Fundada em 2015, em São Francisco, no coração do Vale do Silício, a Tally atraiu investidores do calibre da Andreessen Horowitz e captou mais de US$ 170 milhões em cinco rodadas. Na última delas, em outubro de 2022, a empresa levantou US$ 80 milhões e foi avaliada em US$ 855 milhões.
Essa trajetória ascendente foi interrompida, porém, há uma semana, quando Jason Brown, cofundador e CEO da startup, anunciou que a companhia, dona de uma plataforma de gestão e de pagamento de dívidas de cartão de crédito, estava fechando suas portas.
“Tomamos a difícil decisão de encerrar a Tally. Este não era o resultado que esperávamos, mas depois de explorar todas as opções, não conseguimos garantir o financiamento necessário para continuar nossas operações”, afirmou Brown, em uma postagem no LinkedIn e no site da empresa.
Longe de uma exceção, a Tally é apenas mais um exemplo de que a conta chegou para muitas das startups que encheram seus cofres com o boom de investimentos capitaneado pela indústria de venture capital entre 2021 e 2022.
Dados de um novo levantamento da consultoria americana Carta mostram que, de fato, a Tally não está sozinha nesse contexto. Segundo o estudo, os pedidos de falência de startups nos Estados Unidos cresceram 60% em 2023.
Essa lista inclui empresas como o Caffeine, de streaming ao vivo, que captou US$ 294 milhões junto a investidores como Fox e Greylock Partners; a healthtech Olive, que foi avaliada em US$ 4 bilhões, em 2021; e a Convoy, de transportes, que chegou a alcançar um valuation de US$ 3,8 bilhões, em 2022.
Um dos nomes mais emblemáticos a seguir essa direção, no entanto, foi a WeWork, empresa de escritórios compartilhados que, até 2019, era a grande estrela do portfólio do Softbank. Mas que, desde então, entrou em parafuso até pedir proteção contra falência em novembro do ano passado.
A princípio, não há sinais de melhora em 2024. De acordo com a Carta, 254 de seus clientes apoiados por capital de risco faliram no primeiro trimestre. A taxa atual de empresas nessa situação é mais de sete vezes maior do que em 2019, quando a consultoria começou a monitorar esses processos.
Head de insights da Carta, Peter Walker ressaltou ao Financial Times a enorme queda no número de empresas que captaram recursos dois anos depois de suas últimas rodadas. E disse que isso é particularmente “irritante” para aquelas que cortaram custos para sobreviver, sacrificando seu crescimento nesse intervalo.
Em mais uma amostra dos efeitos dessa ressaca, a consultoria aponta que, mesmo no caso de empresas mais saudáveis, a desaceleração nas ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) e nos M&As impediu que os fundos de venture capital dessem algum retorno para seus investidores.
Segundo a Carta, apenas 9% dos fundos de risco captados em 2021 retornaram algum capital aos seus investidores finais. Em uma base de comparação, 25% dos fundos levantados em 2017 retornaram capital nesse mesmo estágio.
Em contrapartida, Walker observa que, após dois anos de maior restrição, o mercado começa pouco a pouco a retomar seu apetite, mas com um destino prioritário: as startups que fazem uso da inteligência artificial. Para outros segmentos menos glamurosos, porém, o horizonte segue desafiador.
“Existem apenas algumas empresas ‘apoiáveis pelo capital de risco’ em um dado momento”, afirmou ele, ao jornal britânico. “O volume de capital pode ter crescido mais rápido do que o número de startups para absorvê-lo.”