Da primeira fila temos a melhor visão, mas não necessariamente a melhor opinião — e Barack Obama sabe bem disso. No palco do Dreamforce, o megaevento da Salesforce, em São Francisco, o ex-presidente dos Estados Unidos disse que, constantemente, “driblava” seus conselheiros mais próximos para ouvir os assistentes e funcionários juniores sentados na fileira de trás.
“Eu via aqueles jovens tomando notas na parte de trás e, de repente, perguntava: ‘ei, você, o que pensa sobre este assunto?”, disse. “Eu sequer sabia o nome desses garotos, mas eles pareciam ocupados!”, completou, arrancando risadas da plateia que incluía a reportagem do NeoFeed.
O tom jocoso da história contada por Obama revela a seriedade de um gerenciamento humilde e a importância de incluir jovens líderes na conversa — dois fatores que o ex-presidente tenta replicar na fundação que desenha ao lado da esposa, Michelle.
“Eu via aqueles jovens tomando notas na parte de trás e, de repente, perguntava: ‘ei, você, o que pensa sobre este assunto?”
Selecionar bem os parceiros, aliás, sempre foi o ingrediente nada secreto da receita de sucesso de Obama — repetida em sua vida pessoal e vez após vez durante sua gestão na Casa Branca também. Foi lá Washignton DC, aliás, que o ex-presidente encontrou o melhor exemplo para mostrar a potência dessa teoria posta em prática.
Durante sua administração, Obama teve de lidar com um dos maiores desastres ambientais da história: o vazamento de óleo no Golfo do México, em abril de 2010, em instalações da BP. Sem entender do assunto, o então presidente confiou em soluções propostas por seu secretário da energia, Steven Chu.
“Felizmente deu certo, mas mesmo se não desse, eu dormiria tranquilo sabendo que eu tomei a melhor decisão que poderia, com as informações que tinha, porque ouvi os maiores especialistas no assunto”, contou.
Refutando os créditos pela proeza de “salvar o planeta”, como alguns jornais escreveram na época, o ex-presidente atribui todos os méritos a Chu — menos um: o de contratá-lo. “O meu acerto foi trazer para o meu time as pessoas certas”, pontua. E para se cercar dos melhores, Obama diz que é preciso olhar além dos lugares óbvios — “há talentos por todos os lados”.
O mesmo vale para a idade. O americano acredita que os jovens têm nas mãos um combo valioso de paixão, inovação e “cinismo” — o suficiente para se indignar com as negativas do mundo e questionar: “por que não?”. “Grandes líderes começaram suas lutas ainda muito jovens”, afirmou, trazendo exemplos como Martin Luther King, que aos 26 anos estava à frente do movimento de direitos civis em favor da população negra americana.
Obama diz que é preciso olhar além dos lugares óbvios — “há talentos por todos os lados”
Essa típica potência juvenil será fundamental, na opinião do político, para combater o que considera as maiores preocupações do mundo moderno: a mudança climática, a desigualdade social e as fake news — nesta ordem. “Acho que a questão ambiental tem de ser prioridade absoluta, porque já estamos muito atrasados nisso”, afirma, “e talvez atrasados demais em certos pontos”.
Enquanto reconhece os avanços obtidos com a globalização e o desenvolvimento tecnológico, Obama teme que esses fatores aprofundem e alarguem ainda mais o abismo social — sobretudo em países em desenvolvimento. Para ele, as nações mais ricas têm o dever de ajudar as demais a conseguirem cumprir certas obrigações sociais, como educar todas as crianças.
Parte deste processo de transformação passa pela terceira problematização de Obama, o aumento de fluxo informativo. “Quando era jovem, tínhamos apenas três canais de televisão. Isso significa que poderíamos discordar, mas a conversa acontecia em um terreno conhecido”, revela. Agora, o ex-presidente acredita que, dependendo do veículo pelo qual uma pessoa se informa, ela pode praticamente viver em um mundo à parte.
Ele, que já lutou com documentos contra algumas notícias falsas, hoje enfrenta certas ignorâncias com piada: "vocês sabem, eu nasci no Quênia e me mudei criança para o Havaí", disse em determinado momento, levando os presentes às gargalhadas e a uma salva de palmas.
Obama, quando ainda era candidato, foi acusado de não ser cidadão americano. Seus opositores, que incluía o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, diziam que o político havia nascido no Quênia e adulterado sua certidão de nascimento.
Caso fosse verdade, Obama, que é havaiano, não preencheria os requisitos para ocupar a liderança da Casa Branca. Durante seus dois mandatos e além, o ex-presidente ainda ouve esses boatos falaciosos – que, pelo menos agora, foram reciclados em piadas.
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