No último dia 7 de julho, a Oi anunciou a venda de uma fatia de 57,9% da InfraCo, sua subsidiária de infraestrutura de fibra óptica, em um acordo fechado por meio de um fundo gerido pelo BTG Pactual, em conjunto com a Globenet, e avaliado em R$ 12,9 bilhões.
A transação foi um mais um passo dentro da estratégia de desinvestimentos da operadora, que já rendeu mais de R$ 30 bilhões e cuja expectativa é chegar a R$ 34,6 bilhões, quando estiver concluída. E foi alardeada como um marco decisivo no plano de recuperação da companhia, iniciado em 2018.
Nesta segunda-feira, 19 de julho, duas semanas depois do acordo em questão, a Oi voltou a acionar o mercado. Dessa vez, para anunciar seu plano estratégico para o período que se estende até 2024, além das projeções para a operação, que vem sendo chamada de “Nova Oi”, ao fim desse intervalo.
“Agora, temos praticamente todos os elementos transformacionais equacionados”, afirmou Rodrigo Abreu, CEO da Oi, em conferência com analistas. “Vamos ser uma empresa mais leve, ágil, sem a necessidade de nos concentramos em ativos de infraestrutura e, dessa forma, focada 100% no cliente.”
Sob essa perspectiva, a Oi prevê uma receita total entre R$ 14,8 bilhões e R$ 15,5 bilhões em 2024, além de um Ebtida entre R$ 1,9 bilhão e R$ 2,3 bilhões. Boa parte dessa receita virá dos serviços de banda larga via fibra óptica, destinados a consumidores e pequenas e médias empresas.
À parte desse foco, no entanto, outro segmento deve ganhar espaço nessa nova realidade: as receitas adicionais geradas por serviços que vão além do campo da conectividade, sejam eles próprios ou ofertados por meio de parceiros.
Nessa esfera de atuação, a Oi projeta alcançar uma receita entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão no prazo de três anos, com uma participação de aproximadamente 10% no resultado total da operadora ao fim desse período.
“Temos uma base de ativos de mais de 13 milhões de residências conectadas, 630 mil PMEs, uma capilaridade de 4,8 mil municípios e quase 16 mil técnicos em campo”, disse Abreu. “Essa escala pode ser usada de forma estratégica tanto para serviços core como para novos serviços.”
Entre as ofertas já disponíveis e da própria lavra, o executivo citou serviços como o Oi Play, de conteúdo, o marketplace Oi Place, sua carteira digital e o Oi Expert, de assistência técnica. Ao mesmo tempo, ele destacou as oportunidades de ganhos incrementais ao abrir o ecossistema da operadora a parceiros.
“Queremos estender a plataforma a múltiplos parceiros e vendedores”, observou. “Isso inclui, por exemplo, de alavancar créditos pré-pagos, para basicamente qualquer serviço na web ou produtos físicos que acessem nossa carteira digital e estejam associados à nossa presença em todo o País.”
Nessa linha, Abreu ressaltou diversos segmentos, com seus respectivos mercados potenciais. Entre eles, varejo online, com R$ 126 bilhões; cartão de crédito e seguros, R$ 49 bilhões; casas digitais, R$ 4 bilhões; games, também R$ 4 bilhões; e telemedicina, R$ 3 bilhões.
“Todas essas áreas apresentam oportunidades gigantescas para diversificar a nossa receita”, afirmou o executivo. “É claro que nosso market share, no início, será pequeno, mas só essa participação já é suficiente para ampliar significativamente nossa receita média por usuário.”
Diante desse escopo, Abreu projetou que, entre 20% e 25% das receitas adicionais virão de serviços próprios. Enquanto uma faixa de 60% a 70% será gerada a partir da divisão de receitas com parceiros. O índice restante estará relacionado a taxas sobre as vendas em seu marketplace, entre outras linhas.
A equação das receitas totais projetadas pela Oi até 2024 não inclui, por enquanto, a conta da InfraCo, operação na qual a empresa irá manter uma fatia de 42,1%, após a conclusão da transação. Mas Abreu também destacou o papel que o ativo terá no novo cenário da empresa.
“Apesar de estarmos vendendo o controle, seguiremos sendo um acionista importante, especialmente no que diz respeito aos resultados gerados pela InfraCo”, frisou. “E vamos capturar a evolução dessa operação.”
Com a entrada dos novos sócios, o executivo destacou a expectativa de que a InfraCo evolua de uma geração de ebtida de R$ 1 bilhão, em 2021, para um volume de R$ 5,4 bilhões, em 2025, o que daria um valor de mercado para a empresa de R$ 54 bilhões e de cerca de R$ 22 bilhões à fatia detida pela Oi.
Outro ponto ressaltado pelo executivo, mais relacionado à redução de custos, foi a mudança do regime de concessão para o de autorização, que inclui todas as operadoras e está em análise pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Na prática, esse processo livraria a Oi e outros players de obrigações relacionadas ao serviço de telefonia fixa, como a manutenção de orelhões e os custos com o furto de roubos e cabos. Segundo Abreu, as duas frentes envolvem um custo anual de R$ 130 milhões e R$ 200 milhões, respectivamente.
“Acreditamos que a definição desse modelo saia até o fim do ano e que essa migração de regime aconteça entre o segundo semestre de 2022 e o início de 2023”, disse. “Além disso, temos o processo de arbitragem em curso, que pode recompensar a empresa pelos problemas que tivemos com a concessão e trazer um impacto positivo na casa de bilhões de reais.”
A princípio, o mercado não reagiu tão bem aos anúncios da Oi. As ações da empresa, avaliada em R$ 9,2 bilhões, estavam sendo negociadas com queda de 4,37% por volta das 13h40.