O Credit Suisse, segundo maior banco da Suíça, está captando 1,7 bilhão de francos suíços, equivalentes a US$ 1,9 bilhão, em uma tentativa de colocar em ordem as finanças depois de se envolver em dois imbróglios nos últimos meses, que ocasionaram as maiores perdas da instituição em mais de uma década.
A captação será feita por meio da emissão de notas conversíveis em 203 milhões de ações para acionistas e investidores institucionais. O objetivo é aumentar seu índice de capital nível 1, principal medida da força financeira de um banco, de 12,2% para 13%. A mínima porcentagem exigida por reguladores é 6%.
A decisão de captar mais recursos acontece depois que a Finma, agência reguladora suíça, abriu duas investigações diferentes para identificar potenciais deficiências na gestão de riscos feita pela instituição financeira nos casos envolvendo a Archegos Capital Management e a Greensill Capital.
"As medidas incluem redução de risco e sobretaxas de capital, bem como reduções ou suspensões de componentes variáveis da remuneração", diz a nota oficial da Finma. "Essas medidas cautelares e temporárias têm o objetivo de complementar e reforçar as ações já realizadas pelo banco."
O Credit Suisse reportou perdas de 757 milhões de francos suícos, cerca de US$ 826 milhões, no primeiro trimestre de 2021. A instituição prevê ainda registrar outros US$ 544 milhões no segundo trimestre. "As perdas que registramos nesse trimestre, por causa desse problema, são inaceitáveis", afirmou o CEO Thomas Gottstein ao jornal britânico Financial Times. "Demos passos importantes para resolver a situação."
As medidas incluem a venda de 97% das ações que mantinha relacionadas à Archegos. Gottstein diz também que está reduzindo a exposição do banco a posições alavancadas em pelo menos 35 bilhões de libras esterlinas (aproximadamente US$ 48 bilhões).
O imbróglio mais recente envolveu a Archegos Capital Management, de Bill Hwang, um dos veteranos remanescentes do Tiger Management, fundo do lendário Julian Robertson. Ele, assim como outras pessoas que trabalharam com Robertson, voltaram ao mercado de capitais e ficaram conhecidos como os Tiger Cubs (filhotes de tigre).
O Credit Suisse, assim como outros bancos, emprestou dinheiro para que a Archegos montasse posições altamente alavancadas em empresas abertas dos Estados Unidos e da China, prestando um serviço de corretora primária para o fundo de Hwang, concedendo empréstimos em dinheiro e em ativos, além de processar suas operações de compra e venda.
Depois de construir uma exposição significativa em ações, a Archegos foi duramente atingida com a queda das ações do grupo de mídia ViacomCBS. Essa queda levou a uma chamada de margem de uma das corretoras primárias do fundo, desencadeando demandas semelhantes por dinheiro de outros bancos.
Como a Archegos não atendeu às chamadas de margens para cobrir as pesadas apostas em ações, os bancos tiveram que fazer vendas maciças dos papéis – eles eram a garantia para os empréstimos. Os bancos colocaram à venda blocos colossais de títulos – a maior coleção em pelo menos uma década, de acordo com uma nota de um analista de Wall Street. Só o Credit Suisse teve perdas de US$ 4,7 bilhões.
Algumas semanas antes, no início de março deste ano, o Credit Suisse também sofreu com o colapso da empresa financeira britânica Greensill Capital, com a qual administrava US$ 10 bilhões em fundos de investimento. Desse montante, o banco diz que já conseguiu devolver US$ 5 bilhões aos investidores, mas avisou que pode não conseguir recuperar US$ 2,3 bilhões.
Em fevereiro, o banco relatou também uma perda no quarto trimestre de 2020 de mais de US$ 1 bilhão em encargos para resolver um caso no tribunal dos EUA sobre títulos tóxicos e para reduzir uma participação que detinha em um grande fundo de hedge dos EUA.
O impacto na confiança da instituição também foi grande. Desde o início de março, as ações do Credit Suisse na Nasdaq caíram de US$ 14,7 para US$ 10,04. Nesta quinta-feira, por volta das 10h30, eram negociadas em ligeira queda de 3,1%.