A redução do endividamento segue como prioridade da Azul, um mês após o aumento de capital que resultou na conversão de parte da dívida da companhia em ações. A mensagem foi reforçada pela diretoria em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 14, após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre. No período, o prejuízo líquido somou R$ 1,816 bilhão — alta anual de 480% — com queda de 2,1% no Ebitda, para R$ 1,386 bilhão.
A despesa financeira da Azul atingiu R$ 2,36 bilhões no trimestre, 111,5% maior em relação ao mesmo período do ano passado, ainda sem os efeitos do aumento de capital. “Queremos ver quais são as opções disponíveis para acelerar ainda mais essa desalavancagem e melhorar nossa liquidez”, afirma Alexandre Malfitani, CFO da Azul.
O aumento de capital movimentou R$ 1,661 bilhão, sendo R$ 1,613 bilhão decorrente da conversão em ações de 35% dos títulos com vencimento em 2029/30, e apenas R$ 48 milhões de demanda adicional por parte dos acionistas. A entrada de recursos foi considerada abaixo do esperado, segundo a XP, que projeta uma redução de 0,4 ponto na alavancagem medida pela relação dívida líquida/Ebitda, atualmente em 5,2 vezes. Há um ano, essa relação era de 3,7 vezes.
Malfitani disse que a Azul está em conversas com arrendadores de aeronaves e bondholders sobre eventuais novos aportes na companhia. “Todo mundo sabe que essa empresa vai continuar operando e tem muita gente interessada em investir. Precisamos negociar as condições: qual o volume, os termos. Obviamente, não temos nenhum acordo — senão teríamos divulgado. Então, não posso dizer o que os bondholders vão aceitar ou não.”
Embora ainda não haja uma proposta concreta na mesa, o CEO John Rodgerson reforçou a intenção de seguir trocando dívida por equity. “Pode ser via follow-on, mas há várias formas de fazer isso. Não entrou capital novo nessa última oferta, mas muita dívida desapareceu.”
O principal fator para a baixa adesão dos acionistas à oferta de abril, segundo Rodgerson, foi a cláusula de não diluição, criada para proteger os credores. Ela previa que o preço de conversão da dívida em ações — fechado a R$ 3,58 e R$ 3,37 — poderia ser ajustado para baixo, caso houvesse uma nova emissão a preço inferior.
“Se eu fizesse uma emissão a R$ 2,00, o conversível, em vez de ser a R$ 3,37, passaria a ser a R$ 2,00”, explica Malfitani. Para ele, a cláusula afastou os acionistas da operação.
Problemas técnicos
Além do endividamento ainda elevado, a Azul enfrenta problemas técnicos em aeronaves novas. Modelos como os E2 e E-320 da Embraer, além dos Airbus 330neo e 320neo, têm apresentado dificuldades de manutenção.
“Eles oferecem uma economia de combustível maravilhosa, quando voam. Mas estão em um período de maturação, em que precisam passar por inspeções mais frequentes”, diz Malfitani.
Na prática, isso reduz o tempo disponível de voo e, em alguns casos, provoca cancelamentos e reordenação de passageiros. “Quando acontece muito em cima da hora, com o cliente já no aeroporto ou voltando da viagem, temos um custo de reacomodação muito mais alto”, afirma.
Rodgerson diz que essa necessidade extra de manutenção tem superado as estimativas contratuais, e que a companhia pretende cobrar compensações das fabricantes de aeronaves e motores. “É claro que vamos sentar à mesa e negociar alguma recompensa por isso. Essa negociação está sempre acontecendo.”
As ações da Azul caem 14% nesta quarta, após divulgação do resultado, sendo negociada a R$ 1,23. Os papeis acumulam perda de 65,5% no ano e de 89% em 12 meses. A companhia aérea está avaliada em R$ 1,1 bilhão.