A companhia gaúcha Be8 precisou rever a "capacidade do seu tanque" de investimentos. A partir de 1º de agosto, o percentual de mistura do biodiesel no diesel passará de 14% para 15%, o que fez a líder no mercado de biodiesel no Brasil direcionar R$ 150 milhões para melhorias operacionais e de produtividade nas fábricas. O objetivo é se preparar rapidamente para esse aumento da demanda com a decisão do governo federal.

Esse um ponto percentual, iniciativa aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão ligado diretamente à presidência da República e presidido pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, vai representar um acréscimo de volume de pelo menos 800 milhões de litros de biodiesel no mercado brasileiro.

A perspectiva é de que, com isso, o setor ultrapasse a barreira de 10 bilhões de litros de produção do biocombustível a partir do ano que vem, o que seria uma marca histórica para o segmento. O volume de 2025 deve chegar a 9,3 bilhões.

“É um avanço na política pública dos biocombustíveis. Nunca antes chegamos a esse patamar”, diz Erasmo Carlos Battistella, fundador e presidente da Be8, em entrevista ao NeoFeed.

Na prática, ainda que seja reconhecido como um salto de patamar, o percentual de 15% na mistura deveria ter sido alcançado em 2020, com base em lei aprovada em 2014 que estabelecia esse escalonamento.

Essa demora, no entanto, na avaliação do presidente da Be8, traz um fator positivo. Como investimentos foram realizados por empresas nesse período, isso garantiu uma maior capacidade produtiva no País.

“Na prática, hoje temos condições, com tranquilidade, de chegar a 18% da mistura”, diz Battistella.

O primeiro passo da Be8 para capturar essa demanda extra foi dado no início deste ano, com a conclusão de M&A de três fábricas da Biopar, localizadas em Nova Marilândia (MT), Floriano (PI) e Santo Antônio do Tauá (PA). Com isso, a capacidade produtiva da companhia aumentou em 35,6%, saltando de 1,08 bilhão para 1,47 bilhão de litros de biodiesel por ano - a empresa não revelou o valor da compra.

“Parte dos investimentos nesta aquisição foi já pensando no percentual de 15% na mistura. Queremos que esses ativos que nós incorporamos à empresa possam rodar com mais capacidade e com mais margem. Preparamos para crescer a empresa a partir disso”, afirma o CEO.

“Essas fábricas estão operando, com demanda boa, mas varia um pouco, de acordo com a sazonalidade. Os recursos também serão usados na melhoria dessas unidades. Acredito que essas plantas estarão a pleno funcionamento no próximo ano”, complementa.

Além dessas novas unidades adquiridas, a empresa tem fábricas em Passo Fundo (RS), onde fica sua sede, em Marialva (PR), e indústrias em Domdidier, na Suíça, em La Paloma del Espíritu Santo, no Paraguai, e escritórios em Genebra e em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Para Battistella, o importante neste momento para o setor, considerado novo no País, com cerca de duas décadas de atuação (a partir da criação da Programa Nacional de Biodiesel, em 2005), é garantir aumento da rentabilidade, após a etapa de grandes investimentos.

“Ainda que haja esse aumento de volume, não virá um incremento gigantesco na receita das empresas, e isso inclui a Be8. O que a gente espera é uma recomposição de margem”, diz. “Com mais oferta de produto, espero que haja esse aumento na rentabilidade.”

No ano passado, a Be8 registrou faturamento de R$ 7,3 bilhões. A expectativa para 2025 é de que a receita da companhia cresça perto de 25% e alcance R$ 9 bilhões.

BE8 SEDE BIODIESEL
Sede da companhia Be8, que fica em Passo Fundo (RS)

A empresa também aposta na expansão do BeVant, novo biodiesel lançado pela empresa e que pode ser usado diretamente no tanque do veículo a diesel, que está em fase de testes, com presença nos aeroportos de Congonhas e de Porto Alegre, e em empresas como Gerdau, Randon e Ambipar.

“Está sendo testado com excelente performance máquinas agrícolas, em frota de ônibus, na navegação, e até diminuindo o consumo em relação ao diesel. Esse novo biocombustível reduz as emissões de gás carbônico em 90%”, diz ele.

Hoje, a Be8 produz o BeVant na unidade de Passo Fundo e a tendência é, com o aumento da demanda, levar para as demais fábricas da companhia. “Quando a gente conseguir produzir junto com a unidade existente, reduz o custo de produção o torna o produto ainda mais competitivo.”

Nesse contexto de ampliação de mercado, o fundador da Be8 entende que o novo passo do governo brasileiro deve fazer com que o projeto do Combustível do Futuro, iniciativa aprovada em 2024 para promover a mobilidade de baixo carbono e diminuir a dependência de combustíveis fósseis, avance sem sobressaltos.

Pelo texto do projeto aprovado, é assegurado o percentual de 25% na mistura do biodiesel ao diesel a partir de 2031. A partir de 2025, o estabelecido é que haja o aumento de um ponto percentual por ano.

O etanol no radar

Na outra ponta dos biocombustíveis, a Be8 também avança na construção de uma fábrica de etanol a partir do uso de cereais, também em Passo Fundo, que deve ficar pronta no fim de 2026. Os investimentos da planta, que está em construção desde 2023, devem chegar a R$ 1,5 bilhão. Parte está sendo financiada com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A exemplo do biodiesel, o governo federal também irá aumentar, em agosto, a mistura do etanol na gasolina, saltando de 27% para 30%.

“Essa medida é a primeira grande entrega do projeto Combustível do Futuro e devemos chegar a 35% na mistura nos próximos dois anos”, diz Battistella.

“Vamos produzir em torno de 220 milhões de litros de etanol por ano, que vai atender a 20% do mercado gaúcho”, complementa.

A partir dessa nova fábrica, a expectativa é de a produção de etanol represente um acréscimo de 15% na receita da Be8 a partir de 2027, o que representaria um adicional de cerca de R$ 1,3 bilhão no cofre da empresa.