Na época em que esteve no time da PlayKids, da Movile, o empreendedor Breno Masi ajudou a companhia a entrar no multibilionário mercado de games com a Afterverse, uma célula de inovação da empresa que desenvolveu dois jogos: o Crafty Lands, inspirado no Minecraft, da Microsoft, e o PK XD, um metaverso para ser explorado por crianças de oito até 13 anos.
Quando a PlayKids foi vendida para a britânica Sandbox, em uma transação de valor não revelado que envolveu dinheiro e ações no começo deste ano, uma das condições era manter o estúdio de games nas mãos da Movile, que é também dona do iFood, da Sympla e tem uma participação na fintech Zoop.
O spin-off da Afterverse foi feito antes da transação e o motivo de ficar de fora do negócio era simples: uma escala gigante. Nos melhores momentos de 2021, os dois jogos atingiram 50 milhões de usuários mensais, com picos de até 6 milhões diários – mais da metade desses gamers são de fora do Brasil. “É mais do que a população de muitos países”, diz Masi, que se tornou o CEO e fundador da Afterverse, ao NeoFeed.
Agora, a Afterverse se prepara para um novo salto. A companha contratou o banco UBS para buscar um sócio estratégico à operação. O estúdio de games na Movile está também perto de lançar o seu terceiro jogo para expandir o metaverso da Afterverse para um público “mais velho”.
O novo jogo faz parte da estratégia para atingir uma meta ambiciosa: 100 milhões de usuários mensais. No cronograma de Masi, esse número pode ser alcançado em até três anos. Com um parceiro estratégico, o fundador da Afterverse acredita que pode encurtar esse objetivo para até dois anos. “Preciso dar esse passo e um parceiro estratégico vai me poupar tempo”, afirma Masi.
O UBS já está na rua, mostrando o “deck” da Afterverse para possíveis interessados. O plano é ter um sócio que traga mais do que capital – a Movile e a Prosus (antiga Naspers) são sócias majoritárias da Afterverse e já cumprem essa função.
O objetivo é encontrar alguém da área de games que possa acelerar a distribuição dos jogos da empresa, que são distribuídos majoritariamente para celulares. “Eu posso fazer sozinho, mas um parceiro é o atalho dos campeões”, diz Masi.
A busca de um sócio acontece em um momento em que o mercado está retraído e que novos negócios estão sendo olhados com lupa por investidores e empresas. Masi sabe disso. Tanto que tomou medidas para enfrentar esse cenário. Uma delas é antecipar o break even da Afterverse para o fim deste ano. Antes, o equilíbrio financeiro seria alcançado mais a frente.
Para equilibrar as contas, as contratações estão também sendo desaceleradas. O braço de games da Movile saiu de oito pessoas, em 2019, quando era uma célula de inovação da PlayKids, para 270. Há, no momento, 10 vagas abertas e elas são estratégicas, ou substituições por conta do turnover.
A Afterverse aposta no modelo freemium, ganhando dinheiro de três formas. A principal delas é a venda de itens dentro do aplicativo. Nesta modalidade, o jogador compra uma casa, um objeto, uma roupa ou uma armadura de um personagem. A publicidade faz parte também das fontes de receitas, assim como as parcerias com empresas, que expõem suas marcas no game.
A mais recente parceria aconteceu nesta semana com a L.O.L Surprise, as mini bonecas da MGA Entertainment que se tornaram uma febre com o púbico infantil. No PK XD, elas estarão disponíveis em 16 produtos exclusivos que podem ser comprados com preços que começam em R$ 4,90 e podem chegar até R$ 39,90.
Esse tipo de ação, de acordo com Masi, vai ficar mais comum a partir do terceiro jogo da Afterverse, que será lançado em setembro deste ano em sua versão beta. Sobre ele, o empreendedor guarda segredo e dá poucas pistas. Diz apenas que será voltado para um púbico que vai além da adolescência e que vai unir pais e filhos. “Será um metaverso para a família”, afirma Masi.
Mercado bilionário
A indústria global de games movimentou US$ 175,8 bilhões em 2021, de acordo com dados preliminares da consultoria Newzoo. O Brasil representou US$ 2,3 bilhões deste total, o maior da volume da América Latina e o 13º do mundo.
No Brasil, o celular é o dispositivo preferido para jogar por 83% dos consumidores, segundo a pesquisa “O mundo dos games”, da Kantar Ibope Media. Em seguida vem os consoles (47%) e PCs (43%) - a soma é maior do que 100% pois um gamer pode jogar em mais de uma plataforma. O tempo médio diário dos jogadores brasileiros é de 2h30min, o sexto maior do mundo.
O que tem chamado a atenção do mundo, no entanto, não é apenas o potencial de jogadores que existe no Brasil, o que faz do país, por si só, um imenso mercado consumidor. Mas sim os estúdios que desenvolvem games, que passaram a ser alvo de grandes empresas globais do setor.
O Brasil movimentou US$ 2,3 bilhões em games em 2021, o maior da volume da América Latina e o 13º do mundo
“Estamos no hot spot do mundo”, diz Rodrigo Terra, presidente da Abragames, a associação que representa as empresas do setor. “Existe uma crise de talentos para trabalhar no desenvolvimento de jogos e a América Latina é um celeiro criativo.”
Em março deste ano, a brasileira Oktagon Games foi comprada, por valor não revelado, pela americana Fortis, uma empresa global formada por veteranos de companhias de games, como Zynga, Electronic Arts, WB Games e Smule.
Fundada por Ronaldo Cruz, em Londrina, no interior do Paraná, em 2008, a Oktagon Games é desenvolvedora de jogos mobile e conta com 92 funcionários. O seu game mais famoso é o Magic Puzzle Quest.
Outro negócio que movimentou o setor foi a compra de uma fatia da gaúcha Aquiris Game Studios pela Epic Games, dona do Fortnite, em abril deste ano. Com o investimento, cujo valor não foi revelado, as empresas firmaram um acordo para publicação de jogos multiplataformas. Os dois principais títulos da Aquiris são Wonderbox e Horizon Chase.
Além disso, o Brasil tem um unicórnio na área de games. É a Wildlife, fundada por Arthur Lazarte, Victor Lazarte e Michael Mac-Vicar, em 2011. A empresa é dona dos games de sucesso Sniper 3D e Tennis Clash e foi avaliada em US$ 3 bilhões em rodadas privadas.
A Afterverse, que não revela o seu faturamento, quer entrar para esse rol. E, quem sabe, se transformar no mais novo unicórnio do portfólio da Movile ao lado do iFood.