A inteligência artificial está se tornando mandatória nos negócios. Mas um estudo da Accenture em parceria com a Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) mostra que 96% das empresas de capital aberto do Brasil ainda não têm ou desconhecem se possuem estratégia para IA.
"As empresas ainda não estão estruturadas para atacar o assunto, não têm governança para discutir isso e estão delegando, na maioria das vezes, as decisões de segurança, privacidade, viés e responsabilidade aos provedores de tecnologia", diz Daniel Lázaro, líder de dados e IA da Accenture para Brasil e América Latina.
"Esse tem que ser um movimento liderado pela alta gestão", complementa em entrevista ao programa Revolução IA do NeoFeed, que tem o apoio do Magalu Cloud.
Com o tema da inteligência artificial dominando os debates, muitas empresas sentem o FOMO (fear of missing out, ou medo de ficar de fora). E acabam adquirindo ferramentas de IA inadequadas para seus problemas reais ou aplicando a tecnologia em demandas secundárias, com impacto mínimo nos resultados e na produtividade.
Essa falta de estratégia frequentemente resulta no que já vem sendo chamado de "AI Washing", ou seja, a prática em que as companhias exageram ou distorcem informações sobre o uso de inteligência artificial em seus produtos ou serviços.
Mais importante do que simplesmente implementar IA no negócio é compreender sua finalidade estratégica. A falta de previsibilidade no uso das ferramentas pode significar desperdício significativo de recursos. Segundo o especialista, o problema não se limita à inadequação da solução para a demanda. A ausência de estratégia pode comprometer a escalabilidade.
"Hoje, muitas empresas estão capotando por acreditarem que IA generativa é o único instrumento para resolver um problema. Ou destroem o business case quando não têm clareza do objetivo, porque a solução não foi desenhada considerando os custos inicialmente projetados. Com volume, ela gera um custo diferente que inviabiliza o business case”, afirma Lázaro.
Por outro lado, as empresas brasileiras podem obter vantagem competitiva quando fazem o planejamento adequado. Além do benefício da matriz energética predominantemente limpa do país, organizações bem estruturadas conseguem frequentemente superar seus objetivos iniciais.
"Quando nos organizamos adequadamente, em sete vezes ou mais excedemos o business case que desenhamos. O Brasil tem uma oportunidade significativa nesse cenário", diz ele.
Para profissionais, Lázaro recomenda utilizar a IA como um "colega de trabalho", solicitando auxílio em tarefas rotineiras para otimizar o tempo gasto com atividades repetitivas. Quanto aos tomadores de decisão, estes devem assumir, progressivamente, um "papel de RH" na contratação de agentes artificiais.
"Historicamente, pensamos apenas em sistemas, soluções e fluxos para seres humanos. Precisamos começar a desenvolver fluxos para atender clientes que são robôs", afirma o líder de dados e IA da Accenture.