Mesmo depois de colhidos, os vegetais continuam vivos. Uma série de reações químicas continua o processo de amadurecimento. Se eles não forem consumidos a tempo, por uma combinação de fatores, começam a deteriorar. O inevitável então acontece. As frutas, legumes e verduras murcham, criam mofo e apodrecem. Aí, não resta mais nada a fazer: lixo!
Do campo à mesa, quase 570 milhões de toneladas de alimentos são postas fora em nossos lares — o equivalente a (estrondosos) 45% de tudo o que é produzido no planeta. Decididos a interromper o ciclo de desperdício, três jovens inovadores italianos criaram um dispositivo capaz de preservar o frescor dos vegetais por mais 12 dias, em média.
Fundadores da Vitesy, Paolo Ganis, Vincenzo Vitiello e Alessio D’Andrea inventaram um gadget para purificar o ar da geladeira. Batizado de Shelfy, o aparelho controla a presença de compostos e microrganismos associados à putrefação dos alimentos.
Logo nos primeiros cinco minutos de uso, a engenhoca reduz a concentração do gás amônia em 80%. Depois de uma hora e meia, as taxas de tolueno e formaldeído caem 98% e 85%, respectivamente. Em um dia, 93% das bactérias terão sido retiradas do refrigerador. Essa “faxina” ajuda a prevenir a deterioração dos vegetais.
Veja o que acontece, por exemplo, o que acontece com a endívia. Seu prazo de validade passa de três para sete dias. Com o damasco, de dez para 17 (veja outros casos nas fotos abaixo).
Com aproximadamente 17 centímetros de altura, 11 de largura e sete de profundidade, o Shelfy funciona à base de fotocatálise.
Um ventilador movido a bateria aspira o ar da geladeira para dentro de um filtro de cerâmica. Lá dentro, lâmpadas LEDs, revestidas por nanopartículas de trióxido de tungstênio, aniquilam os poluentes.
A fotocatálise pode ser comparada à fotossíntese”, lê-se no material de apresentação do produto. “Assim como as plantas transformam dióxido de carbono em oxigênio por meio da luz, nossos purificadores de ar transformam a água e o oxigênio do ar em compostos capazes de neutralizar impurezas.”
O Shelfy é carregável por meio de um plugue USB-C e seu filtro não precisa ser trocado, apenas lavado — e a máquina indica o momento adequado para a limpeza.
Sediada na cidade de Pordenone, no nordeste da Itália, a Vitesy acaba de lançar uma versão menor e mais barata do purificador, o Shelfy Lite — a € 79 contra os € 149 cobrados pelo modelo original. A empresa apresentou o primeiro Shlefy em 2022 e, desde então, já vendeu 40 mil unidades para todo o mundo. E começa a ganhar mais escala.
Desde sua fundação, há nove anos, a Vitesy já havia desenvolvido outros três purificadores, antes de focar na “despoluição” do ar das geladeiras. Ao longo do período, Ganis, Vitiello e D’Andrea levantaram quase € 15 milhões em investimentos, conforme a plataforma Crunchbase.
O último aporte, de € 4 milhões, aconteceu em setembro de 2024 e foi liderado pelo Fondo Rilancio Startup, gerido pela CDP Venture Capital Sgr, do Ministério de Desenvolvimento Econômico da Itália.
"O Shelfy nasceu de uma necessidade fundamental e agora essencial", diz o CEO Ganis. "A de ajudar a combater o desperdício de alimentos, um problema não só ético, mas também social, econômico e, cada vez mais, ambiental.”
A comida que apodrece na geladeira é um entrave ao desenvolvimento sustentável e ao combate à insegurança alimentar. O desperdício está associado a quatro das maiores crises planetárias: da mudança climática, da degradação da natureza e da biodiversidade, da poluição e resíduos e da segurança alimentar.
Todos os anos, o mundo põe fora 1,3 bilhão de toneladas de comida — o equivalente a um terço da produção global.
Se essa montanha de alimentos lixo fosse um país, estaria entre os 7% mais ricos, com um PIB em torno de US$ 1,5 trilhão. E, o terceiro no ranking dos grandes poluidores, com 11% das emissões de gases do efeito estufa, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos.
Enquanto isso, 2,33 bilhões de mulheres, homens e crianças vivem sob insegurança alimentar moderada ou severa. Isso representa quase 30% da população global, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Deles, 733 milhões não têm o que comer hoje nem sabem quando farão a próxima refeição.