Ano novo, problema velho. A Boeing começa 2024 da mesma forma como terminou 2023: com problemas em um dos principais modelos do seu portfólio. Nesta segunda-feira, 8 de janeiro, as ações da fabricante americana chegaram a cair mais de 10% no pre-market após um novo caso envolvendo a aeronave 737 MAX. E abriram o dia de negociações nos Estados Unidos em queda de mais de 8%.

O incidente aconteceu na última sexta-feira, quando um 737 MAX operado pela Alaska Airlines sofreu uma falha estrutural. O avião perdeu parte de sua fuselagem, o que fez com que a porta de emergência se abrisse durante o voo, a  4,9 mil metros de altitude.

A aeronave, que transportava 177 pessoas, teve que fazer um pouso de emergência. Felizmente, não havia nenhum passageiro sentado nos dois assentos mais próximos à porta em questão.  “Temos muita, muita sorte por isso não ter terminado em algo trágico”, disse Jennifer Homendy, presidente do Conselho Nacional de Segurança nos Transporte, conforme reportado pelo The Wall Street Journal.

No sábado, 6 de janeiro, a Administração Federal de Aviação (FAA) ordenou que as companhias aéreas suspendessem os voos com os 171 aviões do modelo MAX 9 nos Estados  Unidos para a realização de inspeções.

Em nota, a Boeing informou que concorda com a decisão da FAA e disse que iria cooperar com as investigações dos acidentes. “A segurança é a nossa principal prioridade e lamentamos profundamente o impacto que este evento teve nos nossos clientes e nos seus passageiros”, afirmou a companhia em nota.

O incidente já respingou no Brasil. No fim de semana, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu a utilização do jato. A Copa Airlines foi a única empresa afetada, já que utiliza a aeronaves para voos no Aeroporto de Guarulhos.

Turbulência antiga

O episódio da Alaska Airlines é mais uma peça na coleção de problemas acumulados pela família 737 Max, que entrou em operação em 2017. Na época, o modelo era apontado como a principal aposta no horizonte da Boeing.

Esse histórico conturbado da aeronave teve  início pouco tempo depois, com dois acidentes que resultaram em 346 mortes.  O primeiro, em novembro de 2018, na Indonésia. E o segundo na Etiópia, em março de 2019.

As duas tragédias foram seguidas pela suspensão da operação dos 737 MAX em mais de 50 países, por mais de um ano. E as investigações sobre os acidentes trouxeram à tona uma série de questionamentos sobre o desenvolvimento do projeto e, inclusive, sobre o papel da FAA na aprovação do modelo.

Em abril de 2023, por exemplo, em meio à pressão dos órgãos reguladores, a companhia informou que a parceira Spirit Aerosystems utilizou um processo "não convencional" ao montar parte da fuselagem dos aviões. Isso impediu que os modelos cumprissem certas especificações dos reguladores do setor.

Antes disso, em 2022, a fabricante americana foi condenada a pagar uma multa em um processo envolvendo o 737 MAX. Na época, a Securities and Exchange Commission (SEC) estabeleceu uma sanção de US$ 200 milhões à companhia por "enganar os investidores".

No mercado de capitais, outros números ilustram o quanto o modelo afetou a companhia. Em fevereiro de 2019, pouco antes do segundo acidente na Etiópia, a Boeing chegou a ser avaliada em US$ 248,3 bilhões, seu pico nesse indicador. Hoje, a empresa está avaliada em US$ 138,5 bilhões.

Agora, o novo caso coloca ainda mais pressão sobre a gestão da Boeing. Especialmente em um momento no qual a fabricante prepara a sucessão do CEO Dave Calhoun, que está prestes a se aposentar, depois de estender seu contrato em 2021, em meio às turbulências vividas pela companhia.

Em dezembro de 2023, a Boeing anunciou a promoção de Stephanie Pope, diretora da unidade de serviços da empresa, ao posto de diretora-executiva operacional, na prática, o segundo cargo mais importante no organograma da companhia, dando um sinal claro nessa direção.

Diante do novo incidente, Calhoun enviou um memorando aos funcionários no domingo. Na mensagem ele afirmou que irá realizar um webcast para toda a empresa no qual serão abordadas questões de segurança.

“Embora tenhamos feito progressos no fortalecimento dos nossos sistemas e processos de gestão de segurança e controle de qualidade nos últimos anos, situações como esta são um lembrete de que devemos continuar focados em continuar a melhorar todos os dias”, diz a mensagem.

Calhoun está pressionado pelo conselho da Boeing pelo insucesso do 737 MAX. Em setembro do ano passado, as entregas de aeronaves vendidas para as companhias caíram para o nível mais baixo em mais de dois anos. As companhias aéreas enfrentam um aumento na demanda de passageiros no pós-pandemia.

O atraso nas entregas está ligado às interrupções na produção por conta dos problemas. No ano passado, a Boeing precisou suspender a fabricação por conta de problemas envolvendo furos nas fuselagens e por conta de parafusos soltos no sistema de leme.