O recém-efetivado plano de reestruturação da Infracommerce visa a garantir um futuro sustentável para a companhia, que sofreu nos últimos anos com o alto endividamento. Após a reestruturação que está em curso, a companhia projeta sair de uma dívida líquida de R$ 736,4 milhões para um caixa líquido de R$ 15,2 milhões. Há também a possibilidade de a empresa ter um novo controlador: o grupo Geribá Investimentos.
Desenhado desde 2024, o plano final prevê o pagamento, por meio de debêntures conversíveis em ações, de R$ 732,4 milhões referentes à dívida com Itaú, BB, Santander e ABC Brasil — responsáveis por 92% do passivo bancário.
O direito sobre esse crédito foi cedido para a Vermelha do Norte, uma empresa do grupo Geribá, que em 2024 firmou um acordo de aporte de até R$ 70 milhões condicionado à reestruturação com os bancos. A depender do preço da conversão das debêntures, a gestora de ativos estressados, que hoje tem 18% da empresa, passaria a ter a maioria das ações.
É previsto também, no plano de reestruturação, o pagamento de R$ 105 milhões em dívidas relacionadas a aquisições feitas anteriormente. Em contrapartida, a Infracommerce se tornará controladora integral de suas subsidiárias, com os ex-sócios se tornando acionistas da holding via conversão das debêntures. A previsão é de que a subscrição e a integralização dessas debêntures seja concluída até esta quarta-feira, 28 de maio.
“As dívidas de M&A e as dívidas bancárias foram transformadas em instrumentos mandatoriamente conversíveis. Elas serão pagas, mas não com efeito caixa — com efeito equity”, afirma Bruno Vasques, CFO da Infracommerce, em entrevista ao NeoFeed.
Diferente de outros reperfilamentos, como o da Azul, que fixam um preço mínimo de conversão, o da Infracommerce adota apenas um critério de preço: a média ponderada da cotação dos últimos 30 pregões. Com os papéis negociados a R$ 0,08, o risco de diluição é expressivo. “O efeito de diluição vai depender do valor das ações na data da solicitação da conversão”, diz Vasques.
Com base em uma média simples de R$ 0,08, a conversão teria potencial de elevar o número total de ações de 1,48 bilhão para 11,313 bilhões — uma diluição de 89%. Uma fatia de 10% no capital cairia para cerca de 1,1%.
Mesmo com esse efeito, a participação do grupo Geribá pode chegar a 78,5%, somando as fatias da GB Securitizadora e Vermelha do Norte. Já os ex-sócios das subsidiárias devem ficar com cerca de 10,75% do negócio, considerando a conversão dos R$ 105 milhões de dívida de M&A ao mesmo preço por ação.
As debêntures emitidas para viabilizar a reestruturação têm remuneração atrelada aos Depósitos Interfinanceiros (DI) de um dia, acrescida de um spread regressivo que varia de 7% a 3% ao longo do tempo. O adicional é de 7% no primeiro ano, caindo para 6% no segundo, 5% no terceiro, 4% no quarto e, por fim, 3% até o vencimento, em cinco anos.
Pelos termos previstos, os credores têm até cinco anos para converter as debêntures em ações. No entanto, não há uma data mínima para iniciar a conversão nem um período de lock up para a negociação dos papéis no mercado.
Regras de free float e penny stock
Somando ainda os investimentos do Pátria (hoje com 3,92% das ações), do americano Igneous (com 7,63%) e de outros fundos de venture capital com posições menores, a companhia ainda pode enfrentar desafios para manter o nível mínimo de ações em circulação exigido pela B3. O Novo Mercado, segmento em que a Infracommerce está listada, exige pelo menos 20% de free float.
A empresa também lida com a exigência de realizar um grupamento de ações. O regulamento da bolsa proíbe que papéis sejam negociados por mais de 30 pregões abaixo de R$ 1. Desde março do ano passado, os ativos da companhia estão na faixa dos centavos.
A CVM notificou a empresa, determinando que o grupamento seja feito até 30 de junho deste ano. A Infracommerce ainda não publicou nenhum documento oficial sobre a operação, mas informou que irá cumprir a determinação e que não pretende solicitar a prorrogação do prazo.
Com as ações nesse patamar, qualquer variação de preço gera forte oscilação percentual, tornando o papel mais arriscado tanto para posições compradas quanto vendidas. No mercado, a companhia segue num limbo de atenção, com pouquíssimos analistas acompanhando o papel.
Embora esquecida pelos investidores, a empresa acredita estar encerrando seu ciclo de aquisições e crescimento desordenado para entrar em uma nova fase de foco e previsibilidade. Como definiu Luiz Pavão, CEO Brasil da companhia, no último call de resultados, a estratégia agora passa por um modelo que “caiba dentro do caixa”, com uma operação mais “austera”, “disciplinada” e voltada à geração de resultados.
Com uma estratégia de expansão arrojada, a Infracommerce chegou à bolsa em 2021 em um momento de crescimento agressivo pela América do Sul. Mas, com a alta dos juros, acabou se afogando em dívidas e viu suas ações desabarem 99,5% desde o IPO.
Em 2024, o prejuízo financeiro somou R$ 156,1 milhões — maior que seu valor de mercado atual de R$ 118,4 milhões — e, no primeiro trimestre, a companhia reportou um prejuízo de R$ 44,8 milhões. Mais uma vez, o resultado foi fortemente impactado pela despesa com a dívida, que somou R$ 40,5 milhões no período.
A reportagem entrou em contato com a Geribá Investimentos, mas não obteve resposta. Os bancos credores informaram a reportagem que não vão comentar.