O que se espera das empresas a partir de 2020 em termos de sustentabilidade? Em síntese, maior demonstração do impacto de suas estratégias na sociedade e de como atuam a favor da agenda global de combate às mudanças climáticas e à pobreza. É uma década que exige mais ação e menos falação.
Entenda-se falação como o discurso vazio, não ancorado em um plano estratégico com objetivos claros e ousados. O posicionamento superficial, lateral ou o não-posicionamento serão cada vez mais vistos como fragilidades. Cada vez mais entendidos como incapacidade de leitura dos riscos e oportunidades que ameaçam ou potencializam os negócios.
Na fracassada Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP 25), enquanto governos patinavam em chegar a um acordo com a preocupante participação do Brasil no bloco de obstrução das negociações, as empresas privadas ampliaram a adesão ao compromisso “Ambição dos Negócios por 1,5º C – Nosso único futuro”.
No evento, o compromisso somou 177 empresas de todo o mundo. Dispostas a estabelecer metas climáticas alinhadas com o desafio de limitar o aumento da temperatura global a 1,5º C, em comparação ao nível pré-industrial.
Ao mesmo tempo, as companhias se comprometem a estabelecer metas baseadas na Ciência por meio da Science Based Targets (SBTi). De forma independente, a iniciativa avalia as metas corporativas de redução de emissões, de acordo com o que os cientistas climáticos consideram necessário para o cumprimento das metas do Acordo de Paris.
Esse é um bom exemplo de como o mundo corporativo está direcionando seus esforços de sustentabilidade em convergência com a Agenda Global para 2030. E não se trata de assistencialismo ou altruísmo. Os negócios se beneficiam fortemente desse engajamento. E essa é outra tendência que se ampliará nessa próxima década.
O acesso a capital, sobretudo no mercado externo, está cada vez mais sendo influenciado pelos chamados critérios ESG – Environmental, Social and Governance
O acesso a capital, sobretudo no mercado externo, está cada vez mais sendo influenciado pelos chamados critérios ESG – Environmental, Social and Governance. A análise das estratégias e práticas nesses campos permitem com que ratings, analistas e investidores avaliem de forma ampla o desempenho das empresas e direcionem decisões de investimento.
Estamos diante, portanto, de um momento que demanda clareza de visão sobre o papel das empresas no cenário global e local. Bem acompanhada de consistência nas ações e da transparência na apresentação dos resultados. Quem melhor fizer isso, terá vantagens competitivas sobre seus concorrentes.
Importante pontuar que não se exige das empresas respostas para todos os desafios de sustentabilidade dos negócios. Afinal, muitas dessas soluções dependem de desenvolvimento tecnológico e da construção de caminhos com parceiros estratégicos e outros atores da sociedade.
É preciso, no entanto, demonstrar o conhecimento dessa realidade e a disposição para evoluir. Nesse cenário, estratégia, gestão e comunicação devem andar juntos.
Por isso, na próxima década, uma boa receita para reforçar reputação em sustentabilidade é: clareza na estratégia, evolução na gestão e transparência na comunicação.
* Álvaro Almeida é jornalista especializado em sustentabilidade. Diretor no Brasil da consultoria internacional GlobeScan, sócio-fundador da Report Sustentabilidade, agência que atua há 17 anos na inserção do tema aos negócios. É também organizador e curador da Sustainable Brands São Paulo, integra o Conselho Consultivo Global desta rede de conferências e participa da Comissão de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
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