de 2026, a tributação de instituições financeiras, fintechs, ativos digitais e também de títulos até agora isentos de IR que constituem funding para os setores agrícola e imobiliário.
A inclusão do IOF na proposta de isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, com contrapartida arrecadatória, é outra possibilidade à qual Haddad resiste. A reforma do IR está entre outras medidas que poderão ser votadas no Parlamento nos próximos dias. Antes do início do recesso no dia 18.
Entretanto, seja qual for a decisão a ser tomada sob o amparo da Corte, a evolução explosiva da dívida pública a superar 80% do PIB em 2026 não será atenuada. Tampouco a convicção de especialistas em contas públicas de que o arcabouço fiscal tem dias contados.
Agrava o endividamento, a sustentação da Selic a 15% até dezembro. A fatura de juros da dívida pública alcançou R$ 946,1 bilhões em 12 meses até maio. E os 15% vão continuar pesando. O corte da Selic, aponta a Focus, começará em janeiro e a queda ocorrerá lentamente com implicações sobre a atividade. Se o dólar tomar fôlego – em consequência do tarifaço de Trump contra o Brasil – cortes da taxa subirão no telhado.
Antes da definição dos 50% de Trump, bancos e consultorias vinham aumentando suas apostas para o PIB. Mas é certo que o juro também cobrará sua conta. E é isso o que espera o BC de Gabriel Galípolo que busca inflação na meta de 3% e não no teto do intervalo de tolerância, 4,50%. Variação que o mercado espera para dezembro de 2026.
A Focus prevê alta do PIB em 2,2% este ano. Mais otimistas grandes bancos apostam em 2,5%. A “prova dos nove” poderá ser tirada pelo IBC-Br e o Monitor do PIB, do Ibre FGV, com divulgações previstas para, respectivamente, segunda e terça, 14 e 15 de julho. Os dados são de maio.
A produção industrial e as vendas no varejo monitoradas pelo IBGE, também de maio, declinaram sob o efeito das condições financeiras restritivas. Mais contemporâneos, relativos a junho, os índices dos gerentes de compra (PMI, na sigla em inglês) da indústria e serviços, publicados pela S&P Global Market Intelligence, recuaram para menos de 50 pontos – fronteira entre contração e expansão da atividade.
O indicador de atividade econômica de alta frequência do Itaú Unibanco (IDAT-Daily Activity Tracker), lançado em 2020 no auge da pandemia, contraiu 0,7% em junho, ante maio. O resultado refletiu queda de 1,4% no IDAT-Serviços, enquanto o IDAT-Bens manteve-se estável.
Nos EUA serão publicados, nos próximos dias, produção industrial, vendas no varejo, um indicador de novas construções, concessões de alvarás e inflação ao produtor e ao consumidor de junho – relevantes para o Fed que, a exemplo do Copom, volta a definir sua taxa em 30 de julho e com Jerome Powell no comando, enquanto Trump “recruta” o substituto. O turn over deverá ocorrer em maio, quando Powell deixa o posto por fim de mandato.