Brasília - A quatro dias do início do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, os políticos e os empresários de Brasília se preparam para uma longa e tensa queda de braço com Donald Trump.

A expectativa é a de que não ocorra um adiamento das medidas e companhias brasileiras intensificam busca por escritórios norte-americanos de lobby para firmar acordos setoriais, diminuindo em parte os efeitos de 50% do tarifaço.

O governo entretanto ainda espera alguma margem de negociação até o dia 1º de agosto, a data estabelecida por Trump para o início das tarifas.

O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, está nos Estados Unidos para um compromisso das Nações Unidas, em Nova York, enquanto espera um sinal para viajar até Washington para tratar com representantes do governo norte-americano.

Sem avanços nos acordos, empresários brasileiros intensificaram conversas para contratar escritórios de lobby de ex-funcionários de alto escalão de governos anteriores do próprio Trump, de Barack Obama e de Joe Biden. Parte dos escritórios de lobby são bipartidários e tentam manter independência ideológica nas demandas das empresas.

Não é a primeira vez que empresários brasileiros adotam essa estratégia. Isso aconteceu na época do chamado “contencioso do algodão” na Organização Mundial do Comércio (OMC), ainda no início dos anos 2000.

Nesse período, empresas brasileiras chegaram a atuar com lobistas norte-americanos vinculados aos governos Clinton e Bush por causa da guerra tarifária pela fibra vegetal. O caso é emblemático até os dias atuais, pois, em 2014, o Brasil e os EUA chegaram a um acordo com o pagamento de US$ 300 milhões aos brasileiros.

Durante a longa negociação, empresários brasileiros chegaram a montar uma estrutura de lobby próprio nos EUA. O plano entretanto não vingou de maneira mais efetiva pelo alto custo de manter o escritório e as equipes. Assim, os contratos desde então são pontuais, a partir de demandas.

A busca desta vez é vista como inédita em Washington. A questão, agora, é que a tarefa é complexa, pois há poucas chances de o presidente norte-americano se sensibilizar com apelos de empresas brasileiras que não tenham relação com companhias dos EUA.

A expectativa de governistas é a de que Trump não adie o início das tarifas e foi verbalizada pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que integra comitiva de parlamentares em Washington.

Por sua vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na manhã desta segunda-feira, 28 de julho, que espera uma reflexão de Trump sobre a importância do Brasil.

“Tem divergência? Senta numa mesa, coloca a divergência do lado e vamos tentar resolver", disse Lula. "E não de forma abrupta, individual, tomar a decisão de que vai multar, taxar o Brasil em 50%."

Durante coletiva no Palácio do Planalto, o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, disse que o Brasil mantém negociações reservadas com autoridades dos EUA. "Todo o empenho desta semana é a gente buscar resolver o problema (das tarifas). Estamos dialogando neste momento, pelos canais institucionais mas com reserva."