Primeiro foram os Estados Unidos. Agora, é a vez da Europa ampliar os obstáculos e reforçar o cerco aos carros elétricos chineses na tentativa de conter o avanço em seus territórios de concorrentes como BYD, Geely e SAIC.
Um mês depois de o governo americano ampliar as alíquotas de importação de 25% para 100%, a Comissão Europeia anunciou nesta quarta-feira, 12 de junho, que poderá taxar os veículos elétricos oriundos do país asiático em até 38,1%, além do imposto padrão já em vigor de 10%.
A medida segue a trilha de uma investigação iniciada em outubro de 2023, cujos resultados preliminares mostraram que a cadeia de valor das montadoras chinesas se beneficia de “subsídios injustos” e representa uma “ameaça de perdas econômicas para os fabricantes da União Europeia”.
Entre outros dados, a investigação estima que a participação de mercado das marcas chinesas no mercado da região saiu de menos de 1%, em 2019, para um patamar atual de 8%. Além de projetar que esse índice pode chegar a 15% em 2025.
“Consequentemente, a Comissão contatou as autoridades chinesas para discutir essas conclusões e explorar possíveis formas de resolver as questões identificadas de uma maneira compatível com a Organização Mundial do Comércio”, afirmou o órgão, em nota.
Caso essas discussões não caminhem para uma solução eficaz, o aumento da taxa entrará em vigor no próximo dia 4 de julho e os valores ainda poderão ser alterados até o fim da investigação, previsto para dezembro. A princípio, as novas alíquotas terão índices diferenciados para três montadoras chinesas.
O patamar de 38,1%, será aplicado aos carros da SAIC. Já a Geely e a BYD terão taxas, respectivamente, de 20% e 17,4%. Para as fabricantes que colaboraram com a investigação a tarifa média será de 21%, enquanto os players que não seguiram esse caminho estarão sujeitos ao teto de 38,1%.
Se, no discurso oficial, a intenção é entrar em um acordo com as autoridades chinesas, as reações ao anúncio mostram que o caminho escolhido não foi o mais indicado. A Câmara de Comércio da China na União Europeia ressaltou “choque, séria decepção e profunda insatisfação” com as medidas.
Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, disse à agência Reuters que a investigação era um “caso típico de protecionismo” e também apontou que as tarifas anunciadas iriam prejudicar a cooperação econômica entre a China e a União Europeia.
O Ministério do Comércio da China, por sua vez, reforçou ainda mais esse caldeirão ao informar que vai tomar as medidas necessárias para garantir os direitos legítimos das empresas e montadoras chinesas.
A má recepção não deve se limitar, porém, a esses atores. Parte das montadoras europeias também vê a medida com reservas, dado que as prováveis retaliações podem prejudicar os seus negócios na China. Além do fato de que muitos desses players também produzem e importam veículos daquele país.
A francesa Renault, por exemplo, se encaixa nesse segundo exemplo. A montadora importa o modelo Dacia Spring EV da China. E mantém, no país, uma joint venture com a Dongfeng, que, provavelmente, terá seus modelos afetados pelas novas tarifas.
Quando se pensa nos negócios dos players europeus na China, o maior impacto pode estar reservado às montadoras alemãs. Alguns poucos dados do primeiro trimestre ajudam a dar uma medida desse estrago em potencial no caso de eventuais retaliações.
Entre janeiro e março deste ano, a China respondeu por cerca de 32% das vendas da BMW e por 30% das vendas da Volkswagen e da Mercedes-Benz. CEO da BMW, Oliver Zipse já havia manifestado sua preocupação dizendo que a imposição de uma taxa adicional era o “caminho errado a seguir”.
Já a Volkswagen ressaltou que os “efeitos negativos” das tarifas “superam quaisquer benefícios potenciais para a indústria automotiva europeia e, especialmente, para a alemã.
Enquanto Ola Kaellenius, CEO da Mercedes-Benz, observou que o desmantelamento das restrições e a expansão do comércio justo e livre levaram ao comércio econômico. “Portanto, não devemos ir em outra direção agora”, acrescentou.