Mergulhada no que aparenta ser uma crise sem fim, a Boeing aposta em um "novo comandante" para ajustar a sua rota. A grande dúvida é se a experiência será capaz de tirar a companhia da queda livre em que ela se encontra desde 2018.

A fabricante de aeronaves anunciou na quarta-feira, 31 de julho, o tarimbado Robert “Kelly” Ortberg como seu novo CEO, no lugar de Dave Calhoun. Aos 64 anos e com 35 anos de atuação no setor aéreo, tendo no currículo a experiência de ter liderado a Rockwell Collins, fabricante de equipamentos para aeronaves, Ortberg assumirá o “manche” da Boeing a partir de 8 de agosto.

A notícia,  princípio, anima os investidores, ofuscando os resultados do segundo trimestre. Por volta de 12h30, as ações registravam alta de 2,6%, a US$ 191,2. No ano, elas acumulam queda de 28,3%.

O trabalho de Ortberg, porém, não será nada simples. Ele herdará uma companhia que vem experimentando uma série de contratempos desde a crise provocada pela queda de dois aviões 737 MAX entre o final de 2018 e 2019, que resultaram na morte de 346 pessoas e na interrupção das operações da quarta geração da família 737 por cerca de 20 meses.

Com o episódio, mais outras notícias de voos com problemas, começaram a surgir acusações de negligência a respeito dos processos de certificação de segurança desse e de outros modelos de aeronaves produzidos pela Boeing, gerando uma crise de confiança em torno da companhia.

Uma reportagem de abril do jornal The New York Times apurou que a FAA, a agência reguladora do setor dos Estados Unidos, investigava alegações feitas por um engenheiro da Boeing de que seções da fuselagem do avião 787 Dreamliner estava sendo inadequadamente fixadas e poderiam se separar durante o voos, após milhares de viagens.

A companhia também teve problemas com uma de suas principais fornecedoras. No ano passado, foi descoberto que a Spirit AeroSystems utilizou um processo “não convencional” para montar parte da fuselagem dos aviões 737 MAX.

A situação fez com que, em julho, a Boeing concordasse, em princípio, em se declarar culpada de fraude em conexão aos acidentes fatais com o 737 MAX, em processo movido pelo governo dos Estados Unidos.

Em 2022, a companhia fechou um acordo com a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos Estados Unidos) para pagar uma multa de US$ 200 milhões para encerrar o processo em que era acusada de enganar investidores a respeito da segurança do 737 MAX e de seu sistema de controle automatizado de estabilização, o MCAS, apontado como culpado pela queda dos dois aviões.

Tudo isso resultou numa enorme queda no valor de mercado da Boeing. Desde 2020, a empresa perdeu quase US$ 25 bilhões em market cap, segundo cálculo do The Wall Street Journal. Atualmente, a companhia é avaliada em US$ 116,1 bilhões.

Os problemas da Boeing tem se refletido até hoje nos resultados. Em função das menores entregas de aeronaves, além de questões envolvendo a divisão militar, fez com que a companhia registrasse um prejuízo de US$ 1,4 bilhão no segundo trimestre, muito acima da perda de US$ 149 milhões vista no mesmo período de 2023.

A receita da companhia recuou 15%, na mesma base de comparação, para US$ 16,8 bilhões, com a queima de caixa totalizando US$ 4,3 bilhões, acima dos US$ 3,9 bilhões apurados nos primeiros três meses do ano.

No segundo trimestre, as entregas de aviões comerciais recuaram 32%, em base anual, para 92 unidades, com a divisão registrando um prejuízo de US$ 715 milhões, aumento de 86,6%.