Apesar de ainda estar em seus estágios iniciais, o mercado de energia solar já movimenta um volume considerável de recursos. Segundo a consultoria Precedence Research, o setor gerou US$ 197,2 bilhões globalmente em 2021 e tem a previsão de alcançar US$ 211,3 bilhões neste ano.

Hoje, uma parcela substancial dessas cifras está concentrada na Ásia, em especial na China, país que domina amplamente a cadeia de produção de painéis fotovoltaicos. Mas há quem esteja disposto a mudar esse cenário. E a pagar um bom preço por isso.

Nesta terça-feira, 21 de junho, um grupo formado por quatro empresas de energia dos Estados Unidos anunciou a criação do US Solar Buyer Consortium para apoiar o desenvolvimento da cadeia de suprimentos de energia solar no mercado americano e reduzir a dependência asiática.

Para deixar clara essa intenção, o quarteto composto por AES Corp, Clearway Energy Group, Cypress Creek Renewables e DE Shaw Renewable Investments ressaltou que está disposto a investir mais de US$ 6 bilhões em projetos de fabricação local tocados por empresas do setor.

“Nosso compromisso conjunto pode oferecer a certeza que os fornecedores precisam para aumentar a capacidade e superar as restrições atuais da cadeia de suprimentos”, afirmou, em comunicado, David Zwillinger, CEO da DE Shaw Renewable Investments.

O consórcio informou que o montante em questão representa até 7 gigawatts de painéis solares por ano a partir de 2024, o que equivale a mais de um quarto do que os Estados Unidos instalaram em projetos de energia solar no ano passado.

A AES, por exemplo, ressaltou que sua carteira de novos projetos de energia solar no mercado americano envolve 3,4 gigawatts entre 2022 e 2025. No ano passado, os contratos da companhia, que fornece energia dessa matriz para clientes como Amazon e Google, somaram 1,4 gigawatts.

“Hoje, alguns dos principais desenvolvedores de energia solar dos Estados Unidos se uniram para fazer nossa parte para ajudar a atrair investimentos na fabricação de energia solar no país”, disse, em nota, Andrés Gluski, CEO da AES, que também cobrou contrapartidas do governo e do congresso americano.

“É crucial, no entanto, que o governo dos Estados Unidos crie uma política realista e de longo prazo que apoie mais uma abordagem de onshore para a nossa cadeia de fornecimento de painéis solares, sem interromper desnecessariamente o crescimento e o sucesso do nosso setor”, afirmou o executivo.

As quatro empresas também destacaram que, com as políticas necessárias para favorecer o crescimento contínuo desse mercado, a indústria solar tem o potencial de fornecer 40% da energia dos Estados Unidos e empregar até 1,5 milhão de pessoas até 2035.

Nessa direção, o consórcio fez menção às medidas anunciadas no início deste mês pelo governo do presidente Joe Biden. Entre elas, a suspensão das tarifas para a importação de componentes dos painéis solares de quatro países asiáticos – Camboja, Vietnã, Malásia e Tailândia, por um prazo de 24 meses.

No comunicado, as empresas observaram que, embora a iniciativa seja um grande passo, é preciso fazer mais para “aproveitar o progresso da indústria no sentido de fornecer energia limpa, confiável e de baixo custo para famílias e empresas americanas”.

À parte das questões internas, a indústria global de painéis fotovoltaicos também enfrentou desafios recentes na esteira dos problemas e interrupções nas cadeias de suprimento que atingiram diversos segmentos da economia.

Para especialistas ouvidos em reportagem do The Wall Street Journal, apesar da “boa vontade” demonstrada pelo consórcio americano, a produção de painéis no país segue sendo um desafio do ponto de vista de viabilidade econômica.

Com boa parte dos componentes dos painéis produzida na China e no sudeste asiático, os fabricantes americanos terão que investir em uma parcela significativa de itens importados, o que aumentará os custos dos seus equipamentos.

Ao mesmo tempo, esses fornecedores locais terão que competir com rivais de grande porte e que se beneficiam das reduções de custos de suas produções em larga escala. Segundo um relatório do National Renewable Energy Laboratory, produzir painéis nos Estados Unidos é até 40% mais caro do que nesses países asiáticos.

“Esses fabricantes da Ásia têm uma escala muito grande e muito know-how”, afirmou Edurne Zoco, analista de energia solar da S&P Global Commodity Insights, ao jornal americano. Em contrapartida, para ele, os fabricantes americanos “estão muito atrasados”.

Uma das apostas do mercado americano para reduzir essa disparidade nos custos de produção inclui projetos do Partido Democrata, que vem tentando incluir incentivos em um projeto de lei voltado ao setor, com expectativa de ser submetido à aprovação nas próximas semanas.

“Com a legislação pendente no Congresso, os legisladores podem escalar nossa força de trabalho industrial doméstica e restaurar o legado de nosso país como líder industrial”, afirmou Craig Cornelius, CEO da Clearway Energy Group, na nota sobre a formação do consórcio.

Assim como acontece nos Estados Unidos, no Brasil, que acumula uma capacidade de 15,8 gigawatts de energia solar, mais de 95% dos painéis solares são importados, segundo diferentes fontes do setor. A parcela restante é montada no País, por empresas como a chinesa BYD, a partir de componentes vindos da Ásia.