Enquanto as usinas hidrelétricas sofrem com a escassez de chuvas no Brasil, que pode levar a um novo racionamento de luz nas casas dos brasileiros, as demais energias renováveis, como a solar e a eólica, despontam como um negócio atrativo para a próxima década, em meio a um esforço do País para diversificar suas fontes.
Segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME), a geração de energia solar é a que mais deve crescer entre 2020 e 2030, em 300%, para 8,4 gigawatts ao ano - o que deve ajudar a reduzir a dependência das hidrelétricas, que hoje representam 85% da matriz.
De olho nesse potencial, a Essentia Energia, empresa do Pátria Investimentos para fontes renováveis, está dando início à operação plena do seu primeiro projeto, o parque de energia solar Sol do Sertão, localizado em Oliveira dos Brejinhos, no interior da Bahia, resultado de um investimento de R$ 1,4 bilhão.
“Estamos investindo em projetos que criem valor para a sociedade. E o principal vetor de expansão da matriz de energia elétrica no Brasil serão as fontes renováveis, que são competitivas e sustentáveis”, afirma, ao NeoFeed, Marcelo Souza, sócio do Pátria e presidente do conselho de administração da Essentia.
Em sua visão, os projetos ligados a termelétricas movidas a carvão ou a óleo encontram cada vez mais dificuldade para crescer e receber aportes. “Há toda uma questão socioambiental e vários bancos não querem mais financiar esse tipo de ativo”, diz.
Para sair do papel, o Sol do Sertão contou com um financiamento de R$ 910 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que tem estado mais focado em projetos de infraestrutura.
As obras começaram em março de 2020, logo no início da pandemia, e foram concluídas no prazo previsto, de um ano e sete meses, mesmo com as restrições impostas pela pandemia, chegando a ter 1,6 mil trabalhadores no pico das atividades.
O parque construído tem capacidade para gerar 475 megawatts, o suficiente para abastecer 580 mil residências, uma cidade média, e será o segundo maior do Brasil, atrás apenas de um complexo construído em São Gonçalo do Piauí (PI), operado pela Enel, com capacidade para 864 megawatts.
“Começar um projeto tão grande, no meio de uma pandemia, mostra a capacidade de execução da companhia”, afirma Leonardo Serpa, CEO da Essentia. O parque, o primeiro projeto da empresa criada no fim de 2019, começou a funcionar em julho do ano passado e foi ampliando o uso da capacidade aos poucos, à medida em que as obras avançavam, até chegar, hoje, a 100%.
Quase toda a energia gerada será distribuída para a Cemig Geração e Transmissão, que contratou 90% da potência por um período de 20 anos. A escolha da Bahia se deu pelo alto nível de irradiação solar no estado, que garante mais eficiência à operação.
O parque tem 1 milhão de painéis instalados, em área de mil hectares, equivalente a mil campos de futebol. Os equipamentos contam também com a tecnologia bifacial, que permite que a radiação do sol gere energia tanto na parte de cima quanto na parte de baixo do painel.
O mercado tem se mostrado aquecido para quem aposta em energia solar. Até o fim do ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) espera liberar a operação de usinas que irão somar 2,5 mil megawatts em geração de energia, das quais pouco mais de 1 mil megawatts devem ser de energia solar, seguido de cerca de 800 megawatts da eólica e 600 megawatts de outras fontes renováveis.
A participação no todo, porém, ainda é pequena. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a energia solar deve responder por 2,7% da produção total até o fim do ano. No Brasil, há também parques relevantes em Pirapora, em Minas Gerais, operado pela EDF e com potência de 321 megawatts, e em Ribeira do Piauí (PI), com 290 megawatts e operado pela Enel.
O Pátria, que tem US$ 15,8 bilhões sob gestão e um portfólio com 55 empresas e ativos, é uma das maiores gestoras de investimentos alternativos no País, com foco maior em infraestrutura - em projetos que envolvem os setores de logística, transportes, telecomunicações e, claro, energia.
A Essentia não é a sua primeira aposta em energia renovável. Em 2006, a gestora fundou a ERSA, que depois juntou seus ativos com os da CPFL, criando a CPFL Renováveis. A companhia chegou a abrir capital em 2013 e depois fechou em 2019, quando já não estava mais sob o controle do Pátria.
No exterior, a gestora é dona da Latin America Power (LAP), que atua com energia renovável no Chile e no Peru. “Ao todo, com a Essentia, temos 2,6 mil megawatts de capacidade instalada em projetos de geração de energia renovável”, estima Souza.
A gestora também investiu, em 2019, em uma usina termelétrica movida a gás em Macaé, no Rio de Janeiro, em uma parceria com Shell e Mitsubishi. O valor total foi de R$ 2,5 bilhões. “Entendemos que a térmica a gás é um combustível de transição, menos impactante que as térmicas a carvão ou óleo, e ainda tem potencial para crescer”, diz o sócio do Pátria.
Com fome de expansão, a Essentia já tem um outro projeto no forno. Com investimento previsto de R$ 2,8 bilhões, a companhia está construindo, também na Bahia, um parque eólico com capacidade para gerar 465 megawatts.
As obras do Parque Ventos de São Vitor, localizado no município de Xique-Xique, começaram em janeiro deste ano e devem ser finalizadas no quarto trimestre do ano que vem. “Em um momento de crise energética, como o que estamos vivendo, as fontes de energias renováveis darão uma contribuição fundamental ao sistema”, diz Souza.