Após três dias de expectativas, a farmacêutica Hypera anunciou nesta quinta-feira, 24 de outubro, ter rejeitado a proposta de incorporação feita pelo laboratório EMS, que colocaria a nova empresa a ser criada na liderança do segmento de medicamentos genéricos, com uma participação de mercado de cerca de 20%.

Em fato relevante marcado por um tom duro, a Hypera disse que seu conselho de administração decidiu rejeitar a oferta pública de aquisições de ações e de incorporação “de forma não solicitada ou previamente discutida”.

A Hypera alegou três motivos para rejeitar o negócio: o portfólio de produtos da EMS, substancialmente focado em medicamentos genéricos, não está alinhado com os segmentos que a Hypera avalia como estratégicos; as duas empresas têm cultura organizacional e práticas de governança corporativa “absolutamente distintas”; e, por fim, que a avaliação atribuída à Hypera “subestima significativamente” o valor da companhia.

O acionista de referência da Hypera, o empresário João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, que tem pouco mais de 20% da companhia, divulgou comunicado em seguida apoiando a decisão do conselho de administração da empresa.

“Concordamos em absoluto com a decisão pela recusa da proposta e reiteramos nosso compromisso de apoiar o plano estratégico de longo prazo da companhia, bem como as diretrizes de governança corporativa e cultura construídas ao longo dos últimos anos”, diz o comunicado. Ao lado da holding mexicana Maiorem, Júnior exerce o controle com 36%.

A oferta anunciada na segunda-feira, 21 de outubro, pela EMS, do empresário Carlos Sanchez, previa uma fusão das duas empresas, precificando as ações da Hypera em R$ 30, um prêmio de 39% sobre o valor de tela do dia. Além de propor a incorporação, a EMS também faria uma OPA de até 20% do capital para os acionistas que desejassem uma saída da operação.

A eventual fusão entre EMS e Hypera (dona de marcas como Buscopan, Engov, entre outras) criaria uma empresa com faturamento de R$ 16 bilhões, um Ebitda de R$ 4,9 bilhões e sinergias nas áreas fabril, comercial, P&D, entre outras áreas, tornando-a, de longe, líder do mercado de genéricos.

As duas empresas chegaram a iniciar tratativas visando a uma eventual fusão no ano passado, mas as negociações não avançaram. Sanchez, porém, voltou à carga nos últimos meses e, aproveitando o momento ruim da Hypera, decidiu tornar pública esta semana a oferta, com assessoria do BTG Pactual e do Lefosse Advogados.

O passo foi dado depois que a Hypera anunciou ao mercado, em 18 de e outubro, ter iniciado um “processo de otimização do capital de giro”, por meio da redução da política de prazo de pagamento concedida aos clientes. A companhia informou na ocasião que o objetivo era incrementar sua geração de caixa operacional em cerca de R$ 2,5 bilhões até 2028 e em R$ 7,5 bilhões nos próximos dez anos.

Além disso, a Hypera descontinuou seu guidance para 2024 e divulgou números prévios para o último trimestre, com receitas, Ebitda e lucro que não agradaram parte do mercado –a ação chegou a desabar mais de 15% por conta disso.  Para o terceiro trimestre, a Hypera projeta faturamento líquido ao redor de R$ 1,9 bilhão, um Ebitda perto de R$ 561 milhões e lucro líquido em torno de R$ 370 milhões.

No comunicado no qual anuncia ter rejeitado a proposta da EMS, a Hypera reitera que, sendo uma companhia aberta desde 2008, com substancial dispersão acionária, mantém perfil diferente da EMS, uma empresa familiar de capital fechado.