A Boeing quer levantar US$ 10 bilhões via emissão de novas ações para tentar estabilizar sua fragilidade financeira. A saída é uma tentativa de dar um respiro a seu novo CEO, Robert “Kelly” Ortberg, que assumiu o “manche” no começo de agosto.

Segundo documentos regulatórios tornados públicos na terça-feira, 15 de outubro, a fabricante de aeronaves sinalizou aos investidores a intenção de levantar até US$ 25 bilhões via emissão de ações ou dívida. A companhia também avalia firmar novos acordos com credores.

Fontes ouvidas pelo jornal The Wall Street Journal afirmaram que uma oferta de ações deve girar em torno de US$ 10 bilhões. Não há informações sobre quando essa operação pode acontecer.

Os recursos viriam a calhar, considerando as circunstâncias vividas pela Boeing e o alerta das agências de classificação de risco. Elas disseram que a companhia precisa levantar recursos sob o risco de que seus títulos de dívida poderiam ser rebaixados para o status de junk, reservado para ativos de pior qualidade.

A Boeing vive uma crise sem precedentes desde 2018, último ano em que registrou lucro, queimando quase US$ 1 bilhão em caixa – no segundo trimestre, o consumo de caixa totalizou US$ 4,3 bilhões, acima dos US$ 3,9 bilhões apurados nos primeiros três meses do ano.

Seu mais recente problema envolve uma greve promovida pelo principal sindicato de funcionários da companhia. A paralisação dura mais de um mês, com os funcionários protestando contra a perda de direitos e exigindo melhores salários. A situação resultou no adiamento de seu novo avião, o 777X.

Os problemas da Boeing remontam a 2018 e 2019, quando dois aviões 737 MAX caíram e mataram 346 pessoas, forçando a interrupção das operações da quarta geração da família de aeronaves 737 por cerca de 20 meses, em todo o mundo.

Junto a outras notícias de voos com problemas, a Boeing começou a ser acusada de negligência em seus processos de certificação de segurança, gerando uma crise de confiança em torno da companhia.

Uma reportagem de abril deste ano do jornal The New York Times apurou que a FAA, a agência reguladora do setor dos Estados Unidos, investigava alegações feitas por um engenheiro da Boeing de que seções da fuselagem do avião 787 Dreamliner estava sendo inadequadamente fixadas e poderiam se separar durante o voos, após milhares de viagens.

Em julho, a Boeing acabou concordando, em princípio, em se declarar culpada de fraude em conexão aos acidentes fatais com o 737 MAX, em processo movido pelo governo dos Estados Unidos.

Desde o final de 2019, a empresa perdeu quase US$ 90,7 bilhões em market cap, sendo atualmente avaliada em US$ 92,6 bilhões. E em função das menores entregas de aeronaves, além de questões envolvendo a divisão militar, fez com que a companhia registrasse um prejuízo de US$ 1,4 bilhão no segundo trimestre, muito acima da perda de US$ 149 milhões vista no mesmo período de 2023.

Para tentar resolver a situação, além da injeção de novos recursos, Ortberg também está ajustando a operação. Além do adiamento do lançamento do 777X, a Boeing está descontinuando o avião cargueiro 767 e vai cortar 10% de sua força de trabalho global, o que equivale à demissão de 17 mil pessoas.

Por volta das 11h no horário local, as ações da Boeing subiam 1,72%, a US$ 151,57. No ano, elas acumulam queda de 40,5%.