A conferência anual da Berkshire Hathaway é o evento anual mais aguardado pelos investidores que lotam a cidade de Omaha e superlotam o Civic Auditorium para ouvir o que Warren Buffett tem a dizer sobre investimentos.

A expectativa de gestores e pessoas que seguem Buffett era saber o que ele pensa sobre as tarifas comerciais, o volume recorde de dinheiro em caixa da Berkshire e, claro, seu plano de aposentadoria, segundo reportagem da Business Insider no dia anterior ao evento.

Buffett não decepcionou os presentes e o mundo dos investimentos. Principalmente ao anunciar seu adeus ao dia a dia da Berkshire Hathaway, um movimento que ele vinha ensaiando desde 2021, quando anunciou Greg Abel como seu substituto natural.

“Acho que a hora chegou e Greg vai se tornar CEO da companhia até o fim do ano”, disse Buffett na sexagésima conferência anual de acionistas da Berkshire Hathaway.

O espanto inicial desse anúncio histórico foi rapidamente precedido por uma ovação da plateia.

"Eu ainda estarei por perto e serei útil em alguns casos, mas a palavra final será dada por Greg em qualquer assunto. Greg não sabia disso até agora. Ele será o CEO e ponto", completou o mago de Omaha.

Aos 94 anos, Buffett encaminha a sucessão da Berkshire para o canadense Abel, de 62 anos, que ocupa uma das vice-presidências da Berkshire desde 2018, no segundo encontro anual sem Charlie Munger, seu braço direito. Ele, porém, confirmou que não vai vender as ações da empresa e continuará cumprindo o plano gradual de doação - que recentemente gerou uma longa carta dele sobre sucessão.

Durante a conferência, Abel garantiu que seguirá "a filosofia que o Buffett e seu time usaram nos últimos 60 anos", priorizando investimentos de longo prazo, o entendimento dos riscos de cada negócio e o acompanhamento próximo dos números das companhias.

Caixa recorde

A Berkshire Hathaway encerrou 2024 com um caixa recorde de US$ 334 bilhões, um montante que gera especulações sobre possíveis grandes aquisições.

Questionado sobre o volume expressivo, Buffett explicou que a estratégia da empresa é ficar pronta para as oportunidades - que ele espera que não demore a aparecer.

"Estamos em um negócio extremamente oportunista. Seria ótimo se todos os dias tivéssemos pelo menos quatro oportunidades, mas isto não acontece”, disse Buffett.

“Daqui a pouco seremos bombardeados por oportunidades, mas é muito improvável que aconteça amanhã, da mesma forma que não deve demorar 50 anos", completou.

A capacidade de esperar pelo momento certo para investir sempre foi uma marca da gestão de Buffett, que revelou durante o evento que acompanha pessoalmente as finanças de 60 empresas do portfólio todos os meses.

No primeiro trimestre de 2025, a Berkshire reportou lucro operacional de US$ 9,6 bilhões, uma queda de 14,1% na comparação com o mesmo período do ano passado, principalmente devido a problemas no setor de seguros, que foi impactado pelos incêndios em Los Angeles.

"O que aconteceu nos últimos 40 dias não é nada. A Berkshire já caiu 50% três vezes depois que a compramos, mesmo sem nenhum problema de fundamento", lembrou Buffett.

Guerra comercial

Durante a conferência, Buffett também expressou preocupação com o aumento de tarifas comerciais promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixando clara sua posição: "O comércio não deveria ser uma arma".

O megainvestidor alertou para os riscos das tensões comerciais crescentes. Ele não acha uma boa ideia um mundo em que alguns países dizem “nós ganhamos enquanto outros têm armas nucleares”.

Buffett marca sua posição em um momento de crescente tensão nas relações comerciais globais, com diversas potências respondendo ao protecionismo americano na mesma moeda de Donald Trump.