No domingo, 7 de abril, Elon Musk fez do Brasil o palco da sua mais recente polêmica, ao disparar contra Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e ameaçar fechar o escritório local do X (antigo Twitter) e descumprir decisões sobre a remoção de conteúdos e contas na plataforma.
Se a semana já começou quente para Musk no Brasil, os próximos dias também prometem ser nada tranquilos para o empresário. Dessa vez, porém, no mercado doméstico de outra empresa da sua lavra, a americana Tesla. E com possíveis consequências em outra categoria: os carros autônomos.
Está marcado para quinta-feira, 11 de abril, o início do julgamento do caso envolvendo o acidente que vitimou Walter Huang, em 2018, na Califórnia. O engenheiro morreu quando seu carro, um Model X, da Tesla, colidiu com uma barreira na Highway 101, enquanto ele usava o Autopilot, sistema de direção assistida da montadora.
Caberá ao júri decidir quem é o responsável pelo acidente, o motorista ou a Tesla. Caso aponte para a segunda opção, o veredito pode trazer sérias implicações para a indústria de carros semi ou totalmente autônomos, categoria na qual a montadora de Musk é um dos principais nomes.
Nessa direção, a família de Huang questiona se a Tesla superestimou as capacidades do Autopilot e se a empresa não tomou medidas suficientes para evitar que seus clientes usassem indevidamente a tecnologia.
Entre as evidências incluídas no processo pela família está um e-mail de Jon McNeill, ex-presidente da Tesla. Na mensagem, enviada dois anos antes ao chefe do Autopilot e a Musk, o executivo afirma que dirigiu centenas de quilômetros em um Model X, com a tecnologia em questão ativada.
“Fiquei tão confortável com o Autopilot que acabei perdendo as saídas porque estava imerso em e-mails ou ligações (eu sei, eu sei, não é um uso recomendado)”, escreve McNeill, na mensagem.
A Tesla, por sua vez, alega que Huang é o responsável pelo acidente, pois estava jogando videogame enquanto veículo estava no piloto automático. Apesar de reconhecer que ele se distraiu pouco antes do acidente, sua família argumenta que a empresa é a culpada por vender o sistema de direção autônoma.
Fontes ouvidas pelo The Wall Street Journal (WSJ) projetam, que, caso a culpa recaia sobre a Tesla, o processo pode representar um grande passivo financeiro para a companhia. Especialmente pelo fato de a empresa já enfrentar outras disputas judiciais relacionada ao Autopilot.
“Cada advogado que tenha um desses casos estará observando isso”, disse Matthew Wansley, professor associado da Cardozo School of Law da Yeshiva University, ao WSJ. Ele pesquisou sistemas de direção autônoma e criticou o marketing dessa tecnologia feito pela Tesla.
“A indenização por danos pode ser significativa aqui”, afirmou Wansley, acrescentando que, nesses casos, os júris normalmente estabelecem valores com base na perda de renda da vítima. Nos dois últimos casos, porém, a montadora não foi responsabilizada pelos acidentes.
O risco para a Tesla passa, porém, pelo fato de que diversos órgãos têm investigado o Autopilot. Entre eles, o Departamento de Justiça americano e a Securities and Exchange Commission (SEC), que apuram, separadamente, se a empresa enganou clientes e investidores sobre o desempenho do sistema.
Outra entidade que tem se debruçado sobre o sistema é a National Highway Safety Administration, que também vem investigando a tecnologia de direção autônoma mais expansiva da Tesla, batizada de “Full Self-Driving Captabiity”.
Com esse trabalho ativo já há alguns anos, o órgão contabiliza mais de 40 investigações sobre acidentes suspeitos de terem conexão com o sistema de piloto automático da Tesla, que resultaram em 23 mortes.
Em dezembro do ano passado, na trilha dessas investigações conduzidas pela National Highway Safety Administration, a Tesla concordou em fazer um recall em mais de 2 milhões de veículos que contavam com a tecnologia.
Atualmente, o sistema em questão está disponível em todos os novos modelos da montadora. A empresa também comercializa assinaturas para versões mais avançadas do Autopilot e Musk já afirmou que tais vendas podem gerar lucros significativos para a companhia.
A Tesla ressalta, porém, que o software não foi projetado para uma direção totalmente autônoma e permite que os motoristas assumam o controle quando ele está acionado. A empresa também destaca que seu site e os manuais de usuário deixam claro que a supervisão ativa do motorista é necessária.
A montadora de Musk não é, porém, a única a enfrentar problemas nessa esfera. Mais recentemente, quem também tem cumprido um percurso acidentado é a Cruise, subsidiária da General Motors responsável pelo desenvolvimento de carros autônomos, comprada em 2016, por US$ 1 bilhão.
Em outubro de 2023, a Cruise ficou sob a mira da Justiça e teve seus serviços de carros autônomos suspensos nas cinco cidades americanas em que operava, após uma série acidentes. Um mês depois, Kyle Vogt, fundador e CEO da empresa, renunciou ao comando da companhia.