Em novembro de 2021, a DNA Capital, gestora da família Bueno, controladora da Dasa, assinou um cheque de R$ 1 bilhão em troca de uma fatia de 25% da Inspirali, braço da Ânima Educação focado em educação médica.
Agora, seis meses depois do aporte bilionário, Dasa e Inspirali começam a mostrar ao mercado os primeiros frutos dessa conexão. Nesta quarta-feira, 18 de maio, as duas empresas anunciam parcerias que serão o ponto de partida para outras iniciativas desenvolvidas a quatro mãos.
Firmados por meio da Dasa Educa, unidade de educação médica do grupo da família Bueno, os projetos incluem, em uma etapa inicial, recursos para aprimorar a formação dos alunos da Inspirali e de parte do corpo clínico da Dasa. Além do lançamento de cursos voltados aos profissionais da área.
“Esse é o início de uma parceria que vai avançar bastante no decorrer dos próximos anos”, diz Gustavo Pinto, diretor de operações médicas da Dasa, ao NeoFeed. “Nosso maior objetivo é nos tornarmos uma referência na formação médica, dentro do conceito de long life learning.”
Já em sua largada, a parceria traduz, de fato, a intenção de compreender um espectro mais amplo da jornada dos estudantes e profissionais do setor. O pontapé será testado com um MVP (Minimum Viable Product) com a oferta de estágios e residências para alunos da Inspirali na estrutura do grupo Dasa.
Prevista para o segundo semestre, a ideia é que essa primeira fase envolva uma base de 200 alunos da Inspirali, divididos em cinco turmas de 40 estudantes, que serão alocados na rede de 15 hospitais da Dasa, distribuídos em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF) e Salvador (BA).
“É uma questão ressaltada pelo próprio Conselho Federal de Medicina. O Brasil está formando muitos profissionais de saúde e, com isso, a qualidade está em xeque”, diz Pinto. “Há um desafio de conhecimento prático, pois existe uma escassez de campos de estágio e hospitais de ensino.”
Depois dos ajustes que serão realizados nesse teste, o plano é escalar a iniciativa a partir de 2023. E, para isso, o universo potencial dentro da Inspirali é amplo. Atualmente, a operação tem 14 campi, com 10 mil alunos e a perspectiva de alcançar, em um futuro próximo, para 14 mil estudantes.
Para José Lúcio Martins Machado, Chief Medical Officer da Inspirali, os estágios e residências reforçam o apelo da empresa para o crescimento dessa base. “A rede diagnóstica, de hospitais, de ambulatórios e a tecnologia de ponta da Dasa vai incorporar muito mais valor na formação dos nossos alunos”, diz Machado.
Ao mesmo tempo, nesse MVP, 60 coordenadores da Dasa Educa terão acesso a cursos de capacitação da Inspirali. Com duração de quatro meses, o objetivo será aprimorar as habilidades e metodologias de ensino desses profissionais.
Em uma segunda frente, também programada para o segundo semestre de 2022, os squads que reúnem profissionais da Dasa Educa e da Inspirali já trabalham no desenvolvimento de seis cursos, distribuídos em cinco trilhas de capacitação.
Os temas abordados serão neurologia, oncologia, medicina de urgência, medicina diagnóstica e traumatologia. Os cursos de atualização e pós-graduação serão abertos tanto ao corpo clínico de 18 mil médicos da Dasa e aos alunos da Inspirali quanto a qualquer profissional do setor de saúde.
Ainda dentro dessa segunda onda, as duas empresas planejam o lançamento de um MBA conjunto de gestão e inovação em saúde, que contará com o apoio e a infraestrutura de tecnologia e pesquisa científica do Dasa Inova, braço de inovação da Dasa.
“Nessa ‘linha de montagem’, estamos preparando ainda outros programas de residência médica, fellowships e especializações”, diz Machado. “O fato é que o Brasil vai precisar de 1,4 milhão de médicos até 2040. E, nesse cenário, o mercado vai exigir um profissional com novas competências.”
Como pano de fundo para esse contexto, ele cita questões como a mudança do perfil demográfico do País, com o envelhecimento da população e, por consequência, o maior peso de doenças crônicas e degenerativas no sistema de saúde.
De olho nesse quadro, a aproximação entre a Dasa e a Inspirali prevê novos passos no médio e no longo prazo. Entre eles, iniciativas que combinem carreira e empregabilidade, além de pesquisa clínica e científica.
“A parceria vai ser um ganha ganha”, ressalta Pinto. “A Inspirali vai poder oferecer aos estudantes uma oportunidade de emprego garantida, da entrada na faculdade até o fim da carreira. E a Dasa vai ter acesso a profissionais com habilidades e valores alinhados à sua cultura.”
No caso da Dasa, avaliada em R$ 10,7 bilhões, esse “novo profissional” vai ao encontro do viés de saúde preventiva que o grupo vem imprimindo em sua operação. Isso passa pela distribuição mais racional – e menos custosa - dos pacientes nos diferentes elos do ecossistema que a empresa está construindo.
Já na Ânima Educação, avaliada em R$ 2,2 bilhões, o reforço da oferta da Inspirali posiciona a empresa em uma corrida que, cada vez mais, atrai a atenção tanto dos grupos de educação como dos players de saúde: a disputa pelos tíquetes mais elevados e pela educação continuada na área de medicina.
Sob essas duas óticas, um movimento recente foi o investimento de R$ 700 milhões do Hospital Israelita Albert Einstein em um novo centro de ensino e pesquisa. Com um leque que vai de cursos técnicos até residência médica, a instituição tem, atualmente, mais de 100 mil alunos.
Entre os grupos de saúde, o hospital Sírio-Libanês e a Rede D’Or são outros nomes que mantêm braços de educação e pesquisa, também com uma oferta abrangente de cursos, em diferentes modalidades.
No plano dos grupos de educação, além de companhias especializadas no ensino médico, como a Afya, a Cogna é uma das empresas que estão dando mais foco a essa área, por meio da Kroton Med, unidade de negócios lançada recentemente e totalmente dedicada aos cursos de medicina e saúde.