Depois de LATAM (que já saiu), Gol (que está em vias de sair), chegou a vez da Azul pedir recuperação judicial (RJ) nos Unidos (Chapter 11), informou a companhia nesta quarta-feira, 26 de maio.

Com o pedido, a fusão com a Gol, que foi anunciada em janeiro deste ano, vai ficar em segundo plano, fontes a par do assunto disseram. O foco, agora, é sair da RJ e honrar os compromissos da negociação com os credores.

Com o anúncio da RJ, as ações da Azul, negociadas nos EUA, iniciaram o pré-market em queda de cerca de 40%. Os acordos incluem um compromisso de aproximadamente US$ 1,6 bilhão em financiamento ao longo do processo e a eliminação de US$ 2 bilhões de dívida, além de até US$ 950 milhões em financiamento adicional garantido em equity na conclusão do processo.

A negociação conta com os seus bondholders, seu maior arrendador de aeronaves, a AerCap (que representa a maior parte do passivo de arrendamento de aviões da Azul), e os parceiros estratégicos United Airlines e American Airlines. E, segundo a companhia, irá efetivar um processo proativo de reorganização financeira.

Segundo John Rodgerson, CEO da Azul, esse processo de Chapter 11 se diferencia dos demais por ter sido feito de forma voluntária usando o mecanismo como estratégia de amarrar os diversos acordos que estavam em andamento, e os subsistindo por este.

“Com uma abordagem colaborativa e o apoio dos nossos parceiros, tomamos a decisão estratégica de iniciar uma reestruturação financeira voluntária com um movimento proativo para otimizar a nossa estrutura de capital. Esses acordos marcam um passo significativo na transformação do nosso negócio, pois nos permitirá emergir como líderes do setor nos principais aspectos da nossa atividade”, disse Rodgerson, em um comunicado à imprensa.

O Chapter 11 é um processo de reorganização financeira supervisionado por um tribunal dos Estados Unidos que permite às empresas reestruturarem seu balanço patrimonial enquanto seguem operando normalmente.

A Azul pretende usar esse instrumento legal para eliminar aproximadamente US$ 2 bilhões em dívida total financiada, reduzir obrigações de arrendamento e otimizar sua frota, permitindo que a companhia saia do processo de reestruturação com mais flexibilidade e uma estrutura de negócios e de capital mais sustentável.

O acordo já prevê a solução para alguns pagamentos em aberto e prevê ao final um investimento em equity adicional de até US$ 300 milhões pela United Airlines e pela American Airlines, sujeito a certas condições. Com isso, ambas as companhias passariam a ser sócias da empresa ao fim da recuperação judicial americana.

Dentre os pagamentos já acordados está um compromisso de financiamento na modalidade DIP de aproximadamente US$ 1,6 bilhão, que pagará parte da dívida existente e fornecerá à companhia aproximadamente US$ 670 milhões de capital novo para reforçar a liquidez durante e após o processo.

Na conclusão da reestruturação, os acordos preveem que o financiamento DIP seja pago com os recursos provenientes de uma Oferta de Direitos de Ações de até US$ 650 milhões, apoiada por alguns desses parceiros financeiros.

Segundo a companhia, o abrangente pacote de financiamento significa que o caminho para a conclusão da reestruturação já está delineado, o que simplifica o processo e acelera o cronograma.

A Azul informou que seguirá operando normalmente e manterá investimentos já previstos, apesar de iniciar processo de otimização da frota. A Azul protocolou petições de praxe junto ao Tribunal para apoiar a continuidade das operações, incluindo, mas não se limitando, a manutenção dos programas de remuneração e benefícios para os tripulantes; o cumprimento de todos os compromissos com os clientes, como passagens para viagens futuras e benefícios do programa Azul Fidelidade; e o atendimento das obrigações futuras com certos fornecedores críticos para a companhia.

Impactos esperados no balanço

Em apresentação divulgada ao mercado, a Azul afirma que após o processo de recuperação judicial iniciado nos Estados Unidos prevê que sua alavancagem financeira líquida seja reduzida de 5,1X para 3X a dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização e custos de aluguel.

A companhia aérea projeta ainda que sua alavancagem seguirá tendência de queda, chegando a 2,2 vezes em 2026 e 1,7 vez em 2027. As despesas financeiras com juros cairão de US$ 324 milhões para US$ 113 milhões ao fim do processo, US$ 85 milhões em 2026 e US$ 105 milhões em 2027.

O plano de reestruturação conta ainda com uma otimização de frota que prevê a redução de 35% no número de aviões, mantendo ainda a aberturas de novas rotas estratégicas, dando à Azul uma melhor otimização de investimentos, custos de manutenção e menor exposição cambial.

A empresa prevê sair do processo de recuperação judicial dos Estado Unidos com 170 aeronaves, contra 201 previstas anteriormente. Em 2026, a projeção é de ter 172 aeronaves, contra 218 no seu orçamento anterior.

A projeção da Azul é que a otimização operacional reduza sua taxa composta de crescimento anual (CAGR, na sigla em inglês) das receitas entre 2025 a 2029 de 11,9% para 7,6%, enquanto a da Ebitdar cai de 14,3% para 10,5%, a da capacidade de voos (ASK) de 11,1% para 3,8%, enquanto a de tráfego (RASK) sobe de 0,7% para 3,7%.