De um dos menos taxados na primeira rodada de tarifas americanas, o Brasil se tornou um dos mais prejudicados, após o presidente Donald Trump elevar a taxa sobre importações brasileiras para 50% nesta semana. Nas primeiras reações do mercado financeiro, o real e o Ibovespa chegaram a figurar entre os piores desempenhos do mundo, mas vêm reduzindo as perdas ao longo da quinta-feira, 10 de julho.

A expectativa é de que as tarifas americanas concentrem seus efeitos em poucos setores, tendo impacto limitado sobre a economia brasileira como um todo, já que apenas 12% das exportações têm como destino os Estados Unidos. O governo brasileiro prometeu tarifas recíprocas, o que também deve afetar empresas que dependem de produtos importados do País.

“Há uma preocupação sobre o aumento da percepção de risco no Brasil. Talvez o estrangeiro coloque o pé no freio”, disse Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações do BTG Pactual, no morning call.

Com menor presença de pessoas físicas e fundos locais, o investidor estrangeiro tem dominado o mercado brasileiro. Em junho, o capital externo respondeu por 59,60% das negociações na bolsa de valores, o maior nível da série histórica da B3, iniciada em 2019. Há seis anos, esse percentual era de 45%.

Menos otimistas com o mercado americano, foram também os estrangeiros que impulsionaram o Ibovespa à máxima histórica em junho, mais do que compensando a saída de investidores locais. Considerada até então um dos poucos portos seguros contra o aumento das tensões bélicas e comerciais, a bolsa brasileira encerrou o semestre com R$ 26,9 bilhões de entrada líquida de capital estrangeiro.

Mais da metade desse montante veio no segundo trimestre, quando ganhou força a tese de que o Brasil sairia praticamente ileso do tarifaço. Com a mudança dessa perspectiva, cresce o risco de que a direção dos fluxos também se altere.

“É um nível de tarifa que inviabiliza o comércio. Então, no curtíssimo prazo, deve haver uma interrupção do fluxo externo ou, pelo menos, uma diminuição”, diz Felipe Miranda, sócio-fundador e co-CEO da Empiricus. Segundo ele, as incertezas sobre a condução da crise devem ser o principal fator a endossar maior cautela dos estrangeiros.

“É uma neblina. Sabe-se como se entra nessa guerra comercial, mas não como se sai. Pode haver retaliação de parte a parte. Isso pode derrubar aquela ideia, que vinha fazendo um pouco de preço, de que o Brasil e a América Latina ficariam alheios a essa disputa”, afirma Miranda.

Além do efeito financeiro da menor entrada de estrangeiros, Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, chama atenção para o impacto na balança comercial e no câmbio, a possibilidade de manutenção dos juros pelo Fed e fatores sazonais também devem contribuir para a depreciação do real no segundo semestre.

“A taxação mais expressiva sobre produtos brasileiros aponta para uma apreciação do dólar contra o real pelo arrefecimento da nossa exportação para os EUA”, diz ela.

Também chama a atenção do mercado o potencial efeito político das tarifas de Trump, que teve entre as justificativas os processos do STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Para parte do mercado, a estratégia pode ter sido equivocada e terminar fortalecendo a combalida popularidade do presidente Lula.

“A base de apoio do governo no Congresso sugere que a medida pode fortalecer politicamente o Lula, intensificando o embate com seu principal antagonista — especialmente após as menções diretas do Trump ao Bolsonaro”, diz relatório do BTG Pactual.

Desde o início do ano, a constante queda da popularidade do governo vinha sendo comemorada pelo mercado, na expectativa de que uma alternância de poder pudesse endereçar o problema fiscal. Uma das teses mais repetidas por gestores era a de um rali puxado pela maior probabilidade de Tarcísio de Freitas liderar a disputa presidencial em 2026.

Para Miranda, contudo, ainda há espaço para a oposição reduzir o eventual ganho político do governo e haver um rali até a eleição.

“O próprio Bolsonaro poderia pedir a revisão das tarifas em nome dos empregos brasileiros. Há ainda a chance de o Bolsonaro ser preso e o Trump passar a apoiar o Tarcísio, o que quebraria um pouco a narrativa do Lula contra Bolsonaro.”

Outro fator que, segundo ele, deve seguir sustentando a bolsa é a expectativa de queda dos juros ao longo do próximo ano. “É uma tese que ainda se mantém no médio e longo prazo. Mas é claro que hoje e amanhã, no meio do tiroteio, haverá alguma interrupção do fluxo para o Brasil.”