Fundada em um casarão no Jabaquara, zona sul de São Paulo, a 99 ganhou as ruas em 2012. Nos anos seguintes, o aplicativo foi o único capaz de fazer frente a Uber no País e, de corrida em corrida, tornou-se o primeiro unicórnio brasileiro, ao ser comprado pela chinesa Didi Chuxing, no início de 2018.
Acostumada a disputar a preferência dos motoristas e passageiros, a 99 embarcou recentemente em um espaço ainda mais concorrido: o mundo das carteiras digitais, ao lançar, em julho, a 99Pay, como parte de um aporte de R$ 90 milhões destinado à criação de outros serviços dentro do aplicativo.
Quatro meses depois, a 99Pay está incorporando mais funcionalidades e ampliando seu mapa de atuação. E ao encorpar essa carteira, a empresa começa a traçar o caminho para consolidar sua atuação também como uma fintech.
“Na prática, o que estamos oferecendo já são serviços de fintech”, diz Maurício Filho, diretor da 99Pay, ao NeoFeed. “Poucas plataformas estão presentes no dia do brasileiro como a 99 e entendemos que podemos usar isso para democratizar esses serviços, principalmente para as pessoas desbancarizadas.”
Com essa abordagem em mente, uma das novas funções permite colocar créditos em dinheiro na carteira, durante as viagens, diretamente com o motorista. O saldo é depositado automaticamente no aplicativo do passageiro, que também pode fazer recargas de seu celular pré-pago nesse formato. Nos dois casos, o limite máximo é de R$ 100.
Todo o processo é viabilizado por meio da conta que o motorista mantém com a 99 para receber seus ganhos na plataforma. Ele autoriza o crédito na carteira do usuário ou a recarga do celular e recebe um bônus de 5% sobre o valor de cada transação. Essa taxa é subsidiada pelo aplicativo.
Até então, a recarga de crédito na 99Pay podia ser feita apenas por transferência bancária, cartão de crédito ou pagamento via boleto.
“Carregar crédito é sempre o maior ponto de fricção e atrito em uma carteira digital”, explica Filho. “Especialmente pra quem não tem conta bancária.” Com o mesmo objetivo, outra novidade é a possibilidade de transferir o troco do pagamento de corridas para a carteira, também via motoristas.
As novas funcionalidades já estão disponíveis em Uberlândia (MG) e chegarão a Curitiba (PR), São José dos Campos (SP) e Campinas (SP), cidades nas quais a 99Pay foi lançada, até o fim de novembro.
A 99Pay também acaba de chegar a outros cinco municípios: Porto Alegre (RS), Cuiabá (MT), Londrina (PR), Maringá (PR) e Piracicaba (SP). A 99 ainda avalia os próximos passos dessa expansão, que, além do porte das cidades, seguirá critérios como grau de maturidade da operação do aplicativo na localidade.
A 99Pay também acaba de chegar a outros cinco municípios: Porto Alegre (RS), Cuiabá (MT), Londrina (PR), Maringá (PR) e Piracicaba (SP)
Antes de desembarcar em outras praças, a 99Pay prepara a oferta de um formato de rendimento diário sobre o saldo na carteira de cada usuário. “Ainda estamos ajustando o modelo, mas a ideia é pagar o dobro da poupança”, afirma Filho. “Vamos colocar mais essa opção no ar até o fim de novembro.”
Novos destinos
O lançamento da 99Pay já constava dos planos da 99. Com a chegada da Covid-19, a empresa entendeu que era o momento propício para trazer a carteira digital à tona e, em linha com as restrições da pandemia, reduzir a circulação de dinheiro em espécie na plataforma.
“Esse modelo dá mais segurança para os motoristas e passageiros, o que já era outro motivador do projeto”, conta Filho. Hoje, em média, 70% das viagens pelo aplicativo são pagas em dinheiro. “Já conseguimos reduzir em 10% esse índice nas cidades nas quais operamos com a carteira.”
Fruto de uma evolução do cartão 99, pelo qual os motoristas recebem seus ganhos, a 99Pay é parte de um esforço mais amplo da empresa para reforçar o aplicativo com novos serviços. No fim de 2019, foi lançado, por exemplo, o 99Food, de delivery de comida.
Esse movimento ganhou velocidade na pandemia, com a chegada do 99Poupa, que oferece viagens com descontos de até 30% em horários de menor demanda; do 99 Entrega, de transporte de objetos pessoais; e do 99Carona, de caronas compartilhadas.
Com recursos como a possibilidade de pagar contas de consumo e a isenção de taxas sobre as transações, a 99Pay já dialoga com outras ofertas do aplicativo. Os usuários têm acesso a descontos em corridas e nos pedidos do 99Food. Filho destaca, no entanto, outro componente.
“Temos uma capilaridade com poucos paralelos no mercado”, diz. Hoje, o aplicativo está presente em mais de 1,6 mil municípios, com cerca de 750 mil motoristas e mais de 20 milhões de usuários mensais ativos. “E uma parcela significativa são pessoas das classes C e D.”
A Covid-19 reforçou ainda mais a penetração do aplicativo junto a esse perfil. Segundo uma pesquisa conduzida pela 99 nas periferias do País, 55% dos participantes ampliaram o uso do aplicativo nos últimos meses e 95% deles utilizam o serviço com frequência.
Com esse alcance, a 99 ainda não tem rivais no plano das carteiras digitais dentro do seu segmento. A Uber e a Cabify já têm soluções em alguns mercados no exterior, mas não exploram esse mercado no País.
“A carteira da 99 nasce com potencial de escala que a diferencia das demais”, diz Fabricio Winter, sócio da consultoria Boanerges & Cia. “E ela é fundamental para a dinâmica do negócio do aplicativo, tanto para trazer mais usuários, como para fidelizá-los.”
Hoje, a 99 está presente em mais de 1,6 mil municípios, com cerca de 750 mil motoristas e mais de 20 milhões de usuários mensais ativos
Para Winter, no entanto, a 99Pay ainda está aquém de outras ofertas nesse segmento e precisa ir além se quiser ser, de fato, atrativa para os usuários, em particular, os desbancarizados. Especialmente em um cenário no qual muitos competidores, entre eles, os grandes varejistas, estão de olho nesse público.
“É preciso oferecer mais serviços financeiros para convencer esse usuário a colocar o dinheiro na carteira”, afirma. “Assim, a 99 caminharia para ser uma fintech e criaria uma linha que ajudaria a alavancar o negócio principal, que seguiria sendo o transporte privado de baixo custo.”
Filho, por sua vez, ressalta que a carteira digital integra uma estratégia mais ampla da 99 e que a cautela dará o tom da sua evolução. “Nós sabemos que ganha o jogo quem tem recorrência e poderíamos ter lançado com mais recursos”, diz. “Mas antes de escalar, vamos aprender.”
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