Em dezembro de 2016, um drone da Amazon levantou voo e numa viagem de 13 minutos, totalmente automatizada, fez uma entrega de dois produtos, um Amazon Fire TV e pacote de pipoca, para um cliente na Inglaterra.
Esse voo inaugural assombrou mundo, mostrando as possiblidades que os drones poderiam ter no comércio eletrônico. Mas, a verdade é que, desde então, a Amazon pouco avançou nesse projeto de entre por drone.
Por outro lado, os drones estão avançando em diversas outras áreas. O médico Joseph Scalea sabe muito bem disso. Ele faz parte da equipe que transportou, pela primeira vez, um órgão humano a bordo de um drone.
"Fretar uma aeronave é muito caro e os aviões comerciais têm suas agendas limitadas. Mas não posso aceitar que essas sejam as nossas únicas alternativas, sabendo de toda a tecnologia que temos disponível", disse Scalea ao NeoFeed .
Essa sua inquietude impulsionou pesquisas sobre o uso de drones para emergências médicas e culminou na MissionGo, a primeira empresa de aeronaves tripuladas remotamente focada exclusivamente na área da saúde.
Em 2019, a equipe do médico comemorou a aterrissagem bem-sucedida de um rim, que "viajou" 4,5 quilômetros a bordo de um drone. O voo, de menos de 10 minutos, segundo o médico, foi resultado de mais de três anos de pesquisas e testes intensos.
"Esse primeiro transporte de órgão aconteceu em um dia com as condições climáticas ideais e, é claro, que é preciso avançar bastante, para operar em dias de vento ou chuva forte, por exemplo. Mas já conseguimos provar que drones podem fazer essa tarefa com segurança e reduzir em até 70% o tempo de espera", afirma o doutor, reforçando ainda que, em se tratando de uma vida, cada minuto conta.
No começo de outubro, Dr. Scalea e a equipe da MissionGO celebraram o transporte de outro rim, que, dessa vez, percorreu 16 quilômetros em 25 minutos, um recorde para o setor. O voo aconteceu na cidade de Las Vegas, em Nevada.
Com o avanço do setor, a expectativa é que as aeronaves não-tripuladas possam também levar medicamentos, vacinas e outros itens de primeira necessidade a regiões remotas ou áreas atingidas por desastres naturais.
Mas não é só a área da saúde que "olha para cima" na tentativa de criar seu futuro. O setor da agricultura e meio ambiente também está "criando asas". Enquanto fazendeiros e produtores contam com o mapeamento e análise de drones para tomar decisões importantes quanto às suas plantações, outra empresa quer aplicar o equipamento para combater o desmatamento.
A canadense Flash Forest pretende plantar 1 bilhão de novas árvores até 2028 com a ajuda de drones. Em conversa com o NeoFeed, Cameron Jones, um dos cofundadores da companhia, explicou que a startup trabalha com aeronaves customizadas, capazes de plantar árvores de forma dez vezes mais rápida que a maneira convencional, com humanos em campo.
https://vimeo.com/368216143
Os drones desenvolvidos sob medida para o propósito da Flash Forest são munidos com software de mapeamento aéreo, tecnologia pneumática, automação e ciência ecológica.
Tudo isso permite que cada um deles semeie duas mil árvores por hectare. Em sua capacidade máxima, são 100 mil sementes plantadas por dia – tudo sob a supervisão de um único operador. "Temos três aeronaves em operação, mas devemos dobrar e talvez até triplicar nossa frota até o fim do ano", afirmou Jones.
O impulso financeiro para que a Flash Forest decolasse veio de apoio popular. Mais de 1,5 mil pessoas doaram US$ 78,4 mil via uma campanha no Kickstarter, plataforma de financiamento coletivo (crowdsourcing).
A startup promete ser também mais barata em comparação com métodos tradicionais. Embora cobre hoje US$ 1 por árvore, a ideia é reduzir o custo de plantio para US$ 0,50 por árvore, cerca de um quarto do valor praticado no mercado por empresas tradicionais, segundo Jones.
É também pensando na redução de custos e economia de tempo que outras grandes empresas confiam às aeronaves não-tripuladas o futuro do varejo. A Alphabet, holding do Google, que o diga. Desde 2012, a Wing é a subsidiária responsável por desenhar entregas por drones.
Os planos da startup começaram a decolar em outubro de 2019, quando a Wing passou a levar pequenos artigos de lojas parceiras a consumidores em regiões com condições favoráveis. Até agora, a companhia opera drones nas cidade de Christiansburg, no estado americano da Virgínia; Helsink, na Finlândia; e Camberra, Logan e Queensland, na Austrália.
As aeronaves não-tripuladas da Wing têm capacidade para carregar pacotes de até 1,5 quilo, voando a uma velocidade de até 100 km/h. As entregas são feitas num raio de 10 quilômetros e acontecem em até seis minutos. Mais de 100 mil voos de testes foram feitos para garantir a segurança da operação.
Por enquanto, as entregas por drone, em qualquer uma das áreas onde a Wing atua, são realizadas apenas em condições climáticas favoráveis. Isso significa que, embora tenha potencial para operar sob chuva e ventos fortes, os drones só decolam em dias de sol.
Para fins regulatórios, as aeronaves operadas remotamente pela companhia têm autorização para voar até 120 metros do chão, em áreas distantes de aeroportos. Ainda que sejam autônomas, especialistas acompanham as entregas nessas fases de teste para monitorar o processo e sugerir mudanças ou correções quando necessárias.
O modelo de negócio e as restrições da Wing são muito semelhantes às aplicadas à Amazon e seu serviço Prime Air, que conseguiu o aval das autoridades no final de agosto e pode, a qualquer momento, iniciar sua fase de teste.
No Brasil, quem está "decolando" no setor é a Speedbird Aereo, a primeira do ramo a receber a autorização da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), em agosto deste ano.
Em caráter experimental, a startup brasileira está testando um equipamento feito "em casa", que pesa 9 quilos e transporta até 2 quilos, num raio máximo de 2,5 quilômetros do ponto de decolagem. A altura máxima é também de 120 metros.
“Nossa meta é ser a primeira empresa brasileira de logística de delivery com drones”, disse Samuel Salomão, cofundador da empresa, ao NeoFeed, em agosto deste ano. O CEO e também fundador, Manoel Coelho acrescenta: “Agora, temos a chance real de operar em outra escala e mostrar que essa opção é segura e viável.”
Enquanto ainda "taxiam" em setores a fim de provar a que vieram, os drones já estão devidamente estabelecidos na área de entretenimento. Equipadas com câmeras de altíssima resolução, as aeronaves garantem um novo olhar a Hollywood.
Prova disso é a cena do filme James Bond Skyfall, de 2012, o primeiro da franquia do detetive a usar essa tecnologia. Em dado momento, o agente 007 acelera em uma perseguição de moto e o efeito visual só foi possível graças aos drones.
https://www.youtube.com/watch?v=tHRLX8jRjq8&feature=emb_logo
Mas mais do que "salvar o dia" nos sets de gravação, os drones também podem fazê-lo na vida real. Aeronaves pilotadas remotamente são muito comuns na área militar. De acordo com o site Sandboxx, pesquisas e desenvolvimento de drones militares devem passar dos US$ 3 bilhões em 2020 a US$ 4 bilhões em 2029.
Junto ao exército, essas máquinas podem ser usadas para monitorar áreas de conflito, reconhecer novos territórios, acessar possíveis danos e estragos devido a combates armados ou desastres naturais, buscas e resgates e transporte de armas.
Os Estados Unidos são líderes na tecnologia de drone – tanto militares quanto comerciais. Segundo a Administração Federal de Aviação, até 6 de outubro, o país contava com 1,7 milhão de aeronaves remotamente controladas registradas, das quais 1,2 milhão são recreativas e 500 mil comerciais. Drones mais simples, equipados com câmeras embutidas e alcance controlado, entram na primeira categoria.
As regulações para essas máquinas mudam frequentemente, numa tentativa de acompanhar a tecnologia e moldá-la à sociedade. Mas, na avaliação do brasileiro Rogério Bonatti, que cursa PhD em robótica na Carnegie Hall University com foco em drones, é possível que ainda demore alguns anos para vermos os reais avanço do setor. "Essas aeronaves exigem um alto nível de segurança, em que acidentes não aconteçam mesmo em condições extremas", disse Bonatti ao NeoFeed.
Traçando um paralelo com os carros autônomos, Bonatti lembra que os primeiros protótipos foram apresentados décadas atrás e que só agora, depois de muito tempo e bilhões de dólares investidos, estamos chegando perto das aplicações comerciais. "Acho que com os drones será a mesma coisa, sobretudo porque é uma máquina com desafios mais complexos", afirma Bonatti.
O dinheiro para fomentar tudo isso, porém, parece garantido. O relatório do mercado de drones de 2020, feito pela agência Research and Markets, mostra que o setor movimenta US$ 22,5 bilhões este ano, mas a cifra deve atingir US$ 42,8 bilhões em 2025.
É compreensível, portanto, porque outras grandes empresas, como a Amazon e Walmart têm discutido e trabalhado o tema internamente. Algumas, porém, abrem a roda. A Uber, por exemplo, organiza desde 2017 a conferência anual Uber Elevate. Na ocasião, grandes players e mentes do mercado são convidados a olhar o futuro "de cima".
Bonatti, que participou da última edição do evento, reconhece sua importância. E a partir do que viu ali e do que ainda vê nos corredores da universidade, pode assegurar. "Os drones podem não ser a resposta para salvar o mundo, mas certamente são parte do futuro".
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