Após aporte de R$ 820 milhões, a maior rodada em uma startup brasileira em 2024, a fintech Asaas está trazendo um sócio estratégico ao seu captable, em um momento em que está com o caixa cheio. A Vivo Ventures, braço de corporate venture capital (CVC) da operadora de telefonia de origem espanhola, está investindo na companhia por meio da compra de uma fatia secundária da gestora Parallax.
O valor do aporte é de R$ 35 milhões, o maior cheque assinado, até agora, pela Vivo Ventures. A Parallax, que investe em conjunto com o CVC da Vivo em outras duas startups (a de consórcios digitais Klubi e a de open finance Klavi), segue como um acionista relevante da Asaas, uma plataforma online de soluções financeiras para pequenas e médias empresas (PMEs).
O racional do aporte está na sinergia entre os serviços da fintech que podem ser oferecidos aos 1,7 milhão de clientes pessoas jurídicas da Vivo. Por outro lado, a operadora de telefonia pode ofertar suas soluções de conectividade às cerca de 200 mil pequenas e médias empresas ativas que hoje já utilizam os serviços da Asaas.
“É um ganha-ganha. Eles vão conseguir monetizar nossa base de PMEs. E, do nosso lado, vamos alcançar uma capilaridade gigantesca”, afirma João Vitor Possamai, CFO do Asaas, ao NeoFeed.
No momento, as empresas estão em fase de desenho dos modelos de serviços que serão oferecidos em conjunto. Mas esse movimento passa por aproveitar a presença física da Vivo no Brasil, com 1,8 mil lojas e cerca de 5 mil vendedores, além de 30 milhões de usuários mensais em seu aplicativo.
“Estamos pensando em novas formas de monetizar essa base PJ com o grande potencial de integração em relação à plataforma da Asaas, focada em solução de cobranças, antecipações de recebíveis e outros serviços financeiros para PMEs”, diz Phillip Trauer, diretor da Vivo Ventures e da Wayra Brasil.
De acordo com Trauer, a base B2B da Vivo vai poder receber ofertas de abertura de contas, emissões de boletos e cobrança. “Há muitos caminhos para a gente explorar juntos”, afirma o diretor da Vivo Ventures. “Nesse sentido, a Asaas é uma nova vertente da nossa tese de investimentos.”
O universo para crescer é imenso — levando em conta 9,4 milhões de PMEs e mais 14 milhões de MEIs. “É um mercado ainda muito mal servido por tecnologia em gestão. A empresa resolve uma dor importante para esse pequeno empresário”, diz o CFO da fintech.
A Asaas tem registrado um crescimento anual de 60%. Recentemente, anunciou uma receita anualizada de R$ 500 milhões, com previsão de alcançar R$ 1 bilhão em 2026. Essa expansão acelerada chamou a atenção também de grandes nomes do mercado de venture capital.

No aporte de R$ 820 milhões de outubro do ano passado, a Asaas atraiu como líder da rodada a gestora americana Bond, de Mary Meeker, a veterana analista de tecnologia que fez carreira no Morgan Stanley e que é conhecida como a “rainha da internet” por suas previsões precisas sobre tecnologia.
Entraram também na base de acionistas da Asaas os fundos Softbank, 23S Capital (parceria entre Temasek e Votorantim) e Endeavor Catalyst.
Este é o nono investimento do Vivo Ventures e o primeiro aporte no segmento B2B. Entre as investidas estão a CRMBonus, a Agrolend e a Conexa. Ainda em 2025, a expectativa do CVC da Vivo é assinar mais dois cheques. Dos R$ 320 milhões reservados para aportes em startups, já foram aportados cerca de R$ 200 milhões.
Na Asaas desde 2018, a Parallax hoje tem 15 investimentos em fintechs e já conseguiu garantir a devolução dos recursos investidos na fintech, seguindo com participação importante. O fundo hoje tem US$ 100 milhões sob gestão.
A decisão de vender uma fatia secundária – em vez de uma primária, em que o dinheiro vai para o caixa da fintech para realizar investimentos – está no fato de que a Asaas hoje está totalmente capitalizada, com caixa de pelo menos R$ 500 milhões.
“A Asaas não precisa de mais caixa”, afirma Fábio Dutra, sócio da Parallax. “O múltiplo cresceu muito desde que entramos. Colocamos mais gasolina no tanque da Asaas.”