A Ambev, dona das marcas Brahma, Budweiser e Spaten, pegou de surpresa o mercado ao anunciar na noite da terça-feira, 27 de agosto, que Carlos Lisboa, diretor-presidente da AB Inbev para a América Central, irá assumir como CEO da empresa a partir de 1º de janeiro de 2025.
Há 30 anos no grupo e passagens ainda por posições de liderança em mercados como Canadá e América do Sul, além de ocupar um assento no board da Ambev, o executivo irá substituir Jean Jereissati Neto, que ocupa o cargo desde janeiro de 2020 e que, por sua vez, assumirá o posto de Lisboa na América Central.
Apesar da troca inesperada nas duas geografias, há quem entenda que o movimento se justifica dentro da cultura do grupo de investir na rotação de nomes que se desenvolveram em suas fileiras. Esse é o caso do BTG Pactual. O banco ressalta, porém, que há desafios no mapa agora sob a alçada de Lisboa.
“É inegável que a mudança anunciada do CEO acontece em um momento bastante decisivo para a Ambev”, escreveram os analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttila, do BTG Pactual, em relatório divulgado nesta quarta-feira, 28 de agosto.
Nesse contexto, a dupla ressalta que, em um momento no qual o consumo per capita de cerveja atingiu novos recordes históricos e os concorrentes se esforçam para ampliar seus volumes, as marcas da Ambev ainda parecem estar aquém no que diz respeito à participação de mercado.
“Chegou a hora de a Ambev provar se ainda tem poder de precificação em meio a um cenário competitivo muito mais acirrado. Agora, o reposicionamento do portfólio e as ferramentas digitais serão colocados à prova de uma forma que nunca foram”, diz outro trecho do relatório.
Embora observe que não alimentam expectativas sobre grandes mudanças com Lisboa no comando, o BTG traz como contraponto que navegar nas “guerras de preços” da cerveja enquanto gerencia as flutuações de market share não será uma missão fácil para o executivo.
“Então, aguardamos mais comentários sobre os planos e perspectivas da Ambev sobre o novo CEO em breve”, dizem os analistas. Eles citam que o risco-retorno da ação é talvez o mais atraente em muito tempo, mas mantêm a recomendação neutra e o preço-alvo de R$ 15 para o papel até ver o crescimento da Ambev “reacendido”.
O BTG faz ainda um balanço da gestão de Jereissati, que completará cinco anos justamente em janeiro de 2025, quando a transição no cargo será concluída. O banco frisa que, apesar de enfrentar eventos turbulentos, a Ambev, sob seu comando, soube aproveitar as fraquezas dos rivais durante a pandemia.
“Foi a primeira vez que realmente sentimos a Ambev como líder de mercado focada em promover o crescimento da categoria em oposição à sua lendária abordagem orientada a custos”, diz o BTG, ressaltando avanços em frentes como a transformação digital, por meio do aplicativo Zé Delivery.
“Nos últimos anos, vimos a Ambev tomando o caminho certo, não o mais fácil. A questão agora é o que acontece a seguir e como entregar lucratividade e poder de precificação enquanto ainda alavanca a plataforma desenvolvida nos últimos 5 anos”, complementa o BTG.
Outros dados reforçam esse balanço dos últimos anos e os desafios à frente para a Ambev. No mercado de capitais, as ações da empresa acumulam uma desvalorização de 30,9% desde o fim de 2019, pouco antes de Jereissati assumir como CEO.
Já em 2024, os papéis recuam 6%, sendo que, na manhã dessa quarta-feira, após o anúncio sobre a mudança na liderança, as ações registravam queda de 1% por volta das 11h15, com a empresa avaliada em R$ 202,8 bilhões.
Com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 15,50 para a ação, o Citi recebeu a notícia como um evento positivo e ressaltou que a troca de papéis entre Lisboa e Jereissati traz bons insights para ambas as regiões.
Entretanto, o banco também faz suas ressalvas quanto aos desafios impostos à companhia, ao observar que, apesar de Jereissati ter construído um portfólio de marcas premium consistente, a batalha pelo market share no mercado brasileiro de cerveja está longe de terminar.
“A empresa ainda tem alguns caminhos para um crescimento mais sustentável, como a conclusão de sua estratégia digital, que efetivamente aumenta a participação de mercado”, escrevem os analistas do Citi.
O banco acrescenta que a Ambem também pode – e precisa – se posicionar nas próximas tendências da categoria, ao focar, principalmente, em duas vertentes: o segmento de cervejas sem álcool e a aposta em maiores volumes de vendas em suas principais ofertas.