O Grupo Casas Bahia acaba de soltar um fato relevante ao mercado que promete acabar com todas as dúvidas sobre o futuro da companhia. Os credores da segunda série da décima debênture, mais precisamente o Bradesco e o Banco do Brasil, pretendem converter R$ 1,5 bilhão da dívida em ações da companhia por meio de um agente financeiro.

Com isso, a dívida total da empresa cairá de R$ 4,55 bilhões para R$ 2,98 bilhões, a alavancagem medida pela dívida líquida/ebitda sairá dos atuais 1,6 vez para 0,8, a Casas Bahia terá uma economia anual de R$ 230 milhões em despesas financeiras e poderá respirar mais aliviada tanto na parte de estrutura de capital como na busca de crédito no mercado.

Caso fosse aprovada na data de hoje, a conversão reconfiguraria o cap table da empresa. A participação dos credores chegaria a 77,58% do capital total em um preço médio da ação dos últimos 90 dias com 20% de desconto. Já a família Klein, leia-se Michel, Raphael, Natalie e Eva, seriam diluídos de cerca de 22% do capital do grupo para 4,7%.

Essas mudanças ainda precisam ser aprovadas no Conselho de Administração, no dia 12 de junho, e em Assembleia Geral de Debenturistas (AGD) dentro de 21 dias, mas até os estagiários das Casas Bahia sabem que é a saída mais plausível para a companhia diante da dívida alta em um cenário de juros que não param de subir.

“Vai tirar uma bola de ferro dos nossos pés”, diz Renato Franklin, CEO do Grupo Casas Bahia, ao NeoFeed. “O grupo tem entregado melhoria a cada trimestre e isso fará o ebitda crescer até o fim do ano.” A nova estrutura permitirá melhorar o rating da empresa e reduzir o custo de capital.

Isso porque poderá acessar um limite maior de crédito com seguradoras e reduzir a busca de crédito por meio do risco sacado. Se aprovado, o negócio traz mais uma vantagem para a Casas Bahia no que diz respeito a possíveis eventos de liquidez.

Atualmente, se a empresa vender um imóvel ou tiver qualquer evento de liquidez, o dinheiro tem de ser usado para amortizar dívidas com os credores. Pelo acordado, depois de autorizado o deal, a Casas Bahia poderá usar o dinheiro que entrar para reforçar a sua estrutura de capital. Isso até o limite de R$ 500 milhões.

Um dos grandes ativos da empresa é seu patrimônio imobiliário, como lojas e galpões. Isso, em tese, poderá ser usado para eventos de liquidez. “O objetivo é terminar o ano com melhor margem e menor alavancagem para estarmos preparados para a melhora do cenário macro no ano que vem", diz Franklin, à espera do início da queda dos juros.

Vai contribuir também para a melhora das margens e alavancagem o alongamento da debênture Série 1, de R$ 1,67 bilhão, parcialmente nas mãos dos bancos. Ela terá uma extensão de período de carência de juros por mais 12 meses e o primeiro pagamento da décima emissão ficará para novembro de 2027. Só isso trará R$ 400 milhões de fluxo de caixa adicional em 24 meses.

Na última quarta-feira, 4 de junho, o analista da Genial, Iago Souza, soltou um relatório imaginando o que poderia acontecer caso Bradesco e Banco do Brasil convertessem a dívida em equity – o que, na visão dele, poderia se tornar realidade entre outubro de 2025 e abril de 2026. O que ele diz é que “às vezes, é no caos que a recuperação começa”.

O plano de conversão acabou saindo antes do previsto por alguns motivos. Primeiro, há uma confiança de que o plano de transformação vem sendo entregue há seis trimestres consecutivos. Segundo porque os juros estão muito altos e a companhia poderia ser ainda mais penalizada.

Souza diz que ao eliminar boa parte da dívida, pode haver uma reprecificação do risco de crédito e permitir que a companhia volte a gerar valor. “No cenário bull case descrito neste relatório, o valor justo das ações da Casas Bahia poderia chegar a R$ 7,50”, afirma. No pregão da quinta-feira, 5 de junho, o papel fechou cotado em R$ 4,08 e a companhia avaliada em R$ 382 milhões.