O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, oficializou o que o mercado financeiro já esperava: o superávit fiscal foi postergado para 2025. Neste ano, a equipe econômica vai perseguir o déficit zero para reforçar o compromisso do governo federal com a responsabilidade fiscal.
O que mais vem sendo questionado é a facilidade de criar regras e modificá-las à medida que as dificuldades aparecem ou quando novas prioridades entram em cena.
“A discussão fiscal tem de ser muito séria e transparente. Se fugir, vai ser pior”, disse Joaquim Levy, diretor de estratégia econômica e relações com mercados do Safra, em entrevista para o Kafé com Kinea.
Apresentado por Ruy Alves, gestor de macro global da empresa com mais de R$ 130 bilhões sob gestão, o podcast foi gravado alguns dias antes de o governo federal entregar ao Congresso Nacional a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025.
Mas Levy, que foi ministro da Fazenda em 2015, no governo Dilma Rousseff; secretário do Tesouro Nacional de 2003 a 2006, no governo Lula; e presidente do BNDES em 2016 no governo Jair Bolsonaro, entende que, independentemente do momento, deve haver um debate sobre o equilíbrio das contas públicas.
“Precisamos ter uma discussão mais honesta sobre a despesa e o que dá para trabalhar mais a nível nacional, estados e municípios. O que vemos são governadores pedindo para não pagar a dívida [com a União] para continuar aumentando as despesas”, disse Levy. “E na questão da receita acho que também precisa ter clareza.”
De acordo com o economista do Safra, a partir de 2016 a proporção da receita da União em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) vem caindo por uma série de decisões, sejam elas judiciais ou em forma de benefícios fiscais.
“É preciso ter uma conversa com o Congresso e a sociedade sobre como enfrentar isso. Temos uma oportunidade de trabalhar isso na reforma tributária, que agora vai ter de entrar nos detalhes”, afirmou o ex-ministro da Fazenda. “Mas se cada um tenta puxar um pedacinho do peixe, vamos perder uma grande oportunidade.”
Levy se diz otimista com as reformas, mas cobra uma postura mais voltada para o bem comum para que o “barquinho não ande para trás”. Para ele, focar na conclusão da reforma tributária ajuda na tomada de decisão de como, onde e quem vai investir - um ponto fundamental para a expansão do PIB.
“Teve o choque da agricultura no PIB do ano passado. Neste ano, a política monetária e o consumo vão ajudar. Mas no próximo vai ter de ser o ano do investimento”, disse Levy.
O economista do Safra afirma que o ministro Haddad está agindo com grande pertinácia. Sinônimo para pessoa perseverante e obstinada, Levy diz que ele tem “segurado a barra” da economia. Mas toda essa discussão de equilíbrio de contas precisa ser aberta à sociedade.
“Não adianta nos escondermos em soluções padrão. Tem de cortar o gasto, mas onde?, como? o quê? Eu sei que ninguém gosta de pagar imposto, eu também não gosto, mas temos de ter uma equação”, afirmou Levy.