O voo turbulento que a Boeing enfrenta desde o final de 2018 parece não ter fim. Com o 737 MAX voltando a ser um problema, com novas acusações de negligência a respeito dos processos de certificação de segurança desse e outros modelos, a fabricante de aeronaves registrou no primeiro trimestre o menor número de entregas de aviões desde meados de 2021.
A Boeing informou na terça-feira, 9 de abril, ter entregue 83 aviões comerciais, abaixo dos 130 registrados no mesmo período do ano passado. O resultado veio menor do que a média das projeções dos analistas de Wall Street, que apontava para a entrega de 104 unidades, segundo o site Barron’s.
O desempenho da Boeing no começo do ano contrasta com o da sua principal rival, a Airbus. A fabricante europeia informou que entregou um total de 142 aviões nos primeiros três meses do ano, um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2023.
A Boeing vem desacelerando a produção para melhorar a qualidade e a segurança dos produtos. A decisão veio após um incidente ocorrido no voo da Alaska Airlines, em janeiro deste ano, quando um 737 MAX operado pela companhia sofreu uma falha estrutural, perdendo parte da fuselagem, o que fez com que a porta de emergência se abrisse em pleno voo, a 4,9 mil metros de altitude.
A qualidade e a segurança das aeronaves é uma questão da Boeing desde a queda de dois 737 MAX, entre o final de 2018 e início de 2019, episódios que resultaram em 346 vítimas fatais e a interrupção das operações da quarta geração da família Boeing 737 por cerca de 20 meses.
O tema voltou à tona na terça, 9 de abril, depois que o jornal The New York Times publicou uma reportagem afirmando que a FAA está investigando alegações feitas por um engenheiro da Boeing de que seções da fuselagem do avião 787 Dreamliner estão sendo inadequadamente fixadas juntas e poderiam se separar durante o voo, após milhares de viagens.
Segundo o engenheiro, Sam Salehpour, que falou com o NYT, os problemas de fixação surgiram como resultado de mudanças na forma como as seções eram ajustadas e fixadas na linha de montagem. Ao jornal, um porta-voz da Boeing admitiu as mudanças, mas afirmou que “não há impacto na durabilidade ou longevidade segura da estrutura da aeronave”.
Em meio às discussões sobre o controle de qualidade e o desempenho de entregas no primeiro trimestre, os olhos dos investidores estarão voltados para os resultados financeiros do período, previstos para serem divulgados em 24 de abril, em busca de sinais de como a companhia está lidando com seus problemas. Um deles é a queima de caixa.
No final de março, o CFO da companhia, Brian West, disse em evento do Bank of America (BofA), em Londres, que a companhia deve sentir um impacto acima do esperado, entre US$ 4 bilhões e US$ 4,5 bilhões no fluxo de caixa, por conta dos problemas operacionais, segundo informações da agência de notícias Dow Jones.
De acordo com West, a Boeing deve continuar queimando caixa até resolver as questões de qualidade e regulatórias, com a expectativa de que o fluxo de caixa feche o ano positivo, com um montante de “um dígito baixo”.
As ações da Boeing fecharam o pregão com queda de 1,89%, a US$ 178,12. No ano, os papéis acumulam queda de 30,7%, levando o valor de mercado a US$ 109,2 bilhões.