Com o auxílio emergencial cobrindo suas despesas básicas e sem nenhuma perspectiva de trabalho pela frente, Joel Serot se viu diante do cenário "perfeito" para uma mudança de ares radical.

O americano, de 36 anos, trocou o carro pelo trator ao deixar a badalada Los Angeles para morar temporariamente em uma fazenda no estado de Idaho. Junto a ele, milhares de americanos fizeram esse mesmo movimento, numa espécie de "êxodo rural pandêmico". 

Quem pode atestar (e se beneficiar com) esse fenômeno é a plataforma WWOOF, a World Wide Opportunities on Organic Farms. Fundada em 1971, na Inglaterra, a iniciativa promove um intercâmbio cultural e educacional entre seus usuários.

Basicamente, a empresa sem fins lucrativos faz a ponte entre fazendeiros e interessados que não precisam ter nenhum tipo de experiência prévia em trabalhos de campo.

O acordo é que o fazendeiro, ou host, se responsabilize pela alimentação e estadia no usuário, que, em troca, se compromete a desempenhar algumas atividades bem delimitadas por meio período, de segunda a sexta-feira. O único investimento financeiro que as partes têm de fazer é pagar uma taxa anual de US$ 40.

Atualmente presente em 132 países, a WWOOF chegou aos Estados Unidos em 2001 pelas mãos de ex-Wwoofers, como Sarah Potenza, que ainda atua como CEO da iniciativa. "Fiz proveito dessa iniciativa para aprender mais sobre comida orgânica e fazendas e também para conhecer e ficar com famílias locais, numa forma supereconômica de viajar para outros países", disse Potenza ao NeoFeed.

Sem nenhum tipo de investimento ou aporte, o WWOOF nos Estados Unidos foi uma construção totalmente voluntária, financiada apenas pela anualidade. "Nós cobramos um valor baixo de propósito e ainda oferecemos bolsa e ajuda financeira para que consigamos ter uma base de assinantes diversa", afirma Potenza . 

A plataforma conta com mais de 12 mil WOOFers, como são chamados os usuários, e mais de 1,7 mil fazendeiros. Esse número já abrange o salto de 44% que a organização registrou apenas entre maio e julho deste ano.

"Acreditamos que isso se deva, pelo menos em parte, à pandemia e ao fato de as pessoas desejarem aprender a cultivar seus próprios alimentos ou começar suas próprias hortas, viver de maneira mais sustentável e viajar por cidades e estados vizinhos".

Dos inscritos ativos, entre 55% e 60% têm entre 18 e 24 anos, "mas também temos WWOOFers na casa dos 70 anos neste programa", informa Potenza. A participação de homens e mulheres é praticamente a mesma.

Ainda segundo Potenza, o sucesso da iniciativa é mensurada pelo número de assinantes anuais e pelas experiências que eles vivenciam ali. "Sabemos, por exemplo, da história de um casal que se conheceu quando faziam WWOOF e hoje, além de casados, eles têm uma fazenda própria que alimenta toda a comunidade", diz Potenza. 

Aberto a qualquer interessado com mais de 18 anos, o WWOOF permite que os usuários, tanto hosts quanto os convidados, se avaliem e deixem comentários. Assim, todos podem acompanhar as experiências positivas e negativas para balizar as expectativas.

Foi usando esse recurso social que Serot, o personagem do início dessa reportagem, optou pela fazenda de ovelhas, mesmo sem saber nada do cuidado para com o animal. Por quase três semanas, o americano morou na área e aprendeu sobre o trato desses bichos.

Agora, depois de uma temporada em casa, Serot está pronto para embarcar para mais uma missão WWOOF. Dessa vez o destino é a região norte da Califórnia, para aprender mais sobre fazendas de verduras e legumes orgânicos.

Nas horas vagas, Serot conta que ele e outros WWOOFers costumam fazer caminhadas, nadar em rios ou lagoas e outras atividades ao ar livre. "O trabalho é pesado, mas não vejo forma mais produtiva de passar meus dias. Aqui pelo menos aprendo, faço novos amigos e ainda tenho a oportunidade de conhecer os arredores de um outro estado ou cidade", afirmou Serot.

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